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Como a conjuntura do País afeta o ambiente público e o empresarial

Seis meses de Covid 19 no Tocantins

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Por Redação
Atualização:

Marcelo de Souza Cleto, Doutor em Filosofia pela PUC-SP, Pesquisador e professor Adjunto do Bacharelado em Ciências Sociais e do Programa de Pós-graduação em Gestão de Políticas Públicas da Universidade Federal do Tocantins

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André Demarchi, Doutor em Antropologia pela UFRJ, Pesquisador e professor Adjunto do Bacharelado em Ciências Sociais e do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Sociedade da Universidade Federal do Tocantins

 

A pandemia do Covid 19 chega a 6meses no Tocantins. Governo do estado e prefeitos dos municípios têm adotado posturas que ao longo deste período, estamos analisando e modulando nossas hipóteses com as experiências ocorridas nos demais estados da Federação. Em nossa anterior consideração no dia 7 de agosto sobre a conjuntura da doença, publicada neste O Estado de São Paulo,[1]apresentamos nossa tese acerca da impropriedade do governo Mauro Carlesse (DEM) em levar adiante um enfrentamento à doença com mais presteza e valor à vida humana. Nosso argumento ponderou desde a predisposição do governo e de sua linhagem antecedente no trato peculiar à coisa pública, situação causadora de um fenômeno sui generisconceituado por nós de Conservadorismo Instável. De forma geral, a gestão pública do Tocantins tem características onde o grupo que domina a política local vem se sucedendo de forma constante com o agravante de nos momentos próprios de transição, ocorrerem situações que desestabilizam o crescimento do estado. Os eventos são variados que contribuem na consolidação de um tipo de cultura políticacom baixa credibilidade; política, econômica e social. Quando a manutenção do poder se sobrepõe à dinâmica democrática ocorre a opacidade da autoridade, uma vez que são comuns na curta história institucional renúncias para acomodação dos líderes, do Alpha para o Betha. Para o melhor tratamento do fenômeno conjuntural, enumeramos na consideração anterior as principais características que delineiam a resposta do governo do Tocantins no enfrentamento à pandemia: sendo elas a) um arranjo institucional que não mitiga ações de médio e longo prazo, b) recursos orçamentários restritos, c) insumos médicos limitados e, d) racismo estrutural de face patriarcal.

A abordagem que inferimos neste artigo, conjuga duas variáveis; gênero e faixa etária. É importante salientar que os dados publicizados pelo Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde / SES-TO, não apresentam outras variáveis, como raça ou renda, o que possibilitaria maiores análises e elaborações futuras de políticas públicas.

 

Efeito chicote

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Pelo gráfico abaixo, pode-se verificar a trajetória descendente neste quarto de tempo dos casos confirmados por dia. Por conta da elipticidade do movimento da contaminação, é difícil pressupor que a queda se tornará constante e definitiva. Como uma onda ou o efeito de um chicote, o vírus flutua como que no mormaço do calor do cerrado.

 

 Foto: Estadão

Fonte: Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde / SES-TO

Atualizado em: 14 de Setembro de 2020, às 13:00.

 

Conhecer o percurso do Covid 19, examinado por variáveis adicionais agrega no controle sanitário e possibilita a organização estratégica do governo no combate ao vírus.

Gostaríamos de nuançar, na primeira parte de nossa exposição, o plano do prisma que está contido a problemática das relações de gênero, sinteticamente, como o Covid 19 impacta homens e mulheres no Tocantins. Salientamos que parte significativa deste recorte por gênero, publicamos no projeto, Os governos estaduais, Distrito Federal e o enfrentamento à pandemia no Brasil, coordenado pela Associação Brasileira de Ciência Política[2], reapresentamos o argumento principal, atualizamos os dados e acrescentamos na segunda parte uma abordagem etária como complemento analítico.

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Aqui no Tocantins, tanto na estrutura social quanto no imaginário coletivo, o "másculo", o "macho", o "forte", "o cabra valente que domina o boi" é a personasintetizadora que na cultura patriarcal é o digno de representar. Nunca é demais lembrar que nesse sistema, a conservação do poder está no homem, por isso ocupam os lugares de destaque. Por outro lado, ainda neste imaginário machista, as mulheres seriam "frágeis por natureza", e deveriam "se ocupar da casa e de seus afazeres de sentimento". Esse emaranhado que faz o imaginário, reflete e é refletido pelas micro-relações dinâmicas que juntas compõem a estrutura social e suas resistências. Não entraremos no mérito da questão de determinação causal entre imaginário(ideologia) e cotidiano (práxis), mas apontamos pelos dados abaixo como os homens em relação às mulheres estão mais suscetíveis ao óbito pela Covid 19.

Na consideração por gênero, o que se tem é a maior contaminação entre a população feminina, ou seja, as mulheres estão mais sujeitas ao vírus. Apesar de serem numericamente 49,23% da população total do Tocantins, considerando o Censo de 2010, o dado singulariza o papel social das mulheres enquanto coluna humana de contágio em massa. O gráfico abaixo ilustra a dinâmica que buscamos salientar.

 

 Foto: Estadão

Fonte: Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde / SES-TO

Atualizado em: 14 de Setembro de 2020, às 13:00

 

Com maior exposição frente ao vírus, no inter caminho da casa e da rua, as mulheres seguem no trato com as crianças, e com a violência doméstica agravada pelo quadro coletivo. A casa enquanto lugar, teve que reelaborar-se em sua cotidianidade, reificando também, as questões referentes à vulnerabilidade da saúde dos homens. A proporção entre homens contaminados e óbitos é bem superior ao das mulheres. Assim, apesar dos casos confirmados serem maiores entre as mulheres, não são elas automaticamente mais impactadas pelo óbito, pelo contrário, o gráfico abaixo demonstra que quem mais entra em óbito são os homens.

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 Foto: Estadão

Fonte: Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde / SES-TO

Atualizado em: 14 de Setembro de 2020, às 13:00

A debilidade da resistênciafísicamasculina em detrimento da capacidade do organismo feminino em coordenar seu sistema de defesa é notóriae fica ainda mais evidente quando se desagregao dado absoluto e o circunda na realidade. Elencamos no quadro a seguir os oito municípiosdo estado com os índices mais elevados de casos confirmados e óbitos.

 

Município Casos Confirmados Óbitos
Total Masculino Feminino Total Masculino Feminino
Palmas 14.606 6.746 7.860 122 82 40
Araguaína 14.081 6.559 7.522 182 122 60
Gurupi 3.147 1.460 1.687 41 32 9
Porto Nacional 2.195 1.038 1.157 40 30 10
Paraíso do Tocantins 1.955 921 1.034 39 28 11
Colinas do Tocantins 2.227 982 1.245 20 12 8
Formoso do Araguaia 1.091 544 547 12 8 4
Araguatins 800 393 407 23 19 4

Fonte: Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde / SES-TO

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Atualizado em: 14 de Setembro de 2020, às 13:00. Elaborado pelos autores.

 

Pode-se extrair desse conjunto de dados, principalmente na diferença entre óbitos masculinos e femininos nas duas últimas colunas do quadro o tipo de resposta que cada gênero tem desenvolvido nessa encruzilhada da espécie humana. Fica evidente, portanto, que mesmo sendo mais contaminadas, as mulheres, por seus hábitos de cuidado corporal e da saúde, falecem menos que os homens, que, como se sabe, possuem uma cultura machista, onde o cuidado corporal é ainda e por muitos, afetado como "coisa de mulher". Consideramos importante essa abordagem no sentido de melhor compreendermos os lugares que homens e mulheres ocupam tanto na representação quanto na ação, e assim podermos identificar os malefíciosque uma cultura patriarcal desdobra não apenas sobre as mulheres mas sobre os homens também.

 

Quando a juventude vale mais que a longa idade

Para nosso passo analítico seguinte, aquele que busca em frentes variadas pontos cognoscíveis do evento pandêmico, julgamos que os efeitos do Covid 19 estratificado por faixa etária, pode nos indicar algumas das linhas de acomodação e de rompimento no encontro entre o vírus e a humanidade.

O gráfico abaixo, ilustra a proeminência da contaminação entre pessoas dos 20 aos 49 anos de idade, com o maior acumulado na faixa dos 30 aos 39. Esse conjunto humano é o que encorpa a população economicamente ativa (PEA), força motora e produtora de passivos e ativos do Tocantins.

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 Foto: Estadão

Fonte: Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde / SES-TO

Atualizado em: 14 de Setembro de 2020, às 13:00.

 

Vamos considerar a nomenclatura desses 3 grupos com maior contaminação de, jovens adultos, e a razão lógica para os altos índices é o reflexo próprio da dinâmica econômica e o lugar que os mesmos ocupam no fluxo do capital. Podemos replicar no exame dos efeitos do Covid 19 por faixa etária a mesma relação entre contaminação X óbitos que procedemos no trato por gênero, ou seja, apesar da maior contaminação entre jovens adultos com o total de 38.776 contaminados, não são eles os mais impactados pelo óbito. Quando agregamos a faixa etária das pessoas com mais de 60 anos, temos o total de contaminados 6.655. O gráfico abaixo demonstra o impacto que a Covid 19 infringiu na população com mais de 60 anos.

 

 Foto: Estadão

Fonte: Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde / SES-TO

Atualizado em: 14 de Setembro de 2020, às 13:00.

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A resposta por faixa etária nos indica a virulência do Covid 19 num extrato determinado, dos 814 óbitos totais, 601 são de pessoas com mais de 60 anos de idade.

O delineamento final que alcançamos, é a identificação da vulnerabilidade em saúde do grupo acima de 60 anos, majoritariamente masculino. Por outro lado, o grupo com maior resistência ao vírus são as mulheres jovens adultas.

 

[1]  https://politica.estadao.com.br/blogs/gestao-politica-e-sociedade/covid-19-no-tocantins-e-a-gestao-da-imunizacao-por-rebanhoi/

[2] https://cienciapolitica.org.br/analises/especial-abcp-4a-edicao-governos-estaduais-e-acoes/artigo/especial-abcp-acoes-tocantins-enfrentamento-pandemia

 

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