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Como a conjuntura do País afeta o ambiente público e o empresarial

O lugar das mulheres nas organizações

Por Maria José Tonelli
Atualização:

Maria Jose Tonelli, Professora titular no Departamento de Administração da FGV-EAESP. Coordenadora do NEOP - Núcleo de Estudos em Organizações e Pessoas.

 

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Ao longo do século XX, as habitantes dos burgos reivindicaram a possibilidade de estarem também presentes no espaço público. Mas parece que os homens não se interessaram tanto em participar ativamente do espaço privado. No Brasil então, onde estas questões de público e privado são especialmente complicadas, nem se fala... Mas não vamos entrar nessa trilha senão perdemos a questão de gênero.

 

A vida seguiu e, com muito esforço, as mulheres entraram para as organizações. O que mudou com a participação das mulheres no mundo corporativo? Nada. Como escrevemos num artigo publicado há quase três décadas (*), as mulheres nas organizações não dulcificaram o espaço de trabalho (a se supor que as mulheres sejam mais dóceis).  Infelizmente nada mudou. As organizações continuaram como espaços construídos a partir dos modelos masculinos e, a considerar as pesquisas recentes, os modelos burocráticos, com sua origem nos exércitos e na igreja continuam operando. Mesmo empresas inovadoras e ultrajovens não conseguiram eliminar o modelo clássico de comando e controle.  Nossos modelos de organizar são muito antigos (o que por si só não é desabonador), mas não necessariamente adequados às nossas novas necessidades.

 

 

Entretanto, não são as mulheres as únicas a sofrerem com essa condição.Todos sofrem. Homens, mulheres, crianças. Essa é uma entre as várias condições que afetam a noção de civilidade em nosso país: de modo geral as pessoas não têm hoje a condição de tempo para se dedicarem ao desenvolvimento das crianças. Estão presas e infelizes no trabalho. Como podem criar crianças felizes? A angústia inevitável de existir fica potencializada numa sociedade desorganizada. As crianças percebem esse mal-estar. Por que então as crianças quereriam ter esse modelo infeliz? E, não se trata de um jargão, elas são sim o futuro do país. Está feito o circulo vicioso.

 

Talvez o que esses grupos de mulheres estão a querer debater é esse funcionamento disfuncional de uma sociedade que paga o preço de não ter a produtividade dos países desenvolvidos, mas que também não permite o cuidado de si. Mais um dos paradoxos que marcam o nosso ineficientemodo de viver.

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As mulheres, executivas ou empreendedoras, vivem de modo mais agudo o conflito trabalho-família. Mas a questão das mulheres é apenas a ponta do iceberg de questões mais amplas que marcam o modo de vida nas grandes cidades como tempo/espaço, público/privado, reconhecimento e sobrevivência social. A insatisfação com a intensidade do trabalho é geral para todos.

 

(*) Mulheres executivas e suas relações de trabalho. Betiol, M.I.; Tonelli, M.J. Rev. adm. empres. vol.31 no.4 São Paulo Oct./Dec. 1991.

(**) A MULHER INVISÍVEL: Sentidos atribuídos à mulher e ao trabalho na gerência intermediária. MORGADO, A.P.D.V. FGV-EAESP, São Paulo, 2012 Tese de Doutorado.

 

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