Tudo bem que a pesquisa foi feita na esteira da comoção causada pela morte de Campos, que acabou de certa maneira mitificado por parte da imprensa - no geral, a cobertura televisiva sobre a morte do ex-governador de Pernambuco deixou de lado pontos polêmicos de sua atuação como político e destacou os positivos. A tendência é que, com o passar das semanas, esse clima de emoção se arrefeça, e o eleitor faça uma reflexão um pouco mais fria sobre sua intenção de voto. As campanhas do PT e do PSDB trabalham (e torcem) com essa hipótese.
Mas, independentemente, de como o eleitor reagirá nos próximos dias, tucanos e petistas não querem dormir no ponto e já debatem a maneira como "desconstruirão" a candidatura da adversária. Se quiser chegar ao segundo turno, Aécio precisa avançar em cima da intenção de voto da candidata, capturando parte dos nulos e indecisos que migraram para Marina. Também precisa evitar que o clima positivo em torno da candidata da chapa do PSB atraia aliados que fazem oposição a Dilma, tornando sua campanha raquítica pelo País.
Já do lado petista parece melhor para Dilma enfrentar Aécio do que Marina num segundo turno. O PT acha que consegue vencer o PSDB no País, como faz desde 2002. Marina no segundo turno é uma variável imponderável. Para os petistas, melhor trabalhar com o conhecido, ou seja, com os tucanos como adversários.
Tanto do lado petista como do tucano essa tentativa de desconstrução prevê não bater de frente com Marina, mas tentar convencer o eleitor de que ela não está preparada para ocupar a Presidência e que uma eventual vitória da candidata pode trazer riscos institucionais para o País. Para isso funcionar, terão de contar com certa habilidade na retórica eleitoral. Dizem que não poderão atacar diretamente Marina, que é a herdeira desse clima de comoção e que afirma ter sido "providência divina" não estar no jatinho com Campos. Mas tentarão colar nela o rótulo de que "não está preparada" para governar apontando o que consideram fragilidades da candidata, como posições ultrapassadas sobre determinados pontos da agenda pública e uma postura política pouco conciliadora.
Nessa seara, os tucanos podem dar uma mão para o PT. Os motes da "falta de preparo" e do "risco para o País" foram usados tanto na campanha de 2002, contra Lula, como na de 2010, contra Dilma. Na ocasião, José Serra era apresentado para o eleitor como "o mais preparado para ser presidente da República". O problema é que não funcionou.