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Marina busca credibilidade no setor econômico

A princípio, o raciocínio de que a companhia de Marina Silva faz Eduardo Campos perder para Aécio Neves a preferência do empresariado que ambos cativaram com a troca de visões da economia, tem sua lógica, na medida em que a ex-ministra  de Lula ainda tem sua imagem junto a esse segmento associada à obstrução ao desenvolvimento.

Por João Bosco Rabello
Atualização:

A exigência do cumprimento das regras ambientais, cuja frustração a tirou do ministério do meio-ambiente de Lula, na avaliação do mercado, teria ultrapassado a fronteira do rigor para o território da intransigência e, ao invés de garantir progresso com preservação, virou sinônimo de empecilho ao crescimento.

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Sua obsessão no combate ao agronegócio agravou essa imagem, não totalmente incorreta ou injusta. Eleger um setor para demonizar, especialmente quando este responde pela parte mais substancial do PIB, não sugere abertura ao entendimento, notadamente quando ignora o esforço de cúpulas para modernizar a produção.

Pelo que noticiam os jornais, Marina parece ter acordado para a necessidade de desfazer essa imagem e procurar a conciliação de posições junto aos empresários que movem a economia. A uma centena deles, mais agentes do mercado financeiro, defendeu a volta do tripé que caracterizou o governo de Fernando Henrique Cardoso - superávits primários nas contas públicas, metas de inflação e câmbio flutuante.

A receita, mantida por Lula, foi relativizada por Dilma em favor de mais crescimento e responde pelo afastamento dos investidores e as consequentes dificuldades de seu governo na economia. Por isso, a urgência da ex-ministra em começar seu ciclo em parceria com Campos pelos representantes do PIB nacional.

O discurso de Marina, o mesmo de Campos e Aécio, explora essa insatisfação, é sinfonia aos ouvidos dos investidores e ajuda a manter a desconfiança em relação à gestão Dilma, cujos acenos de respeito ao modelo anterior têm a sinceridade traída pela convicção indisfarçável em sentido contrário.

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Para os empresários, a economia está ideologizada no governo Dilma e até aqui nada os fez acreditar que isso mudará. Mais fácil parece o compromisso de Marina já que a defesa do meio-ambiente não se traduz por uma barreira anticapitalista, desde que exercida em bases sóbrias.

A política de campões nacionais para as parcerias com o BNDES, também não passaram em branco no discurso da ex-ministra, não só como política discricionária e nociva ao ambiente competitivo, mas também pela falta de transparência que a caracteriza.

Uma síntese do problema de Dilma no esforço para restaurar a confiança perdida, na visão de experiente e importante liderança peemedebista, é a percepção geral de que o país hoje tem três forças numa só, mas distintas entre si: Lula, Dilma e o PT.

Os dois primeiros estariam acima do terceiro, mas só o ex-presidente exerce efetiva liderança sobre o partido, o que lhe permitiu governar para capitalistas com um discurso socialista , antídoto para o que chamava, ainda no cargo, de "usina de utopias", referindo-se às conferências do PT que aparentemente ameaçavam o modelo político e econômico.

Essa distinção, real para 10 entre 10 parlamentares - o que a torna suprapartidária -, é o que explica a nostalgia de empreendedores que lucraram na gestão Lula e a decisão do governador de Pernambuco de condicionar sua candidatura à volta do ex-presidente  como candidato.

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A crítica à condução da economia e à gestão ineficiente do governo Dilma foi adotado por Eduardo Campos desde que anunciou sua dissidência e levada pelo governador a vários fóruns empresariais, o que hoje o faz fiador da adesão de Marina ao discurso, facilitando sua credibilidade como parte do conteúdo da chapa presidencial que formam.

É uma nova etapa que obrigará Aécio a também reiterar seu diagnóstico de país - e propostas de caminhos para a retomada do crescimento - junto a esse segmento no qual investiu antes mesmo de Campos e que divide suas preferências entre ambos.

 

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