O direito de renúncia de Prefeitas e Prefeitos está legalmente garantido, é claro. Faz parte da democracia. Quem desistir da nobre tarefa, encontrará respaldo no Decreto Lei 201, de 1967, ironicamente assinado por Castelo Branco durante um período em que a democracia não estava exatamente imperando. Mas trata-se de texto importante, que todo Prefeito e Vereador deveria conhecer e ter artigos memorizados. Meio que um "do's" e "dont's" do governo municipal.
Voltemos a São Cristóvão. O município foi alvo de reportagem investigativa de Roberto Cabrini, do SBT, em material exibido durante o último final de semana. O trabalho da equipe de jornalismo acabou por revelar uma máfia que atuava na gestão de São Cristóvão, desviando recursos do orçamento destinado à compra de merenda escolar na rede pública de ensino no município. Depois de defender-se publicamente, durante episódio em que a Prefeita chegou a se exaltar perante o jornalista, Rivanda sucumbiu à pressão e entregou uma carta de renúncia na última segunda-feira. À imprensa local, principalmente em matérias veiculadas pelo portal NE Notícias (que faz a melhor cobertura in loco do caso, diga-se de passagem) ela se diz inocente. Diz também que renunciou para preservar a família e que vai processar os empresários que a acusam de envolvimento no esquema.
Rivanda é esposa de Armando Batalha, ex-vereador, ex-Prefeito de São Cristóvão e ex-deputado Estadual em Sergipe. A família é velha conhecida do eleitorado são cristovense. Armando era o candidato à Prefeito em 2012, até bem pouco tempo antes das eleições. Sob o risco de ser condenado à inelegibilidade, enquadrado pela Lei Ficha Limpa, renunciou à candidatura. No seu lugar, foi a esposa. Armando, é claro, continuou fazendo parte da agenda política do município, extra-oficialmente, sem cargo, mas com a mesma força política. Durante a campanha em 2014, era ele quem assumia a voz da família na hora de definir, por exemplo, o nome a ser apoiado para o governo Estadual, dobradinhas e apoios com deputados e todo o rol de apoios que compõem esse tipo de arranjo institucional em nossa cultura política. Rivanda só repetia e continua repetindo à imprensa local que é do "Partido do Armando Batalha", ignorando qualquer legenda a qual esteja oficialmente vinculada.
Onde há fumaça, há fogo? Onde há renúncia, há culpa ou só pressão? Onde há político eleito, certamente há população votando. A simples renúncia faz com que desapareça a memória do eleitor? Collor foi eleito (e reeleito!) Senador depois de muitos anos inelegível. É um "exemplo". Lá em São Cristóvão, a família Batalha certamente vai voltar à luta em 2016. Há quase um ano atrás, em 26/06/2014, a Prefeita Rivanda postou em sua conta pessoal no Twitter que "O tempo é o senhor da razão! Esperemos!". Concordo e aguardo.