Parece que hoje assistimos a cenário parecido. Com a diferença de que, agora, quem autoriza o "cavalo de pau" foi justamente quem criou a situação para que ele fosse necessário, a presidente Dilma Rousseff. A eleição de 2014 e o susto pelo qual o PT passou com a possibilidade de perder a cadeira presidencial deram uma sacudida em Dilma, que ouviu setores do governo e do próprio partido, como Lula, e fez uma sinalização ao mercado com a escolha de uma nova equipe econômica. O anúncio de Joaquim Levy como ministro da Fazenda é o recibo mais claro de que Dilma entendeu o recado.
Apesar de assessores presidenciais, como Gilberto Carvalho (Secretaria Geral), que em breve deve dizer adeus ao Planalto, dizerem que Levy "vai aderir à filosofia" do governo, tudo indica que o novo ministro da Fazenda vai, na verdade, tentar imprimir "nova filosofia" ao governo. Levy já se antecipou e disse hoje que a melhora nas contas públicas é prioridade e que o superávit primário deverá ser 1,2% em 2015 e no mínimo 2% nos anos seguintes. Uma tentativa de resgatar a credibilidade perdida.
Embora haja, de fato, diferenças de formação econômica, Dilma escolheu Levy porque sabe que a hora é de mudança - e ele aceitou a missão para fazer a mudança. A questão agora é saber até aonde Dilma vai contra sua natureza. Conseguirá controlar seu desejo de ditar os rumos da economia e aceitará medidas propostas pelo time que entra? Não esqueçamos que em 2005 ela chamou de "rudimentar" o ajuste fiscal de longo prazo proposto pela equipe econômica da qual Levy fazia parte. Que ela está decidida, parece que sim. Que vai conseguir, são outros quinhentos.
O fato é que arrumar a casa antes para colher os frutos depois, em ano de eleição, é exatamente o que o PT fez no primeiro mandato de Lula. A reedição do "cavalo de pau" na economia atende ao projeto político do PT em 2018, seja com Lula, seja com qualquer outro nome. E Dilma sabe disso.