Também é estranho que um vereador acusado por estelionato e falsidade em escrituras de terrenos pelo Ministério Público, na Operação Aprendiz, se considere um preso político. Como é? Isso mesmo, a moda agora é ir pra cadeia por crimes "comuns" e reclamar de armação política. Política? Isso! O jovem vereador João Emanuel (PSD), ex-presidente da Câmara que renunciou ao mandato após as acusações recebidas em 2013, foi parar na jaula. Em sua defesa, alega que foram cometidos absurdos no processo penal, afirma ter colaborado com a justiça e diz ter sido inocentado pela polícia. Ele está em seu direito e, como cidadão, pode se defender. Mas o problema não é esse. A questão é saber o que ocorrerá com seu mandato.
Três colegas de parlamento elaboraram relatório na Comissão de Ética pedindo sua cassação por quebra de decoro, um deles pertencente à mesma legenda de Emanuel. Assim, aos olhos dos colegas, que podem até estar preparando uma imensa pizza, não parece normal ter um vereador preso e acusado de crimes dessa natureza. Que bom! Pelo menos alguém! Se bem que o ritmo do Legislativo é lento, e muitos dias ainda correrão até que tudo tramite.
Assim, para ofertar uma dose de indignação mais clara, fiquemos com a atitude de Ivonete Jacob. Em vídeo postado na internet ela se apresenta como ativista indignada. Eu faria um pequeno ajuste: chamaria a moça apenas de Cidadã, com C maiúsculo. Dona de seus direitos e montada em sua insatisfação, ela procurou o vereador no parlamento, ou melhor, na casa do povo - é óbvio que depois da cadeia quem consegue habeas-corpus volta para o mandato. E lhe dirigiu uma pergunta simples e dura. Direta e reta. Tensa e irônica: "como você foi tratado nos dias que passou na cadeia?". A resposta nos fez lembrar muitos políticos brasileiros: "fui tratado igual sua mãe", desferiu o representante mais votado da cidade em 2012, com quase 6 mil votos, ou pouco menos de 2% do total. A moça, boca dura, foi além. De acordo com o Híper Notícias, ela afirmou que sua mãe não pertence a uma família de corruptos. O diálogo cessou. Até aí tudo ok, mas não sem ela receber um murro no rosto do que se convencionou chamar de "segurança do vereador". Isso mesmo! A polícia, aí sim, chegou com viatura e cerca de dez homens. O vereador, negando a agressão, não voltou para as grades. Foi visto no plenário, e seu "animal de estimação" sumiu. Teriam os colegas de parlamento um aditivo ao processo de quebra de decoro? Em meio às recentes campanhas contra o estupro de mulheres, fica um apêndice: "ativistas não merecem ser esmurradas".