Tentemos construir aqui uma hipótese para as ações: o PMDB deixaria de ser tão importante se o governo conseguisse inflar alguns aliados, mesmo que fossem legendas que primam pelo governismo, fisiologismo e certa inconsistência comportamental. E era exatamente isso que parecia ocorrer - ou ainda parece. O PMDB hoje (16 de março, 22h30 - análise política agora se faz com hora e data), unido em bloco ao frágil PEN, tem apenas 67 deputados federais. Mas dois blocos formados por: 1) PP, PTB, PSC e PHS e; 2) PR, PSD e PROS têm 84 e 83 deputados, respectivamente. Para um governo que precisa de 171 votos para escapar do impeachment na Câmara dos Deputados, negociar com dois agentes que somam 167 é algo que pode indicar que é possível, sim, desistir da parceria com o PMDB e se manter no poder. Bastaria uma redistribuição do poder, algo que demanda habilidade extrema, pouco vista na história recente, e o atendimento a reivindicações que têm sido feitas faz tempo pelo bloco aliado. Para completar, o PTN cresceu assombrosamente e, aliado ao PRB, PT do B e PSL, formou um bloco de 38 parlamentares que, bem agraciado, poderia trazer ainda mais esperança ao governo. Pronto. A análise emperra aqui. Em meio ao transtorno causado por fatos recentes associados à Operação Lava Jato, o PRB desembarcou do governo entregando o Ministério do Esporte. E agora? O hábil Lula conseguirá negociar o apoio dos partidos no Congresso Nacional? Quem? Lula? O camisa 10 do PT teve grampo de conversas que manteve nas últimas semanas com ministros e com a presidente divulgado amplamente no dia da confirmação de seu aceite para assumir a Casa Civil. O governo se defende, os advogados falam em absurdos exagerados da justiça, há possibilidade de uma "justiçocracia" assustando e tudo o mais. Mas uma coisa é fato: o ódio de Lula ao telefone o faz falar demais, disparando contra muitos daqueles com os quais precisaria manter boa relação no Congresso para demonstrar seu imenso potencial. Pior: afirma, em um dos telefonemas, que imagina que está grampeado. E por que fala tanto? Porque o som que se ouve na gravação vem do fígado. E quem age hepaticamente tende a morrer pela boca. A cartada final do governo - que transforma o ex-presidente, no mínimo, em super-ministro e atrela indissociavelmente Lula, Dilma e o PT em uma tentativa de salvar a Presidência - pode ter jogado sobre a própria cabeça o que se costuma chamar de pá de cal. Tempo ainda existe: Dilma vai definhar no poder, sendo possível sonhar que o impeachment seja impedido. Seu rito, de acordo com definição do STF, permite amplo monitoramento das ações dos parlamentares. Mas já não parece possível imaginar que o governo conquiste votos importantes, e controle sua base. Talvez sejam, inclusive, mais visíveis defecções como a do PRB. Será? Bom, diante de tudo o que se verifica na política nos últimos dias, literalmente tudo é possível. Mas anda difícil crer em milagres, sobretudo de quem reza tão pouco. Note: o objetivo deste texto era ser uma análise das relações entre Executivo x Legislativo, mas eis que se tornou uma tentativa de entender a lógica entre Executivo x Judiciário.