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A Ciência Política e um olhar sobre os Legislativos

Conservadorismo, partidos e judiciário: As eleições 2018 em Rondônia

Estado de tradição conservadora na vida política, Rondônia é considerado um território de domínio tucano nas eleições presidenciais. Das sete disputas nacionais após a redemocratização, o PSDB venceu no estado em quatro ocasiões. A despeito do retrospecto favorável, o candidato Geraldo Alckmin (PSDB) não consegue ultrapassar os dois dígitos nas pesquisas eleitorais, lideradas por Jair Bolsonaro (PSL), que possui mais de 1/3 das intenções de votos nas terras rondonienses. No plano estadual, a eleição para o governo vem sendo dominada por Expedito Júnior (PSDB), que lidera as pesquisas com quase o dobro das intenções de votos do segundo colocado. Há, de fato, uma dobradinha, talvez não intencional, do voto em Expedito Júnior e Bolsonaro, votos que naturalmente seriam destinados a Alckmin, mas, ao que tudo indica, migraram para a extrema direita "bolsonarista".

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Por João Paulo Viana
Atualização:

Terra do agronegócio, com um dos maiores eleitorados evangélicos do país desde a década 1980, a formação política de Rondônia ocorre em dois momentos distintos de autoritarismo. Inicialmente, durante a criação do Território Federal do Guaporé, em 1943, sob a égide da ditadura do Estado Novo varguista. Posteriormente, na fundação do Estado em 1982, nos momentos finais da ditadura militar. Essas características contribuem fortemente para explicar o caráter conservador do eleitorado rondoniense, que na atual eleição presidencial vem migrando em grande parte do PSDB para Bolsonaro.

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O voto em Bolsonaro para presidente e em Expedito (PSDB) para o governo é uma realidade, repito, talvez não intencional, ou fruto de uma aliança formal entre ambos, mas que resulta diretamente do caráter conservador do eleitorado no estado.  Com um total de nove candidatos, a disputa para o governo possui ainda dois nomes com maiores probabilidades de levar o pleito ao segundo turno. O senador Acir Gurgacz (PDT), e o deputado estadual Maurão de Carvalho (MDB), atual presidente da Assembleia Legislativa do Estado.

Conforme as últimas pesquisas divulgadas, Acir Gurgacz (PDT), liderança política forte no estado, apresenta queda considerável, tendo em vista concorrer sub-júdice, após sua candidatura ter sido barrada pelo TRE-RO, devido a uma condenação recente do senador pelo STF. Enquanto isso, Maurão de Carvalho, filiado ao MDB, maior e mais tradicional partido do estado, demonstra crescimento que pode levá-lo a um provável segundo turno. Bem verdade, a corrida eleitoral rondoniense poderia ser diferente, se não fosse a condenação de Acir Gurgacz (PDT) pelo STF, no final de 2017.

Como analisam alguns observadores da cena política regional, a condenação do senador pelo STF, além da não candidatura à reeleição do atual governador Daniel Pereira (PSB), aliado de Acir Gurgacz (PDT), foram determinantes para que a eleição, muito provavelmente, "caísse no colo" do tucano Expedito Júnior. Entre os demais candidatos, a surpresa é o professor da Universidade Federal de Rondônia, Vinícius Miguel (REDE). Novato em disputas eleitorais, o advogado, com pós-graduação em Ciência Política e Administração Pública, apresentou crescimento de 4% na última pesquisa divulgada pelo Real Time Big Data/Record.

Na eleição para o Senado, mais de quinze candidatos concorrem a duas vagas. Assim como na corrida ao governo estadual, o judiciário é também um ator importante na disputa à câmara alta do parlamento. Na última sexta-feira, dia 21-09, o TRE-RO, barrou a candidatura da ex-senadora Fátima Cleide (PT). Assim, o caminho ficou aberto para o domínio eleitoral do MDB, com os nomes do ex-governador Confúcio Moura, e do senador Valdir Raupp, também ex-governador do estado, ex-presidente nacional da legenda, e político rondoniense de maior visibilidade nacional.

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Confúcio Moura (MDB) lidera as pesquisas, e até poucos dias atrás a petista Fátima Cleide era considerada favorita à segunda vaga, um pouco à frente de Valdir Raupp (MDB), segundo as sondagens de intenções voto. Não obstante, caso sejam negados os recursos jurídicos à candidatura de Fátima Cleide, a probabilidade de o MDB vencer as duas vagas em disputa é altíssima. Além dos três favoritos citados, o ex-prefeito de Ji-Paraná Jesualdo Pires (PSB), o deputado federal Marcos Rogério (DEM), e o pastor Aluizio Vidal (REDE), ainda estão no jogo.

Num cenário de forte presença do eleitorado "bolsonarista", e provável êxito do MDB na eleição ao senado, o conservadorismo da eleição rondoniense evidencia-se também com uma vitória tucana ao governo do estado. Caso se confirme os prognósticos das pesquisas, Rondônia será um novo "tucanistão", com a capital e o governo estadual sob o comando do PSDB. Inversamente, e ironicamente, o mesmo PSDB não consegue alcançar dois dígitos do eleitorado rondoniano na eleição presidencial.