A possibilidade da candidatura de Lula o mantém na cena da disputa em que hoje figura como cabo eleitoral e principal articulador político da reeleição de Dilma Rousseff. Como vem sendo alimentada, paira como uma ameaça à oposição.
Aécio retira o movimento como ameaça ao declarar tanto fazer uma quanto outra candidatura, se o que está em jogo é a revogação do modelo - ideologicamente intervencionista e administrativamente gerador de maus resultados.
Despersonaliza a disputa e, ao fazê-lo, investe contra a polaridade PSDB/PT que marca, há duas décadas, as eleições presidenciais brasileiras. A disputa agora é pela defesa de um novo modelo e a revogação de outro que dá sinais de esgotamento.
O discurso agrada aos mercados empresarial, financeiro e político, porque agrega ao elevar a proposta de campanha para o debate de ideias e de programas. Mas precisa chegar ao eleitor, cujo comportamento histórico, pela dispersão, é muito mais sintonizado com a eleição personalista.
No Brasil vota-se em pessoas, minimizando o vínculo partidário, o que comprova o aparente paradoxo de um PT vencido pelo desgaste do poder, mas forte eleitoralmente, o que pode ser debitado à liderança carismática de Lula.
Tentar trazer a campanha para o debate do modelo é, portanto, salutar, antes de qualquer outra avaliação. É, porém, um discurso a ser repisado para consolidar-se e, necessariamente, seu êxito está atrelado à companhia de um programa capaz de respaldá-lo e estabelecer uma relação de causa e efeito.
A proposta de Aécio o alcança num momento em que os erros políticos sucessivos do governo abriram espaço para que a estratégia de ganhar visibilidade - prevista e concentrada apenas no período da propaganda eleitoral na televisão -, fosse antecipada.
O principal escorregão do governo foi no caso da polêmica compra da refinaria de Pasadena, pela Petrobrás, que gerou a CPI com o nome da empresa, que pode ainda ter seu objetivo ampliado.
Ainda que ampliada, com investigações potencialmente danosas também para a oposição, o caso deu grande visibilidade ao senador mineiro, desde que a presidente Dilma Rousseff se disse ludibriada para aprovar a operação, colocando a diretoria da Petrobrás sob suspeita.
Aécio protagonizou a cena política e eleitoral, contrapondo a imagem anêmica de sua conduta no Congresso a uma atitude agressiva medida, mas enérgica, que certamente lhe dá, nesse momento, uma dianteira em relação ao seu rival e aliado, Eduardo Campos.
Nada disso é definitivo, até porque Campos ainda projeta uma exposição grande com o lançamento de sua chapa com a ex-senadora Marina Silva, estimada para o fim dessa quinzena, que lhe proporcionará todos os holofotes.
Nessa etapa da pré-campanha, o conjunto mostra um governo em baixa - com queda do índice de aprovação e dificuldades à frente na economia e na política - e uma oposição que se reveza no protagonismo da cena.
Esses movimentos já devem gerar alterações nas próximas pesquisas, embora estas, até que se inicie o horário eleitoral no rádio e na televisão, sirvam apenas para mapear as áreas de insatisfação do eleitor, em cuja pauta a eleição apenas começa a entrar.