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Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

De portas abertas... e transparentes!

Por Eder Brito

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Por Redação
Atualização:

Convido o leitor a um exercício de imaginação em que ele tente visualizar a seguinte cena: você chega à sede da Prefeitura do município e encontra apenas uma sala transparente, com paredes de vidro. Lá dentro você pode enxergar o Prefeito, atendendo tranquilamente a um cidadão, enquanto você aguarda confortavelmente, sentado em uma cadeira na sala de espera. Assim que o papo terminar, você também poderá conversar com ele, levar suas demandas e tirar dúvidas. Assim, "direto com o homem" sem secretária, sem aviso prévio, sem agendamento. É só chegar e conversar com a autoridade máxima da sua cidade. Tudo literalmente transparente, em um gabinete propositalmente feito com as paredes de vidro para que todos possam ver o que acontece lá dentro. Agora pare de imaginar e tenha certeza de que isso é exatamente o que vem acontecendo em Juranda, no Paraná.

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A ideia do Prefeito Bento Batista (PTB) foi uma promessa atípica da campanha de 2012, devidamente cumprida já no primeiro semestre do governo. Com o advento da Lei de Acesso à Informação (12.527/2011) e toda a discussão sobre controle social e transparência na administração pública, o político paranaense levou a história mais ao "pé da letra", investiu cinco mil reais na adaptação do espaço e chamou a atenção da imprensa. Experiente, Bento já foi presidente da União dos Vereadores do Paraná e da União de Vereadores do Brasil e acabou transformando o local em atração turística na cidade. Mas quase um ano depois da instalação do "Gabinete de Vidro", vem a pergunta: funciona mesmo? Atrapalha o trabalho do Prefeito?

A resposta da assessoria do Prefeito é positiva. Segundo assessores diretos de Bento em conversa com o blog, ele gasta em média 80% de sua carga horária na sala transparente. Às vezes atende individualmente. De vez em quando atende um grupo, se a sala de espera estiver muito cheia e se o assunto for de interesse comum. Só vai para outros espaços quando tem alguma reunião externa ou quando precisa ler documentos importantes e fazer atividades administrativas tradicionais ("assinar a papelada, sabe como é, né?"). O modelo de transparência literal também já chegou à Secretaria de Finanças e aos processos de licitações e pregões presenciais.

A ideia pode ser inimaginável para algumas cidades brasileiras de grande porte e certamente tem uma logística mais tranquila na pequena Juranda, com pouco mais de 7 mil habitantes. Mas serve de exemplo para os milhares de Prefeitos, Vereadores e Secretários que "blindam" suas salas e colocam uma tonelada de assessores para proteger o acesso a este tipo de espaço, principalmente se considerarmos que a imensa parte dos 5.570 municípios brasileiros têm o mesmo porte e contingente populacional. Será que têm também a mesma vontade política e paciência?

 

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