Decisão de Rosa Weber acua o governo

A decisão da ministra Rosa Weber, pela CPI exclusiva da Petrobrás, pode não representar, por si só, garantia de sua instalação automática, já que o governo é ostensivo na estratégia protelatória. Mas é um duro revés para o Palácio do Planalto com efeito político imediato.

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Por João Bosco Rabello
Atualização:

A decisão de Rosa Weber ocorre em meio a uma sucessão de escândalos que parecem alcançar uma periodicidade diária. Nos jornais de hoje, além da decisão da ministra, mais fatos conspiram a favor da CPI.

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É gravíssima a manchete do jornal o Globo, com a revelação de que auditoria da Petrobrás encontrou saque de U$ 10 milhões sem registro e sem autorização foral. E ainda sem identificação do sacador.

O episódio, apenas um que vaza da auditoria interna, mostra a que ponto de descontrole chegou o esquema montado provavelmente para financiamento político, suspeita apoiada nos altos valores movimentados por um comando paralelo na empresa.

No mesmo dia, o Ministério Público  denunciou o ex-diretor Paulo Roberto Costa, e a Justiça aceitou denúncia contra o doleiro Alberto Yousseff, que formavam uma dupla para desviar e lavar dinheiro.

Na Câmara, o PT mantém uma pressão patética pela renúncia do ex-vice-presidente da Casa, André Vargas (PR), flagrado exatamente com Yousseff, em operação irregular no Ministério da Saúde em favor de uma empresa de fachada.

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Elos de uma corrente vão se fechando justificando a CPI, agora legitimada por decisão judicial, buscada pelos próprios congressistas, o que torna constrangedor o argumento do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) de que o Supremo Tribunal Federal feriu a independência entre os poderes.

A decisão da ministra Rosa permite a instalação imediata da CPI, pois o recurso ao plenário do STF, como anuncia o governo, não gera o efeito suspensivo. Porém, a base aliada pode buscar recursos protelatórios, a começar pela demora na indicação dos integrantes do governo na CPI.

Mas o que vem á tona em relação à Petrobrás, a conta-gotas já é mais do que suficiente para atestar a legitimidade da comissão, pois são fatos que teimam em desmantelar as trincheiras em que o governo se protege do tiroteio.

Já está claro que não são os mensageiros que informam os desmandos na empresa os responsáveis pelos danos que a rebaixaram à 120ª posição no ranking mundial. Mas personagens que começam a ser identificados - alguns já indiciados como réus e que tinham amplo trânsito no governo do PT.

Igualmente perde a valia a acusação de que a CPI é eleitoreira. Se produz danos eleitorais, principalmente para a reeleição da presidente Dilma Rousseff, é efeito colateral que não pode se sobrepor ao interesse público, a essa altura já bastante claro pela CPI.

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O governo construiu a teia de problemas em que está enredado e, dessa vez, não há teoria conspiratória sustentável para evitar as investigações. Muito embora, agora o presidente do Senado recorra ao método do PT de condenar o Judiciário pelo que deu causa.

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