João Bosco Rabello
07 de junho de 2011 | 20h21
A saída do ministro Antonio Palocci, tal como se deu – após parecer técnico pela não investigação dos fatos – sugere que o governo espera cessar apurações posteriores sobre seu enriquecimento como consultor.
Até a manifestação de Gurgel, o Planalto temia que a demissão ocorresse com uma investigação aberta, o que não tiraria a crise de cima do governo, mesmo com Palocci fora.
O parecer jurídico favorável manteve a crise na órbita política, o que aparentemente se resolve com a demissão.
Do contrário, restaria sempre o temor de que em algum momento aparecesse algum cruzamento entre clientes do ministro-consultor e empresas doadoras da campanha presidencial.
Da parte de PMDB e PT, principais partidos da base de sustentação, certamente cessa a motivação de continuar a apurar e vazar informações sobre a consultoria do ministro.
Mas da parte da oposição, essa motivação pode aumentar com Palocci de fora. A oposição em momento algum exibiu vontade de contribuir para a queda de Palocci, a quem sempre viu como poder moderador entre as correntes do PT.
Cumpriu o ritual do discurso, mas sem ação prática. A exceção foi de parte da bancada ruralista ainda ressentida com a quebra do acordo na votação do Código Florestal que acabou conseguindo aprovar a convocação do chefe da Casa Civil.
Com ele de fora, pode se interessar em levar adiante o que efetivamente ocorreu em sua consultoria para ver se novamente a vincula ao governo.
Vale lembrar que existe uma investigação paralela do Ministério Público para averiguar se Palocci cometeu improbidade administrativa.
A demissão elimina a convocação do agora ex-ministro à Câmara, que foi aprovada com ele no cargo, mas não é o único ambiente em que as apurações podem ter curso.
A demora na reação do governo pode ter comprometido a estratégia de encerrar o assunto com a demissão do ministro.
Foram três semanas de sangria até as entrevistas que tiveram apenas o objetivo de fazer com que Palocci assumisse publicamente a exclusiva responsabilidade pela crise.
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