Crescimento anabolizado

O crescimento registrado por Marina Silva na primeira pesquisa após a morte de Eduardo Campos não pode ser vinculada apenas à sua nova condição de candidata do PSB. O impacto da tragédia deu mais visibilidade à terceira via que ela e Campos encarnavam, mas que ainda não era conhecida da maioria da população.

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Por João Bosco Rabello
Atualização:

Boa parcela do eleitorado não vinculava Campos a Marina, o que explicava a lenta transferência dos votos da ex-senadora em 2010 para seu companheiro de chapa. Campos morreu com 8% de intenção de votos na pesquisa Datafolha anterior à tragédia aérea.

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Mas uma pesquisa tracking, por telefone, feita pelos partidos no dia seguinte à entrevista de Campos ao Jornal Nacional, registrou um crescimento da candidatura de 6 pontos - ou seja, ele pulou dos 8% para 14%.

O ex-governador chegou a comemorar sua performance na entrevista, que confirmou a importância da televisão para torná-lo mais conhecido e, por extensão, seu vínculo com Marina. Certamente, a candidatura do PSB tinha bastante espaço para consolidar-se como terceira via, o que o acidente talvez apresse.

Diz a pesquisa de hoje que o número de indecisos diminuiu em 5%, mesmo porcentual de queda dos votos brancos e nulos, o que confirma a migração desses eleitores para o PSB, já que Marina somou aos 8% de Campos os 10% resultantes da queda desses índices. Ela soma agora 21% , pouco mais que não prejudica a conta.

A televisão como meio de ampliar a visibilidade do ex-governador e de sua chapa como terceira via ainda ia ser utilizada. O JN foi uma prévia da repercussão desse meio de comunicação, que prosseguiria a partir de amanhã, 19, quando tem início a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão.

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Por isso, é preciso aguardar que se dissipe o clima de comoção, para que se avalie a tendência do eleitor já numa fase mais reflexiva. Por ora, os 21% registrados pelo Datafolha na pesquisa anunciada hoje poderiam, em tese, ser alcançados por Campos após a entrevista ao Jornal Nacional. O tracking do partido indica essa possibilidade.

É provável que Marina cresça ainda mais, somando ao patrimônio eleitoral que já possui - e que se admite como o mesmo de 2010, de 20% -, ao clima de comoção provocado pela tragédia. Se assim for, pelas próximas duas semanas, ela será notícia pelo crescimento que pode chegar aos 27% ou 30%.

A partir daí é que será possível ver se esse porcentual sofre desidratação própria dos crescimentos provocados por ações externas à campanha - no caso, a tragédia -, ou se firma como realidade eleitoral. Nesse caso, o mais provável é que as três candidaturas se nivelem, considerando a tendência de crescimento de Aécio Neves, com a mesma televisão que serviria a Campos, transformando o primeiro turno numa incógnita.

Marina ainda precisará cumprir etapas necessárias para que sua campanha não fique em definições genéricas embaladas pela emoção política que passou a contaminar o cenário eleitoral. Agregar as correntes internas de PSB e Rede, sobretudo para que os acordos regionais deixados por Campos não se desintegrem, e alinhar o programa a ser anunciado estão entre essas providências.

A candidatura tucana está sedimentada em acordos regionais consistentes e o mesmo se faz necessário ao PSB. Em São Paulo, por exemplo, Marina havia proibido sua foto em campanha do governador Geraldo Alckmin, aliado ao PSB.

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Trata-se do maior colégio eleitoral brasileiro, decisivo para a sorte de qualquer candidato. Em outros Estados, onde o agronegócio é visto como bom para o país, a ex-senadora teria que se desdobrar para não perder o apoio de candidatos líderes nas pesquisas com os quais o PSB se coligou.

Essa adaptação de Marina ao PSB é que terá no vice do partido, a ser escolhido até quarta-feira, personagem decisivo. É esse nome que terá a missão de substituir Campos na interlocução com a ex-senadora e sua Rede Sustentabilidade, para que a estratégia eleitoral se consolide.

Sob esse aspecto, a aliança entre PSB e Rede nunca foi tão pragmática, embora seus criadores - Campos e Marina - a sonhassem programática. Esse contexto é reforçado pela perspectiva de saída de Marina, eleita ou não, para o seu partido, que deverá obter registro formal após as eleições de outubro.

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