Por lá parece interessante observar o que, de fato, seria uma variação desse bacanal político, a despeito da confusão ideológica acima. Tomemos como exemplo a mania de os representantes capitalizarem em cima de emendas parlamentares. O fenômeno é tão comum que fez o presidente da Câmara dos Deputados encantar seus colegas com a ideia do orçamento impositivo, que transforma o legislador em um micro executor - o prefeitinho do varejinho. Deputado estadual paulista, de alta patente, por sinal, já afirmou que função de parlamentar não é legislar ou fiscalizar, mas sim defender interesse de prefeito. Despachante de luxo! Numa lógica mais elegante: embaixador municipal. Tá vendo? Nada que uma boa tinta dourada não resolva. Mas continuemos: dia desses apareceu nas redes sociais uma queixa contra o deputado Roberto de Lucena (PV-SP). Ele comemorava, em boletim informativo do seu gabinete, a conquista de quase R$ 1 milhão para a Santa Casa de Santa Isabel-SP - em época de escassez de recursos para Santas Casas, isso seria uma benção divina. Mas o provedor do hospital, Benedito Machado Ribeiro, o Dito Nó, tratou de desmentir a conquista no jornal O Ouvidor: "esse dinheiro não existe, nunca existiu, e nunca existirá". Será? E como pode ter ido parar no informativo do deputado?
No mesmo jornal, o ex-provedor Luís Carlos Corrêa Leite voltou à carga: políticos em "tempos eleitorais passam a dedicar às Santas Casas uma atenção que realmente não existe quando terminam as eleições" e ainda completou que o hospital "tem sido vítima da cobiça da política miúda que há muito domina a cidade". Como pode? O deputado se defendeu, no mesmo jornal, e aproveitou para criticar antecessores locais. Afirmou que a gestão passada na cidade perdeu recursos orçamentários que ele garantiu, e que agora, de fato, estava reservando quase R$ 1 milhão para o hospital - se serve de garantia, seu irmão é o vice-prefeito, o pastor. E antes que alguém pensasse que ele estava em litígio com os provedores, atenção: "renovo (...) com o Provedor Benedito Machado Ribeiro, a Irmandade, e a administração, e principalmente com os isabelenses, o meu compromisso de continuar trabalhando e apoiando a Santa Casa de Misericórdia de Santa Isabel, através desse instrumento que Deus e o povo de São Paulo me confiaram, que é o mandato na Câmara dos Deputados". Deus? Num estado laico prefiro separar religião e Estado, mesmo porque, ao menos no catolicismo, padre sequer deveria se candidatar de acordo com o Vaticano. Prefiro também separar a religião do título desse texto.