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A Ciência Política e um olhar sobre os Legislativos

As emendas parlamentares como artifício de representação política

Cercado de complexidade técnica, as emendas são um dispositivo legal que garante aos parlamentares gerenciar parte dos recursos do orçamento público, se tornando um atrativo a mais na disputa pelo voto. Para se ter uma ideia, durante o ano eleitoral de 2016 cada deputado contou com até R$ 15,3 milhões em emendas individuais direcionadas aos seus redutos eleitorais.

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Por Cláudio André de Souza
Atualização:

De acordo com os §§ 9º e 11 do art. 166 da Constituição Federal, é obrigatória a execução orçamentária e financeira das dotações decorrentes de emendas individuais, uma forma de representar politicamente os interesses dos prefeitos e grupos locais nos municípios. Na prática, as emendas asseguram a força dos prefeitos na eleição dos deputados federais nas regiões de cada estado.

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Com o fim do financiamento empresarial das campanhas, as emendas ganharam uma vasta importância na montagem das estratégias políticas, na distribuição de recursos ordinários para o dia a dia da população, gerando uma visibilidade pública e institucional na relação entre representantes e representados.

Uma passagem rápida nas redes sociais de parlamentares de diferentes partidos e veremos o quanto as emendas se tornaram uma "peça publicitária" e artifício de representação política, elevando a sua importância no caça pelos votos, através da ideia de que os deputados estão empenhados em conseguir recursos para as suas bases eleitorais. O Deputado baiano Arthur Maia (DEM), por exemplo, já iniciou a sua campanha nas redes sociais, destacando uma emenda feita para o município de Santo Amaro. São várias postagens com o intuito de apresentar ao eleitor o trabalho feito por parte dos deputados na alocação de recursos financeiros nos municípios em que possuem base eleitoral. As emendas ajudam a propagar a imagem de que os deputados são "despachantes" do prefeito e do executivo, diminuindo a percepção das suas funções legislativas.

Diante do protagonismo das emendas nestas eleições - que foram usadas como barganha política para a manutenção de Temer à frente da presidência em dois episódios relacionados à denúncia oferecida ao Congresso pela Procuradoria Geral da República (PGR) - o Departamento Intersindical de Assessoramento Parlamentar (DIAP) aponta a tendência de uma pequena renovação na Câmara nestas eleições, talvez abaixo dos 40%, segundo o cientista político Antônio Augusto de Queiroz, diretor do Diap, em razão da maior quantidade de parlamentares em situação de reeleição e as vantagens que os políticos com mandato possuem, entre elas, a alocação de emendas parlamentares nos municípios onde possuem base eleitoral.

A estratégia das emendas como forma de representação política e eleitoral levou um grupo de deputados paulistas a cobrar o aumento da verba com a proposta de emenda à Constituição (PEC) apresentada no início da abril deste ano pelo deputado Jorge Caruso (PMDB) e conta com 46 apoiadores - ao todo, a Casa tem 94 deputados, segundo matéria do Estadão. Atualmente, a Constituição garante aos parlamentares uma cota de emendas no orçamento de 0,3% da receita corrente líquida do Estado no ano anterior. Hoje, o valor equivale a cerca de R$ 4,5 milhões por deputado. A proposta é elevar essa cota para 0,6% da receita a partir do ano que vem, aumentando o valor das emendas individuais para R$ 9 milhões.

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Diante da montagem de sondagens em torno da intenção de voto, seria fortuita a iniciativa de pesquisas de opinião que buscassem compreender o que levam os eleitores a decidir o seu voto para deputado federal, em especial, nos pequenos e médios municípios, logo, o peso das emendas na conformação de um perfil de "deputados executivos" aos olhos dos eleitores. As emendas serão um cabo eleitoral de peso para os deputados que buscam a reeleição.

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