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Como a conjuntura do País afeta o ambiente público e o empresarial

Sanções econômicas e a guerra da Rússia e Ucrânia

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Por Redação
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Ana Carolina de Oliveira Assis, Doutoranda e Mestre em Ciência Política (UFPE), Graduada em Relações Internacionais (UFPB). Atualmente, integra os grupos de pesquisa: Grupo de Estudos Estratégicos e de Segurança Internacional (GEESI), Grupo Economia do Mar (GEM) e a Rede de Ciência Tecnologia e Inovação em Defesa: Defesa Cibernética Nacional (Pró-Defesa IV - Ministério da Defesa e CAPES). E-mail: anaa.caroliina@hotmail.com

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Em disputas internacionais diversas são as ações estratégicas adotadas para responder às ameaças impostas por um inimigo, sejam elas medidas diplomáticas, militares e as sanções econômicas. Além das necessidades habituais das Economias em momentos de paz, em temos de guerra, há a exigência de um esforço extra para financiar as atividades militares além das questões domésticas. Esse tipo decisão política visa limitar o fluxo de dinheiro, suprimentos e punições financeiras de forma a barrar a ação, exercer coerção e isolarem seu oponente sem entrarem para esfera da violência armada.

No caso da atual crise entre Rússia e Ucrânia, em pronunciamento oficial do presidente Biden, foram decididas sanções pelos Estados Unidos e aliados aos fluxos financeiros dos grandes bancos russos e suas subsidiárias, medidas essas que contam com apoio de outros países como o Japão, Canadá, Reino Unido e membros da União Europeia. Outro golpe à economia da Rússia foi o seu banimento do sistema SWIFT (Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication) para transações internacionais. Esse sistema, que é muito utilizado no país, tem como propósito trocas monetárias internacionais, o que gera grande prejuízo para bancos e nacionais russos que dependem do SWIFT para realizar suas transações financeiras.

Além disso, foram impostas também limitações nas trocas de comércio internacional com a Rússia e as chamadas smart sanctions. O que seriam essas smart sanctions? Essas sanções são punições econômicas para alvos específicos da elite como forma de pressionar o governo a ceder aos interesses da parte opositora com a intenção de não afetar diretamente a população e causar sofrimento a toda uma sociedade pelas ações de um grupo político específico. Para a Rússia foram determinadas restrições a grandes empresários próximos ao governo, políticos e funcionários de grande escalão, a membros das Forças armadas, entre outros.

Além de tentar atingir diretamente as decisões do governo ao ver sua economia no alvo, a opção por punir a elite poderia pressionar de forma mais direta o Kremlin para reverter a situação - já que esses indivíduos se sentiriam prejudicados, como também é uma forma de limitar o financiamento da Guerra, pois a elite detém uma grande quantidade de dinheiro a ser utilizado para as necessidades do conflito.

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As sanções econômicas foram colocadas em holofote internacionalmente na última semana, entretanto, não são novidades para a Rússia. Anteriormente, no caso da crise com a Ucrânia em 2014, a administração do presidente estadunidense Barack Obama também anunciou medidas restritivas à Economia russa como forma de ditar o tom para cessar a crise à época.

Mesmo com a experiência de sanções anteriores, o presidente Putin decidiu por atacar o território Ucraniano, e isso leva a novos questionamentos: Sanções Econômicas são efetivas para influenciar o comportamento dos sancionados? Ademais, as smart sanctions realmente funcionam e impedem que a população sofra ainda mais com o conflito?

De acordo com as informações obtidas sobre a efetividade das sanções econômicas no estudo do economista Daniel Drezner[1], esse tipo de coerção é mais efetiva antes do conflito iniciado - ainda no estágio de ameaças, além de serem mais prováveis de obter resultados quando os custos são muito elevados para o sancionado, quando esse é uma democracia e quando as instituições internacionais e os aliados do sancionado apoiam as medidas punitivas.

Acerca das smart sanctions, ainda há pouca evidência se elas são realmente eficazes para pressionar as elites e governos, e se realmente ficam limitadas a um grupo específico sem atingir a população como um todo. No caso russo, há uma clara preparação anterior tanto militar (de pessoal e armamentos) como econômica para a atual invasão da Ucrânia, o que pode fazer com que essas medidas punitivas não tenham tanto impacto a curto prazo. Além disso, há a possibilidade de que bancos e indivíduos que utilizam o sistema SWIFT migrem para outro sistema de trocas financeiras, o que reduziria um pouco os prejuízos russos.

Entretanto, mesmo com sanções econômicas ou não, conflitos geram impactos negativos nas economias domésticas dos envolvidos como internacionalmente para os que não estão comprometidos com a guerra. É de se esperar portanto, um cenário de desgaste da Economia russa, o que pode fazer com que nos cálculos estratégicos do Kremlin a longo prazo as sanções econômicas sejam vitais para sobrevivência do Estado e os tomadores de decisão direcionem-se para um arrefecimento da ofensiva. Além disso, um cenário provável nos próximos momentos é o de diminuição de trocas financeiras internacionais, a elevação do custo dessas transações e o aumento pela demanda por bens essenciais que são exportados pela Rússia - a exemplo dos recursos energéticos. Esses últimos que influenciam não apenas nos preços internacionais de combustíveis, mas também impactam diversos setores industriais dos países.

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 Nota

[1] DREZNER, Daniel. Economic Sanctions in Theory and Practice: how smart are they?. In: GREENHILL, Kelly M.; KRAUSE, Peter. Coercion: the power to hurt in international politics. New York: Oxford University, 2018. p. 251-270.

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