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Fim de um ciclo militar

A demissão do general Maynard Marques de Santa Rosa da chefia do Departamento de Pessoal do Exército reveste-se de importante simbolismo que torna secundária sua motivação disciplinar.

Por João Bosco Rabello
Atualização:

 Foto: Estadão

Uma década depois de sua criação e no sexto ministro de fora da caserna, pode-se dizer que o Ministério da Defesa consolida o processo que o inspirou, de submissão das Forças Armadas ao Poder Civil.

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Não foi fácil, nem simples, mudar o conceito de independência arraigada nas Forças Armadas Brasileiras após duas décadas de ditadura, cujos estertores foram além da posse do primeiro governo civil, o de José Sarney, iniciado em 84.

Criado em 99 no governo de Fernando Henrique Cardoso, é mais um projeto que se consolida no governo atual, reforçando sua característica de continuidade, que o modelo econômico já comprovou.

À exceção do advogado Geraldo Quintão, nenhum antecessor de Jobim esquentou a cadeira por muito tempo. Todos caíram por rejeição da Tropa ou por acusações de irregularidades.

O primeiro deles, o senador Élcio Álvares, causou profunda irritação nos militares ao dar espaço de poder a uma mulher, a sua secretária pessoal. Logo, logo, trataram de pôr sob suspeita casos defendidos pelo seu escritório de advocacia no Espírito Santo.

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Seu sucessor, Geraldo Quintão, ficou dois anos no cargo, mais por manter as decisões internas nas mãos dos militares do que por outros méritos.

Na sequência, o diplomata José Viegas também experimentou a rejeição. Foi apeado do cargo sob denúncia de favorecimento à Rússia na negociação da compra dos caças, que até hoje não se concluiu (a novela é antiga).

O vice-presidente José Alencar foi o segundo na gestão Lula e sua passagem, também breve, serviu apenas para acalmar os ânimos nas três Forças.

Foi sucedido pelo mais pífio de todos, Waldir Pires, catapultado pelo apagão da crise aérea.

Jobim fecha o ciclo com a implantação do orçamento único, centralização do planejamento e da decisão estratégica e comando efetivo da autoridade civil.

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A manifestação pessoal do general Maynard, à revelia do seu comandante - embora por condenar o inoportuno e desnecessário Plano Nacional de Direitos Humanos -, tornou-se inevitável.

E materializou o fim de um ciclo militar na política.

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