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Como a conjuntura do País afeta o ambiente público e o empresarial

Mitigando o drama das pequenas e médias empresas

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Por Redação
Atualização:

Rafael Schiozer, éprofessor de Finanças da FGV-EAESP

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Temos uma recessão pela frente. Como na maioria das recessões, os mais afetados são os socialmente vulneráveis, desempregados e trabalhadores da economia informal. Em seguida, são afetadas as pequenas e médias empresas (PMEs) que devem fechar as portas por conta das medidas de distanciamento social, e seus empregados que têm seus empregos ameaçados. Mesmo aquelas PMEs que não fecharam completamente, mas sofrem indiretamente com a queda abrupta do consumo também podem ser severamente afetadas pela crise econômica.

Preservar os empregos nas PMEs é uma das frentes mais importantes na mitigação dos danos econômicos do COVID-19. A sobrevivência das PMEs e a proteção de seus empregos interessa também a outras empresas da cadeia produtiva (fornecedores e clientes) e aos bancos que prestam serviço e dão crédito a essas empresas. As primeiras medidas anunciadas na semana passada pela equipe econômica (postergação do pagamento de impostos e recolhimento do FGTS) ajudavam, mas estavam longe de serem suficientes.

Hoje o governo anunciou um programa de R$40 bilhões em empréstimos para as PMEs pagarem os salários de seus empregados, com um teto de dois salários mínimos, a uma taxa de 3,75% ao ano. Os empréstimos terão uma carência de 6 meses e prazo de até 36 meses. Os depósitos serão feitos diretamente na conta-salário do empregado pelos bancos que operam as folhas de pagamento dessas empresas. A maior parte dos recursos (85%) vêm de repasse do BNDES, e os bancos que operacionalizarão os empréstimos arcam com os 15% restantes. As empresas se comprometeriam a manter seus empregados. No lado regulatório, os empréstimos foram desenhados para permitir que os bancos não tenham que diminuir a oferta de crédito em outras frentes por questões de capital e liquidez.

O plano é bom. Toda a pesquisa, no Brasil e no mundo, mostra que bancos cortam crédito nas recessões, e as PMEs são as mais afetadas. O plano deve mitigar bastante esse efeito que observamos em outras crises. É particularmente importante que os bancos tenham assumido uma parcela desses financiamentos, de maneira que tenham incentivo para evitar o calote. Muitas dessas firmas já têm dívidas bancárias, e a preservação de seus empregos é fundamental para a própria lucratividade dos bancos no curto prazo (diminuindo a inadimplência em empréstimos já existentes) e, no longo prazo, mantendo uma carteira de clientes (tantos as PMEs como as pessoas físicas que são seus empregados) mais saudáveis financeiramente.

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Uma segunda frente em que o governo pode atuar é na securitização dos recebíveis das empresas. As PMEs precisam alongar seus prazos de pagamentos aos fornecedores e antecipar o recebimento de suas vendas a prazo quando voltarem a operar normalmente. A criação de novos Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), focados em recebíveis de PMEs, permitiria que os prazos do crédito mercantil (entre fornecedores e clientes) fossem alongados, com financiamento do mercado de capitais. Como o risco dessas operações é alto, o mercado de capitais tem exigido juros altíssimos para antecipar esses recebíveis, às vezes a ponto de consumir toda a margem de lucro das PMEs.

A exemplo do que foi feito nos empréstimos para o pagamento da folha salarial, o Tesouro - ou o BNDES - poderia assumir parte desse risco (o que se faz por meio de aquisição de cotas subordinadas desses fundos). Também nesse mercado, parte pequena do risco poderia ser assumido por fornecedores e clientes de grande porte, já que estes têm interesse na sobrevivência das PMEs que são seus clientes, e uma outra parte pelas instituições financeiras que organizariam essas operações. Os estudos mostram que, na crise de 2008, fornecedores com maior fôlego financeiro reduziram prazos de pagamento e aumentaram seus prazos de recebimento, numa decisão estratégica de dar um alívio financeiro a seus clientes e fornecedores financeiramente, mantendo-os vivos durante a crise.

As medidas são urgentes! Nos empréstimos para pagamento dos salários, o quinto dia útil de abril (dia de pagamento de salários para a maioria das PMEs) está já batendo às nossas portas. É fundamental que governo e mercado financeiro consigam operacionalizar esses empréstimos rapidamente.

Na frente dos recebíveis, os "boletos" das PMEs seguem vencendo. O alongamento desses prazos de pagamento poderia dar algum fôlego financeiro para as PMEs sobreviverem ao período sem receitas, e a antecipação desses recebimentos para os fornecedores permitiria menores sobressaltos de liquidez.

Diante de tantas incertezas sobre a duração e a intensidade do "lockdown" (potencializadas pela falta de entendimento entre as esferas estadual e federal), é melhor um plano rápido, mesmo que não seja o plano ótimo. É preciso ser conservador no desenho do plano e na definição de quais empresas e quais recebíveis serão elegíveis. É melhor pecar pelo excesso, eventualmente dando crédito subsidiado para quem não precisa, do que ter regras que impeçam que a liquidez chegue às PMEs que realmente precisam de caixa para sobreviver nesse momento.

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