O capítulo mais recente dessa instabilidade está associada à percepção da justiça sobre infidelidade partidária. Até alguns anos atrás o mandato pertencia ao político eleito para qualquer cargo. A mudança de legenda era uma farra em todas as esferas de poder e nos dois poderes para os quais elegemos representantes. Isso era um problema? Que o Legislativo o resolvesse. Mas não! Mais adiante o Judiciário entendeu que os mandatos pertenciam aos partidos, que poderiam requerer o cargo dos infiéis. O tempo passou, e a partir de 2011 esta mesma justiça considerou que político que sai de legenda existente e aporta em grupo em formação não era infiel - essa talvez seja a mais esdrúxula das decisões, e a que mais me faz pensar na frase de Joaquim Barbosa. Eu disse: PENSAR. Não estou acusando ninguém de nada. Mais recentemente, faz poucos dias, nova decisão. Os mandatos de cargos escolhidos proporcionalmente pertencem aos partidos (deputados e vereadores), mas os mandatos contratados por fórmula majoritária (presidente, governadores, prefeitos e senadores) pertencem aos políticos.
Pois bem. E quem foi cassado pela interpretação anterior? Como fica agora? Em setembro de 2012, às vésperas das eleições, o prefeito de Tietê-SP, José Carlos Melaré, eleito em 2008 pelo PTB, foi cassado por migrar para o PT. Justo? O que mudou no país em menos de três anos para o movimento ser aceito agora? O que esperar a partir dessa nova decisão? Mudanças em série. Em Lavras-MG o prefeito Silas Costa Pereira nem esperou a decisão do fim de maio e deixou o PSDB rumo ao PMDB. Diante da crise que vive o PT, sobretudo em São Paulo, existe a preocupação da legenda com as saídas dos prefeitos de Araçatuba, Bragança Paulista, Hortolândia, Itupeva e Jaú, de acordo com matéria da Folha de S. Paulo, rumo ao PSB. O que esperar dos prefeitos para as eleições do ano que vem? Lembre-se: um político precisa de um ano de filiação ao mesmo partido para se candidatar. Olho nos prefeitos. E na justiça, é claro. Por sinal: como pode ser tão instável? Que ímpeto é esse? É ruim a mudança de partido? Na minha opinião sim, na do Judiciário em partes. Mas não queria viver de opinião, queria um pouco mais de certeza no longo prazo. E se o Legislativo é ruim por não produzir algo com clareza, pelo menos ele é escolhido por nós e é dele que devemos cobrar. Pior é um Judiciário que muda tanto de ideia e gera tanta instabilidade para nossa realidade. Fico com a sensação de que a verdadeira infidelidade se dá entre Judiciário e Democracia. Só sensação.