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Como a conjuntura do País afeta o ambiente público e o empresarial

Quais são os interesses em jogo no conflito entre Rússia e Ucrânia?

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Por Redação
Atualização:

Ana Carolina de Oliveira Assis, Doutoranda e Mestre em Ciência Política (UFPE), graduada em Relações Internacionais (UFPB). Atualmente, integra os grupos de pesquisa: Grupo de Estudos Estratégicos e de Segurança Internacional (GEESI), Grupo Economia do Mar (GEM) e a Rede de Ciência Tecnologia e Inovação em Defesa: Defesa Cibernética Nacional (Pró-Defesa IV - Ministério da Defesa e CAPES). E-mail: anaa.caroliina@hotmail.com

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Ressalto, inicialmente, que o conflito entre Rússia e Ucrânia transborda os interesses de Vladmir Putin e do presidente Ucraniano Volodymyr Zelensky. Estão em jogo também objetivos geopolíticos para países Ocidentais alinhados com as políticas dos Estados Unidos e de seus aliados.

Pelo prisma russo, os pontos levantados vão desde questões geopolíticas de expansão territorial, como também sobre zonas de influência. Não é de hoje que Vladmir Putin reafirma o seu interesse em assumir maior protagonismo e uma posição relevante em nível internacional - em padrões comparados àqueles que o país já conquistou anteriormente. Assim, para chegar a uma maior influência nas relações globais é necessário primeiro que este detenha um maior protagonismo regional, e é nesse contexto que a Ucrânia se insere.

Ao fim da Guerra Fria, quando ocorreu a dissolução da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a Rússia não conseguiu manter grande parte do seu território anterior, o que levou à independência de diversas porções territoriais, a exemplo da Ucrânia, Letônia, Lituânia, Estônia, Belarus, Moldova, Geórgia, Armênia, Azerbaijão, Uzbequistão, Turcomenistão, entre outros. Esse processo de independência não apresentava apenas prejuízos políticos e de extensão territorial, mas foi caracterizada também por uma perda de ingerência geopolítica e até mesmo econômica para a Rússia, pois os recursos provenientes dessas regiões já não pertenciam mais a Moscou.

Uma vez que esses países se tornaram independentes da nação russa, estavam aptos juridicamente a firmar acordos com outros países e organizações internacionais, mesmo com a contestação de Moscou. Nesse movimento, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e a União Europeia (UE) não demoraram muito para estreitar as suas relações diplomáticas com alguns desses Estados e, ao oferecer meios e recursos para que esses países obtenham maiores níveis de desenvolvimento econômico e para sua defesa nacional, atraíram a atenção dos governos locais para uma vertente política pró-Ocidente.

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 Foto: Estadão

Imagem: Nato Members (NATO, 2022)[1]

Ao observar o mapa de países membros da OTAN (marcados em cor cinza), nota-se que cada vez mais os Estados Unidos e seus aliados têm se aproximado do território russo (principalmente com a adesão da Romênia, Letônia, Lituânia e Estônia - sendo esse último, além de vizinho da Rússia, o local onde se encontra o Centro de Operações para Defesa Cibernética da OTAN, operações essas vitais em conflitos atuais). Em consonância com o processo de expansão da OTAN, também se verifica que esses países foram inseridos no processo de expansão da União Europeia e são membros dessa organização a partir de 2004.

Relativamente à Ucrânia, essas duas organizações internacionais são pontos chave em sua relação com a Rússia. No que tange à União Europeia, um marco relevante foram os protestos em 2014 na Ucrânia, quando o então presidente da época, Vìktor Yanukovytch, decidiu recuar no processo de maior aproximação com a UE em decorrência das pressões russas. Nesse momento, grande parte da população se mobilizou para solicitar o afastamento do presidente e por mudanças políticas no país - como o afastamento das relações com a Rússia e uma maior convergência com a Europa.

Nesse contexto, os protestantes conseguiram destituir o governante, entretanto, as pressões russas continuaram, e para agravar o contexto, além da anexação do território da Crimeia à época, o governo russo lançou medidas de apoio aos grupos separatistas da Ucrânia na região de Donbas (que desejavam se separar do país e se unir à Rússia, uma vez que o Kremlin afirmava que a população local estaria ameaçada por extremistas, no entanto, também estavam em jogo as áreas de acesso à Crimeia e também aquelas ricas em recursos minerais). Somado a essa conjuntura, a OTAN incluiu a Ucrânia como possível membro da aliança militar - o que foi a gota d'água atual para Moscou.

Portanto, os interesses apresentados à mesa e levados para as negociações entre russos e ucranianos são: pela perspectiva da Rússia, a desmilitarização e desnazificação da Ucrânia, objetivando que esse país se torne um local neutro, e o recuo do processo de adesão da Ucrânia à União Europeia e à OTAN (como forma de conter o avanço ao leste da influência geoestratégica e econômica dos Estados Unidos e seus aliados).  Pelo lado ucraniano, o interesse é, além da sobrevivência do governo e do próprio regime político do país, a sua integridade territorial e a adesão às Organizações Ocidentais.

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Nas tratativas realizadas até o momento não foi alcançado um acordo entre os interesses das duas partes. O cessar-fogo requisitado pela Ucrânia não foi obtido e a Rússia ainda permanece com os armamentos e soldados na nação ucraniana (sinalizando, inclusive, o avanço de novos comboios militares), esperando que se atinja um consenso que leve em consideração a anuência em direção aos interesses russos. Ademais, os cordões humanitários, que são as áreas para trânsito de civis em direção afastada da região de conflito, não foram cumpridos em sua totalidade ou foram direcionados para Rússia ou Belarus - fato contestado pelo presidente Zelensky.

Nota

[1] Mapa disponível no site oficial da OTAN: https://www.nato.int/nato-on-the-map/#lat=52.80247937489252&lon=16.538570139409035&zoom=0&layer-1 . Acesso em: 28/02/2022.

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