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Crônicas sobre política municipal. Cultura brasileira local sob olhar provocativo | Colaboradores: Eder Brito, Camila Tuchlinski, Marcos Silveira e Patricia Tavares.

A Copa também é dos Prefeitos

O caminho natural são as acusações em direção ao Governo Federal e o vínculo imediato de gastos públicos com a Copa e Dilma Roussef. Considerando que a escolha do Brasil como sede ocorreu durante o segundo mandato de Lula, também é natural que se vinculem os problemas da organização e legado ao Partido dos Trabalhadores (PT). Mas, se realmente acreditamos no que dizia Franco Montoro, as pessoas não moram na União, nem no Estado: elas vivem nos municípios. Quem passou pelas Prefeituras das cidades sede da Copa, desde o ano de 2007, quando fomos escolhidos como sede até agora? Pergunta que pouco se faz, mas importante se considerarmos que todos os processos que envolvem gastos e legados também passam pelos municípios. Mais essencial ainda quando se sabe que em cada cidade sede instauraram-se Comitês Organizadores Locais e até Secretarias Municipais especialmente voltadas à gestão das obras e políticas públicas (e portanto dos orçamentos e parcerias) para a Copa do Mundo.

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Por Redação
Atualização:

A primeira análise mais superficial das cidades sede já desmistifica a tradicional polarizaçãodo cenário político brasileiro. Nem PT, nem PSDB. A Copa é do PSB e do PDT. O partido do presidenciável Eduardo Campos terá quatro Prefeitos "em campo" quando começar a Copa. Mauro Mendes (Cuiabá), Roberto Cláudio (Fortaleza), Márcio Lacerda (Belo Horizonte) e Geraldo Júlio de Melo Filho (Recife). O PDT fica em segundo neste ranking da política local. Carlos Eduardo Alves (Natal), Gustavo Fruet (Curitiba) e José Fortunatti (Porto Alegre) são Prefeitos de cidades sede. O PT tem Haddad em São Paulo e Agnelo Queiroz no Distrito Federal. O PMDB tem "apenas" Eduardo Paes no Rio. Arthur Virgílio é o prefeito tucano de Manaus e ACM Neto governa Salvador, pelo DEM, antigo PFL de seu finado avô. São eles os 12 políticos brasileiros que carregarão para sempre, para o bem e para o mal, o peso e o capital político de serem Prefeitos das cidades onde a "Copa das Copas" foi realizada. São também eles que gerenciam em nível local todas as ações voltadas para atingir o "padrão FIFA".

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Quando estes 12 assumiram, tudo já estava bem encaminhado. E entre 2007 e agora, nem tudo foram flores na política local destas cidades. Em Natal, talvez a situação mais complicada dentre todas, a Prefeitura chegou a ficar vaga por três dias no final de 2012, depois de um escândalo de corrupção envolvendo a então prefeita Micarla de Sousa. Uma onda de protestos que pediam o impeachment de Micarla começou em maio de 2011 e culminou no afastamento da Prefeita em outubro de 2012. No Distrito Federal, antes que Agnelo assumisse em 2013, passaram pela cadeira do governo distrital, ninguém menos que Joaquim Roriz e José Roberto Arruda, envolvidos em escândalos de corrupção de escala nacional. Arruda ainda carrega o título de primeiro governador da história a ser encarcerado durante o mandato. Tudo enquanto os Estádios eram erguidos.

Em Manaus, Amazonino Mendes tinha o Ministério Público Eleitoral pedindo a cassação de sua candidatura em 2008, em meio a acusação de "crimes de captação ilícita de sufrágio" (vulgo compra de votos) enquanto colocavam-se os tijolos da Arena da Amazônia. Foi eleito. Em São Paulo, fica difícil calcular quanto tempo o ex-Prefeito Gilberto Kassab investiu na fundação do PSD, ao mesmo tempo em que governava a cidade. Com impactos provavelmente menores, mas certamente influenciando o cenário da gestão pública local, Cuiabá, Curitiba e Porto Alegre viram seus Prefeitos renunciarem aos mandatos para concorrer ao cargo de Governador do Estado em 2010, ano estratégico para as obras de infraestrutura nas cidades sede.

Coincidência ou não, o primeiro Estádio da Copa e da Copa das Confederações a ficar pronto foi o Castelão, em Fortaleza. Também foi por lá que Luiziane Lins (PT) teve dois mandatos relativamente tranquilos à frente da Prefeitura, sem grandes escândalos, sem renúncia para concorrer a outros cargos e sem nenhuma correria para fundar novas legendas partidárias.

E que no dia 13 de Julho vença o melhor. E que o melhor do mundo seja o time brasileiro, é claro. Uma vitória do time de Felipão vai ser importante para o clima institucional do país como um todo. E que no dia 05 de Outubro de 2014 vença alguém melhor ainda. Mas, no fim das contas, quem vencer em 2016 tende a fazer ainda mais diferença para a sua vida.

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