É tudo o que o governo teme no campo econômico, onde o debate ainda se desenvolve em bases acadêmicas, que não tocam o contribuinte. É quando a inflação mostra todo o risco embutido para quem lhe reduz a importância, pois através dela é que os preços afetam o consumidor e arruína mandatos.
Se o governo ainda consegue conter os efeitos da economia no cotidiano do cidadão, numa corrida contra o relógio até outubro, o apagão de ontem - o décimo da gestão Dilma-, funciona como um alarme para quem tem sua luz cortada subitamente. Ontem, calcula-se, foram 12 milhões os desafortunados.
Os outros nove apagões vão longe na memória, embora não sejam esquecidos. O de ontem, porém, ocorre já com a campanha eleitoral em curso, piorando o humor do contribuinte com os serviços públicos, que reprovou nos protestos de junho de 2013. Trânsito infernal, criminalidade em alta, transportes coletivos em colapso, sistema de saúde caótico - e, agora, falta de energia.
A maior parte dessas mazelas não tem no governo federal o responsável único. O conjunto da obra atinge a toda a cadeia política - do prefeito ao presidente da República, passando pelos governadores e o Legislativo em todas as suas instâncias. Mas a falta de energia tem efeito demolidor sobre o governo federal.
O governo não conseguiu ainda produzir uma explicação, mas apesar disso, nega que a causa esteja na insuficiência de fornecimento. Acusa um "estresse hídrico" para contestar a avaliação de especialistas de que o sistema funciona no limite e que o fato pode se repetir. Seria um desastre para a campanha da reeleição da presidente Dilma.
A informação está publicada, lado a lado, nos principais jornais e portais noticiosos, com o discurso do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), afirmando que o País parou, no lançamento das diretrizes de sua candidatura presidencial. Mera coincidência, já que os eventos foram simultâneos, embora não venha a faltar quem veja nisso uma conspiração midiática.
Embora amparado em pesquisas que mantêm a presidente no patamar dos 45%, o otimismo do governo e do PT com a vitória no primeiro turno há muito se dissolveu. A comemoração não se dá por uma variação de dois a três pontos para cima, mas por não se registrar queda. O índice não é confortável para quem tenta a reeleição, para não dizer que é de risco.
Dilma já tem muito o que evitar e uma crise de energia é mais do que o previsto, mas está aí, a desligar a luz de milhões de pessoas, distribuídas por todas as regiões do país. É, politicamente, o imponderável, embora administrativamente seja má gestão. Eleitoralmente, apaga os efeitos da redução da conta de luz promovida ano passado.