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Como a conjuntura do País afeta o ambiente público e o empresarial

Paradoxos, Regularidades e Conjuntura: Eleições Presidenciais de 2022

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Por Redação
Atualização:

Dalson Figueiredo, Professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Catalisador do Berkeley Initiative for Transparency in the Social Sciences e visiting scholar na Universidade de Oxford - 2021/2022) | E-mail: dalson.figueiredofo@ufpe.br

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Ernani Carvalho, Professor Associado do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Visiting Research Associate at the Latin American Centre and Brazilian Studies / Oxford University - CAPES | E-mail: ernani.carvalho@ufpe.br

O paradoxo do aniversário postula que, considerando uma amostra de 23 pessoas selecionadas ao acaso, a chance de que duas delas sejam nascidas na mesma data é de 50%. Para um grupo de 60 indivíduos, a probabilidade é maior do que 99%. Essa curiosidade ilustra a onipresença dos números em diversos aspectos da nossa vida, incluindo a política. A recente polêmica envolvendo pesquisas eleitorais reforça o argumento do sociólogo britânico Nikolas Rose de que atos de quantificação do mundo social são politizados . O PL 96/2011, de autoria de Rubens Bueno (PPS - PR), caracteriza como fraudulenta pesquisas cujo resultado esteja acima da margem de erro.

Neste artigo, desenvolvemos um exercício de simulação com o objetivo de responder a pergunta que todo mundo quer saber a resposta: finalizada a apuração das urnas no dia 30 de outubro, quem será o próximo presidente do Brasil? Mas, antes de avançar nessa direção, devemos falar um pouco sobre algumas regularidades estatísticas que, assim como o paradoxo do aniversário, envolvem as nove eleições presidenciais ocorridas entre 1989 e 2022:

a) nunca houve uma virada, ou seja, o candidato que terminou em segundo lugar no primeiro turno jamais saiu vitorioso na apuração final;

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b) o concorrente mandatário nunca perdeu, ou seja, todos os presidentes que concorreram à reeleição saíram vencedores;

A novidade das eleições de 2022 é que uma dessas regularidades vai cair por terra. Ou Bolsonaro ganha e o postulado de que não há viradas será refutado. Ou Lula vence e a hipótese de que os incumbentes não perdem será rejeitada. A verdade é que nunca na história desse país tivemos uma disputa presidencial tão polarizada, nunca tivemos uma batalha entre presidentes. Em números: Lula e Jair Bolsonaro conquistaram 91,63% dos votos válidos durante o primeiro turno. Guarde essa estimativa pois ela será importante em nosso exercício de simulação. O Gráfico 1 ilustra a distribuição do percentual de votos válidos por candidato durante o primeiro turno das eleições presidenciais de 2022.

Gráfico 1 - Votos válidos no primeiro turno das eleições presidenciais de 2022

 Foto: Estadão

Fonte: elaboração própria.

De acordo com o TSE, Lula obteve 48,43% dos votos válidos e o atual presidente Jair Bolsonaro totalizou 43,2% das manifestações de apoio. Isso significa que todos os demais candidatos somados auferiram 8,37% dos votos válidos (100 - 91,63), que chamaremos aqui de "votos restantes". Para onde vai essa parcela de preferências? Nosso exercício de simulação é simples e consiste em imaginar quanto cada candidato será capaz de abocanhar dessa quantidade de votos. Para aumentar a transparência dos resultados, disponibilizamos publicamente todas as rotinas computacionais . Dessa forma, qualquer pessoa com um computador simples pode reproduzir nossas análises estatísticas. O Gráfico 2 ilustra a expectativa de votos válidos em Lula assumindo diferentes cenários de transferência de votos (de 10% até 90%) da parcela de votos restantes (8,37%).

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Gráfico 2 - Expectativa de votos válidos para Lula no segundo turno de 2022

 Foto: Estadão

Fonte: elaboração própria

A linha horizontal pontilhada cinza ilustra o patamar de 50% de votos válidos. A linha vertical vermelha ilustra o nível de 19% de transferência, que é o mínimo necessário que Lula deve conquistar para garantir a maioria dos votos. Assim, considerando nove diferentes cenários de transferência (10%, 20%, 30%, 40%, 50%, 60%, 70%, 80% e 90%), Lula venceria em oito hipóteses. O Gráfico 3 reproduz essa análise para Bolsonaro.

Gráfico 3 - Expectativa de votos válidos para Bolsonaro no segundo turno de 2022

 Foto: Estadão

Fonte: elaboração própria

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Para Bolsonaro, o desafio é mais difícil. Ele precisa receber pelo menos 82% dos votos restantes para sair vitorioso. Isso significa que dos nove cenários possíveis de transferência (10%, 20%, 30%, 40%, 50%, 60%, 70%, 80% e 90%), ele venceria em apenas uma oportunidade. Para ambas as situações assumimos dois pressupostos fortes: a) não haverá alterações significativas na taxa de abstenção e b) os candidatos devem manter constantes os seus respectivos montantes de votos conquistados no primeiro turno, ou seja, nem eleitores de Bolsonaro irão migrar sistematicamente para Lula, nem apoiadores do candidato do PT irão virar, massivamente, a casaca de última hora.

Certo. Mas como saber exatamente qual será a taxa de transferência? Ignoramos a existência de alguma metodologia estatística específica para fazer isso confiavelmente. O que nos resta, nesse sentido, é aprofundar essa reflexão a partir do que os especialistas chamam de análise de conjuntura. Vejamos as informações da Tabela 1, que sumariza o percentual de votos válidos para os dois competidores mais votados durante o primeiro turno das eleições presidenciais de 1989 até 2022.

Tabela 1 - Votos válidos no primeiro turno por eleição presidencial (1989 - 2022)

 Foto: Estadão

Fonte: elaboração própria

Em 1989, Fernando Collor terminou o primeiro turno com uma vantagem de 13,29 pontos percentuais em relação à Lula. Em 1994 e 1998, o desempenho de FHC foi significativamente superior ao do seu oponente, com diferenças 27,17 e 21,35 pontos percentuais, respectivamente. Lembrando que foram as únicas eleições que foram encerradas em primeiro turno. Em 2002, quando Lula foi eleito em segundo turno, a vantagem sobre José Serra foi de 23,24 pontos percentuais durante o primeiro tempo do jogo. Em 2006 a disputa ficou mais acirrada e a vantagem de Lula sobre seu atual vice, Geraldo Alckmin, foi de 6,97 pontos percentuais. Dilma terminou o primeiro turno de 2010 com uma vantagem de 14,3 p.p. sobre Serra e de 8,04 p.p. sobre Aécio em 2014. Em 2018, Jair Bolsonaro alcançou 16,75 pontos percentuais de diferença do seu oponente, Fernando Haddad. Chegamos em 2022 com uma distância de apenas 5,23 p.p entre Lula e Bolsonaro.

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Quais fatores da ordem conjuntural podem ser desafiadores aos números expressos acima? As pesquisas têm mostrado de forma consistente que a base da diferença pró- Lula se encontra em um duplo pilar: votos dos mais pobres e voto na região Nordeste. Sabemos também que a taxa de abstenção geralmente oscila para cima em um segundo turno, principalmente se não houver segundo turno para o Governo do Estado. Ademais, o absenteísmo atinge principalmente os mais vulneráveis economicamente. Estes fatores conjugados podem gerar um efeito de deflação de votos no candidato do PT.

Outro fator de ordem conjuntural é que a região Sudeste vai se tornar o grande campo de batalha neste segundo turno, seja porque abriga o maior quantitativo de eleitores, seja porque os Governadores da região (exceto o Espírito Santo) cerraram apoio ao Presidente Jair Bolsonaro, possibilitando o aumento de votos na candidatura do PL e até a virada do voto em Minas Gerais, que deu vitória apertada ao Ex-Presidente Lula no primeiro turno. O tamanho das "máquinas" de apoio (federal e estaduais) na região Sudeste podem melhorar a performance do atual Presidente.

Todos esses poréns conjunturais geram uma tensão sobre a vantagem dos seis milhões de votos obtidos no primeiro turno e podem desestabilizar as "condições normais de temperatura e pressão" pelas quais operam nossos números. Contudo, a variável tempo parece ser importante e joga a favor do candidato Lula da Silva. Por fim, diante das regularidades dos números, das quebras de paradoxos e de uma conjuntura desafiadora nos resta lembrar o título de um ensaio do cientista político Adam Przeworski: "Ama a incerteza e serás democrático".

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