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Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

Só aqui?

Ano passado eu bem que tentei emprestar emoção à final da Copa das Confederações. De férias com minha esposa chegamos a Olite no dia da final. Cidade pequena em torno de um castelo na Espanha, crise estampada em cartazes pendurados em janelas fechadas. Muito imóvel para alugar ou vender. Foi o lugar que mais senti o monstro de 2008, a tal "marolinha" de Lula. Nosso intuito ali era assistir ao jogo contra a seleção local num bar. Arriscar. Ver o tamanho da hostilidade. Almoçamos propositadamente num bar de esportes, um bife com fritas e salada bem gostoso. E perguntamos sobre a final: "vão assistir aqui? Como funciona o esquema?" Não existia esquema algum. Era um domingo, as vacas seriam massacradas nas tradicionais festas vespertinas de junho e depois disso o estabelecimento seria fechado, assim como toda a cidade. Duvidei. Voltei no escuro pra ver. A cidade estava morta. Nem uma alma nas ruas. O Brasil marcou três gols, massacrou, a cidade continuou imóvel. Arrisquei um "BRASIL!" pela janela do hotel após o terceiro tento e uma garrafa de vinho. Esperei para ser xingado. Nem isso. No dia seguinte ao dizer que era brasileiro esboços mínimos sobre o jogo. Foi só.

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Por Redação
Atualização:

 

Esse ano é diferente. Copa do Mundo é sinônimo de alegria. Mas assistir ao jogo do Brasil contra o México em Milão foi um parto. Descobrimos um albergue perto do hotel e fomos pra massa. Uma garrafa de vinho branco e uma boa posição na frente do telão. A rua bombava de gente jovem papeando, e na frente das imagens da partida sobravam lugares. Por lá, a TV aberta mostra um jogo por dia. Demos sorte: foi o nosso. Sorte? O jogo foi chatíssimo. Mas o clima no estabelecimento, a bandeira do México no bar e o garçom vestido com a camisa oficial verde foram capítulos divertidos. Terminamos a noite abraçados para uma foto. O maior entusiasmo que vi com a Copa foi em Turim. O taxista estava ansioso pelo jogo contra a Costa Rica. A empresa de automóveis oficial do evento montou uma bela funfest na cidade. Telão imenso, do tamanho da decepção que deve ter tomado conta do local. Mas eu já estava longe. Na França. Esperando o confronto contra os Suíços. Assim, "o melhor" ainda estava por vir.

 

Queria ver o jogo dos locais contra a Suíça em Apt, cidade com menos de 12 mil habitantes no interior. Era pra lá que estávamos indo. Percebo que numa das localidades próximas as ruas estavam cercadas. Seria a montagem de um telão para o evento? Pouco provável. Era uma sexta-feira e a região da Provence estava contaminada pelo festival da música. Chegamos ao hotel e a simpática atendente respondeu à minha pergunta com uma naturalidade chocante: "onde posso ver à partida de futebol da França?" E veio: "no seu apartamento" A hóspede ao lado sugeriu um bar legal, mas não existia nada por lá associado à Copa. Saímos caminhando, rodamos a cidade, quase nove da noite, o sol ainda brilhava. E nada. Um mercado de orgânicos nos salvou: o flat tinha cozinha. Deixei a janela aberta em virtude do calor e apostando na festa do jogo. A França marcou seis vezes (um foi anulado no final) e teve um pênalti perdido. Um massacre. Mas nem um assobio. Barulho algum na cidade. Após a partida notei que os bares funcionavam normalmente. Era tarde, alguns estavam fechados, nenhum tinha televisão. Em Nice o prefeito proibiu desfile pelas ruas com bandeiras de outros países! Mas no sábado, em Apt, a cidade estava abarrotada de gente. Comemorando a vitória da noite anterior? Que nada: dezenas de barracas em ruas medievais. Era a feira livre. Queijos, roupas, temperos, comida e vinho. Milhares de pessoas nas ruas. Parecia Copa do Mundo no Brasil! Mas era a festa local!

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