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Como a conjuntura do País afeta o ambiente público e o empresarial

Onde está a imprensa brasileira?

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Por Redação
Atualização:

Maria Rita Loureiro, Professora titular aposentada da FEA-USP, atualmente Professora e Pesquisadora da FGV - EAESP

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No último sábado, dia 29 de maio, milhares de brasileiros foram às ruas nas mais importantes cidades do país, manifestando-se contra o governo e a ausência de ações no combate à pandemia que já matou quase meio milhão de pessoas. Os manifestantes pediam "Vacina Já" e o impeachment do presidente da república, responsável pelas mortes que poderiam ter sido evitadas, se ele tivesse cumprido suas funções constitucionais, promovendo ações de governo, conforme as recomendações repetidamente feitas pelos médicos e cientistas.

Todavia, é terrível constatar o despudor com que as manifestação -  que poderiam ou podem gerar impactos decisivos sobre nosso destino como nação -  foram  praticamente ignoradas pelos grandes meios de comunicação do país. O levantamento realizado pelo jornalista Rubens Jardim em 33 jornais mostrou que apenas a Folha de São Paulo deu manchete sobre as manifestações. Os demais trouxeram na primeira página, com destaque, fotos e notícias de assuntos como futebol, índices econômicos, turismo e até matéria sobre assassinato. Em gritante contraste com a escolha feita pelos jornais brasileiros, 32 manchetes sobre atos contra Bolsonaro no Brasil foram vistas em diários internacionais, além de informações dos movimentos de igual teor realizados nas principais capitais da Europa e em cidades dos Estados Unidos.

Por que estes fatos não foram noticiados? Por que os jornaise grande parte das redes de televisão fizeram de conta que as manifestações de milhares de brasileiros pelas cidades do país não existiram?

Os dirigentes dos meios de comunicação no Brasil nos devem explicações. Aos milhares que se manifestaram. E que, mesmo atentos a todas as precauções indicadas pelos cientistas, assumiram o risco de contraírem uma doença tão letal para afirmar coletivamente: Basta de desgoverno! Basta de genocídio!

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A imprensa deve explicações ao povo brasileiro por seu silencio. As televisões são concessões públicas e, por isso, não podem privar o povo de informações e agir de forma facciosa. Em sociedade verdadeiramente democrática, seus meios de comunicação não podem jamais deixar de divulgar o momento em que o povo está nas ruas. Ainda mais quando as demandas se referem a um direito fundamental dos cidadãos e razão primeira da própria existência do governo: proteção e garantia da vida.

Como todos sabemos, a imprensa tem papel fundamental na democracia, contribuindo para sua consolidação se, comprometida com a verdade dos fatos, configurar-se como instrumento decontrole dos poderosos que não respeitam nenhum limite. Mas pode, ao contrário, ser também decisiva para aniquilar a ordem democrática, se se utilizar de seu próprio poder de informar, para manipular a realidade, escondendo ou amplificando os fatos, conforme interesses não republicanos. Se os conflitos de interesses são inerentes à luta política, eles só serão legítimos se igualados por regras democráticas e não escondidos sob uma capa de independência ou falsa neutralidade.

O silêncio da grande mídia brasileira, tanto quanto as mentiras que hoje inundam as redes sociais, são ambos arma contra a democracia. Se as mentiras são utilizadas pelos fascistas para destruir os adversários, transformando-os em inimigos, o silêncio midiático é também forma ilegítima de luta por parte daqueles que se afirmam liberais e até pluralistas. São ilegítimos porque apoderam-se do destino da nação e de seu povo.

Os que se manifestaram neste sábado não podem ser apagados pela imprensa que tem o dever republicano de informar a nação.

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