João Bosco Rabello
08 de abril de 2014 | 08h00
A tentativa do presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Neri, de atribuir a uma fatalidade o erro na divulgação de pesquisa que mobilizou o país, não foi a melhor saída para reduzir o desgaste com o episódio.
Talvez seja a que lhe restou, tal a magnitude do erro, que flagra o instituto operando fora de seu foco, crítica que Neri também rejeita. Mas ele precisa explicar o que fazia o Ipea ao pesquisar a opinião dos brasileiros sobre tema importante, porém fora do foco econômico que dá nome ao instituto.
Sua defesa da atuação prioritária na área social pode ser um dado a explicar a reação de ex-presidentes do instituto, pelo redirecionamento que sugere estar em curso na sua gestão. O argumento de que os institutos privados não teriam a mesma excelência na aplicação de pesquisas nessa área, morre no erro que tenta justificar.
Fiel à máxima de que a melhor defesa é o ataque, é agressivo ao sustentar que há pessoas tentando jogar a instituição no lixo, como disse ao jornal O Globo,remetendo o problema produzido pelo próprio Ipea ao exotismo janista das forças ocultas.
É a teoria da conspiração estendida ao Ipea, curiosamente quando o instituto comete um erro primário que gerou uma distorção do pensamento médio brasileiro sobre a questão do estupro.
Ainda que os 26% que culpam as mulheres pela violência sexual de que são vítimas, sejam significativos, não são a mesma coisa que 76%. A começar pela constatação de que uma ampla maioria se solidariza com as vítimas enquanto uma minoria ainda insiste em culpá-las.
O Ipea é um retrato das matrizes novas que o PT impõe aos processos públicos, como o fez na economia, à revelia do interesse da sociedade. No momento em que a economia vai tão mal, natural seria que o instituto estivesse direcionando seus recursos humanos para contribuir com a melhora nessa área, razão de sua existência e na raiz de sua origem.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.