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Como a conjuntura do País afeta o ambiente público e o empresarial

Retomada das atividades e reabertura comercial em Sergipe[i]

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Por Redação
Atualização:

Rodrigo Barros de Albuquerque - Doutor em Ciência Política pela UFPE e Professor do Departamento de Relações Internacionais da UFS

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Cairo Gabriel Borges Junqueira - Doutor em Relações Internacionais pelo PPG San Tiago Dantas - UNESP/UNICAMP/PUC-SP e Professor do Departamento de Relações Internacionais da UFS

 

Em julho escrevemos para as Análises Políticas da ABCP um texto que refletia no título "Sergipe: necessidade de lockdown versus reabertura gradual" o dilema que o estado de Sergipe enfrentava. Agora, esse dilema parece não existir mais, pois a opção por uma quarentena mais incisiva e permanente foi preterida em função da retomada das atividades cotidianas. Temos, agora, um outro cenário que também é dúbio. Em primeiro lugar, passados aproximadamente cinco meses desde a confirmação do primeiro caso da COVID-19, pode-se dizer que pela primeira vez a pandemia parece estar sob controle no estado. Segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), o número de casos e de óbitos diários está em queda. Já em segundo lugar e em contrapartida, os problemas estruturais de saúde e econômicos estão longe de seu fim.

No começo de junho havia mais de 10 mil casos confirmados e 252 óbitos em Sergipe. Em julho os números passavam de 47 mil e 1.182, respectivamente. Em 08 de Setembro, temos quase 74 mil casos confirmados e 1.909 óbitos, ou seja, o acumulado continua demandando certa preocupação e mostra que a pandemia ainda está sendo enfrentada no estado. Nesse aspecto, cabe à esfera pública, tanto do poder estadual quanto dos poderes municipais, continuar com políticas efetivas de comunicação mostrando à população que o problema persiste e, mesmo com um cenário positivo à vista, a precaução, o uso de máscaras e o distanciamento social continuam sendo mecanismos efetivos de combate à doença. O índice de isolamento índice de isolamento social de Sergipe continua oscilando, razoavelmente constante desde abril, tendo ocorrido um pico de 49,6% no dia 12 de julho e um número mínimo de 32,8% no sopé do dia 19 de junho. Em agosto as variações ficaram basicamente em torno de 46 e 37%, e em 08 de Setembro a queda em relação ao pico foi pequena, alcançando 44%, 22º no ranking Brasil.

Um dos principais pontos de apoio do governo estatal para demonstrar otimismo encontra-se na taxa de ocupação das Unidades de Terapia Intensiva (UTI). Se em meses anteriores tal taxa chegou a permanecer em patamares entre 70 e 90%, muito acima do ideal, em 08 de Setembro as taxas continuam a apresentar tendência de queda, com taxas de 41,1% na rede pública e 29,7% na rede privada. A mesma tendência de queda se mostra em relação aos óbitos, com a confirmação de 11 óbitos em decorrência do coronavírus, nenhuma no próprio dia 08.

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Todavia, o Comitê Científico do Consórcio Nordeste (C4NE) continuou alertando em seu décimo boletim que em Sergipe a "situação ainda não está controlada". Segundo os especialistas, a pandemia no estado se em crescimento no início de agosto, com risco epidêmico alto e com número de reprodução Rt entre 1,02 e 1,09, o que poderá resultar em futuro crescimento do número de infectados, embora os óbitos estejam decaindo, conforme mostrado acima. Dito de outro modo, como em meses antecedentes a situação no estado se agravou consideravelmente, apenas duas semanas de queda nos índices é um tempo curto para ter certeza de que a pandemia já ultrapassou seu pico. A capital Aracaju é um ponto central nessa observação por adensar grande parcela dos casos confirmados e dos óbitos, sendo que algumas medidas tomadas pela prefeitura, a exemplo do Programa "TestAju" para aumentar a testagem da COVID-19 na cidade, são muito recentes e demandarão um maior prazo para verificar seus resultados.

Em relação à retomada das atividades, logo no início de agosto o governador Belivaldo Chagas anunciou a abertura gradual de shoppings, centros e galerias comerciais em Sergipe, o que veio a ocorrer a partir do dia 14, considerando o enquadramento do estado na chamada "Fase Amarela". No dia 19 foi a vez de bares e restaurantes reabrirem, também com capacidade limitada e respeitando as diretrizes de distanciamento social. Inclusive, o governo criou o "Selo Sanitário" destinado a estabelecimentos comerciais, indústrias e prestadores de serviço que estão cumprindo devidamente as medidas de prevenção. Em alguns casos tais políticas funcionam, mas outros demonstram as dificuldades em gerir ambientes sociais de aglomeração, conforme ocorreu no dia 21 de agosto no Bairro Farolândia, em Aracaju, havendo registros de intensas aglomerações sem distanciamentos e o uso devido de máscaras.

Em 28 de Agosto o estado entrou na "Fase Verde", com autorização de abertura de academias limitadas a 30% da ocupação total, praias, parques, praças e ampliação do horário de funcionamento dos shopping centers, com ocupação limitada a 50%. Igrejas e templos de outras denominações também voltaram a funcionar diariamente, com ocupação limitada a 30%. A partir de 08 de Setembro, essas taxas de ocupação foram revisadas, ampliando a ocupação permitida nas academias e em estabelecimentos religiosos para 50% e permitindo o funcionamento de empresas e serviços de call center com 50% da ocupação.

Ainda em relação a aspectos comerciais, a Secretaria de Estado da Fazenda de Sergipe informou que houve um aumento de 7,63% no valor das notas fiscais emitidas em Agosto de 2020 e uma queda de 12,15% na quantidade de notas emitidas, em comparação com o mesmo período de 2019. Há uma tendência de alta já evidenciada em julho, mas o total ainda demonstra precariedade e evidencia que a economia ainda demandará tempo para se recuperar totalmente.

Nesse sentido, as políticas dos governos estadual e da capital parecem caminhar ao encontro de determinadas demandas sociais, reabrindo os diversos setores aos poucos, com alguns cuidados indispensáveis ao período. No entanto, ainda parece haver necessidade de maior conscientização da população, como evidenciado no caso das aglomerações em bairros como a Farolândia. Não há efetivo policial e administrativo capaz de fiscalizar efetivamente toda a capital e diversos municípios do estado. Assim, por melhores que sejam as ações governamentais no combate à pandemia, ainda é imperativo que a população colabore sendo mais atenta às normas e à necessária precaução para que essas políticas sejam eficazes e o estado se veja livre da pandemia. Afinal, no nordeste de maneira geral, incluindo Sergipe, as cidades iniciaram o período de isolamento tardiamente se comparado com as regiões sul e sudeste do país e, no final de agosto, 90% das cidades grandes nordestinas já voltaram ao movimento normal, sinalizando que ainda estamos em um período de grandes incertezas.

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[i] O texto faz parte do projeto "Os governos estaduais e as ações de enfrentamento à pandemia de covid-19 no Brasil" coordenado pela pesquisadora Luciana Santana (UFAL).

 

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