O governo desconhece a recente pesquisa que registra o repúdio de 90% da população carioca ao uso de máscaras, o que remete à indagação sobre para qual minoria endereça o projeto com o qual pretende conter a violência nas ruas.
Além de preservar o principal poder de blindagem da minoria radical que se infiltra nos protestos para inviabilizá-lo, o governo planta a semente do estímulo à violência durante a Copa do Mundo, em contraste com a preocupação que diz ter a respeito dessa possibilidade.
Não há razão para que se tolere o anonimato dos que depredam bens públicos, atacam inocentes eprovocam mortes. Na Internet esse anonimato mata reputações, e é tolerado, mas nas ruas tira vidas.
O ministro deve uma explicação melhor do que já deu para justificar sua recusa quanto à proibição de máscaras, regra que vigora nas principais democracias do mudo. Até aqui, ele disse apenas que é "muito complicado" proibi-las.
Quer que o policial solicite ao vândalo que interrompa sua ação predatória para pedir que se identifique, o que significa desdenhar do diagnóstico da secretaria de Segurança do Rio de que a máscara é sério obstáculo ao controle da violência.
Considerado o levantamento que o leva a crer que os protestos durante a Copa manterão os padrões de violência atuais (os black blocs já avisaram disso), o governo deveria estar debruçado numa ação emergencial que não se restrinja a estratégias policiais.
A urgência de uma ação preventiva a quatro meses da Copa deveria desestimular debates intermináveis sobre anonimato de meliantes. Um passo decisivo é justamente extinguir a garantia de anonimato aos que promovem a violência.
Segundo quem lida com a violência diretamente, caso do secretário de Segurança do Rio, José Beltrame, o fim do anonimato, a proibição do porte de armamento de qualquer espécie e o conhecimento prévio da manifestação pelo governo, são três medidas indispensáveis à eficiência no controle da violência - sem dela fazer uso.
Essas medidas tipificam o que a Constituição já estabelece, mas não regulamenta. Tanto mais apropriadas, portanto, do que reiventar a roda ou discutir a vinculação partidária ou ideológica de quem vai à rua. Se for pacificamente, nada a temer. Se for para produzir violência, que pelo menos não possa cobrir o rosto.