Não tenho visto graça e tampouco estou ficando louco a ponto de merecer falar sozinho. Não sou eu que tenho gozado de galopante desconfiança por parte da sociedade. Os cientistas políticos sequer aparecem nas pesquisas que medem a proximidade dos cidadãos em relação às instituições. Assim, os políticos parecem imersos demais em seus limitadíssimos mundos. E pior: já não conseguem dialogar com a geração mais jovem. As distâncias são imensas, falta-lhes o que Mills chamou na década de 50 de Imaginação Sociológica. Sinto informar, mas estou quase absolutamente convicto de que não há mais possibilidade de aproximação entre imensas maiorias de jovens e parte absolutamente expressiva dos políticos que insistem em manterem-se na tradicional política. O que teremos pela frente?
O futuro assusta parte expressiva dos partidos, setores da mídia e analistas em geral. Não vou dizer que uma onda de incerteza não me gera insegurança, mas também não consigo afirmar que o fenômeno de aproximação dos jovens em relação à política não faça parte de meu radar faz anos. Isso por uma razão muito simples: anualmente, desde 2011, dialogo com mais de 500 deles especificamente sobre tal assunto em ações realizadas pela Fundação Konrad Adenauer em escolas de ensino médio nas periferias de São Paulo. É o contato com o mundo real, adensado pelos cursos de política na Oficina Municipal, por palestras no ensino médio, por debates em faculdades e pela graduação do Insper. Diferentes classes sociais, perfis e formas de ver o mundo. Mas algo em comum: são jovens, e têm tantas outras coisas convergindo. Uma delas é o reconhecimento de que sem educação política não conseguirão caminhar no que se sonha em relação à Democracia brasileira. Isso não sou eu quem estou dizendo, as pesquisas mostram claramente. Poderia dar como exemplo duas delas, feitas por mim e Rodrigo Estramanho - professor da Escola de Sociologia e Política - apresentada em congresso Latinoamericano de Ciência Política em Lima, em 2015, e publicada aqui. Mas a mais completa talvez seja aquela intitulada: "Sonho Brasileiro da Política". Um primor, tocada por Carla Mayumi e Beatriz Pedreira. As responsáveis, diante do que constataram, deixaram de lado um pouco do que vinham fazendo em relação ao aprofundamento sobre o conhecimento do perfil desses jovens para apostarem fortemente em ações de educação política. Isso porque o levantamento mostrou que é isso que essa geração quer: conhecimento! Diante desse desafio, na semana passada foi lançado o vídeo que se encontra AQUI. O conteúdo encanta, sobretudo aqueles que buscam ter esperança na ação dos jovens. E ameaça quem imagina que o mundo acabou no instante conservador de quem tem preguiça e medo de enfrentar os novos tempos.
Por fim, chamo atenção e voltarei com esse assunto aqui: em alguns poucos dias mais uma edição da Revista Cadernos Adenauer será lançada e reunirá atitudes e tentativas de definição da relação do jovem com a política. Aos políticos fica a dica: acompanhem esse movimento, pois em breve será impossível, a despeito de ideologias, dialogar com os jovens. Sobretudo se mantiverem o sentimento de que eles são alienados e desinteressados. Esse é o erro maior. Só espero que não seja tarde demais pra perceber, mas como eu disse no começo, temo que seja.