Assim, voltemos ao aeroporto italiano e criemos aqui um pequeno desafio para falar dessas duas cidades. Difícil de comparar? Certamente sim. Uma está no primeiro mundo e tem menos de 2 milhões de habitantes, a outra passa dos dez milhões e está no submundo da dignidade urbana. São Paulo é tragicamente ruim para quem sonha em viver bem numa mancha imensa de gente. Ela maltrata, cobra caro e massacra. Pois bem. Vamos ao desafio, por mais óbvio que seja o resultado. Quanto tempo você precisa para sair do aeroporto e chegar ao centro dessas duas cidades?
Domingo dia 29 de junho o avião tocou o solo às 5h30 da manhã de São Paulo. A fila para passar pela imigração estava estacionada no portão seis do corredor de saída e entrada dos aviões (fingers), atrapalhando até quem queria embarcar. A escada rolante estava quebrada. A funcionária de uma companhia aérea adverte: "é assim quase todo dia nesse horário". Caminho vencido e os funcionários orientavam os passageiros no grito: "residente e brasileiros aqui, estrangeiros pra cá!". Tudo em português. Fila imensa, mas rápida. A esteira 3 foi a escolhida para as bagagens, e dez malas depois parou. Quebrou também. Misturaram tudo com o pessoal que vinha de Londres na 2. O caos se estabeleceu. Passadinha no freeshop? Fila homérica e desisto! Consegui pegar o carro no estacionamento depois de testemunhar um trânsito caótico. Carro? Pois é, paguei por doze dias de estacionamento menos do que pagaria por "uma perna" de táxi. Táxi? Pois é... Cheguei à frente do prédio do Estadão, que sequer fica no centro, às 8h40. Ou seja, três horas e dez depois de "tocar o solo". Volte à primeira palavra do parágrafo: "domingo". Perceba a hora: 8h40. Fosse segunda-feira eu teria enfrentado mais algumas horas na Marginal do Tietê. São Paulo é assim: concentra a chegada de voos internacionais no começo da manhã. Quando todos estão na rota do trabalho. Tragédia.
O voo tocou o solo de Milão às 15h45 da tarde de uma segunda-feira. Era 16 de junho. Dia útil no país da bota. Nada de jogo da seleção ou feriado. Nenhum funcionário no caminho até a imigração. Placas, sinalizações fáceis, banheiros e máquinas de água mineral. Nenhuma fila, mas sei que dei sorte, pois em outros locais já vi o caos. As esteiras novas entregam a mala. Em menos de dez minutos estou no guichê de um trem rápido que parte de dentro do aeroporto. Isso mesmo. No elevador teclei o "-1" e lá estava pagando menos de 15 euros (45 reais) por algo que me levou ao centro da cidade. Detalhe: Malpensa é mais longe que Cumbica. É chão... O vagão é tão confortável e limpo quanto no metrô da caótica São Paulo. Mas nesse caso específico não se viaja em pé. 39 minutos anunciados e estou na praça da estação Cadorna. Caminhada rápida e chegada ao hotel: passa das 17h00. Em mais 40 minutos estou tomando cerveja na frente da catedral depois de um check-in rápido, banheiro, estudo do mapa, e coisas do tipo. Eram cerca de 18h00 quando tirei a primeira foto de minha esposa nas mesas de um bar. A Duomo é linda, ela também. Aniversário de casamento é sempre bacana. Já São Paulo... Cá estamos de volta. A vida é aqui e devemos sonhar em melhorá-la. A vida? A cidade...