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Como a conjuntura do País afeta o ambiente público e o empresarial

Inovar com propósito: a estratégia para cooperativas financeiras lidarem com o ambiente dinâmico

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Por Redação
Atualização:

Bernardo Oliveira Buta, Doutor em Administração Pública e Governo pela FGV - EAESP

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As cooperativas financeiras têm ampliado sua presença no país, mesmo em momentos de crise. Dados do Banco Central[i] demonstram que, na contramão do que vem ocorrendo com alguns grandes bancos, as cooperativas aumentaram a quantidade de postos de atendimento em 38% nos últimos quatro anos. No mesmo período, o crescimento físico dos bancos foi de 10%. Grandes bancos públicos, como Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal, reduziam a quantidade de postos de atendimento nos últimos quatro anos em 16% e 8% respectivamente.

Esses dados demonstram a importância das cooperativas na inclusão financeira. Enquanto grandes bancos, como Banco do Brasil, Itaú e Caixa Econômica Federal, reduzem sua presença no interior do país, as cooperativas crescem no vácuo deixado por eles. Dados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB)[ii] indicam que 594 municípios brasileiros contam apenas com organizações cooperativas como instituições financeiras.

Apesar do crescimento físico importante em localidades, muitas vezes, esquecidas pelos grandes bancos, as cooperativas financeiras enfrentam desafios para prosperar em um ambiente altamente dinâmico. A crescente popularidade das FinTechs, por exemplo, vem alterando o comportamento dos usuários dos serviços financeiros, os quais passaram a preferir serviços mais rápidos e oferecidos remotamente[iii].

Portanto, é fundamental que as cooperativas sejam cada vez mais orientadas para a inovação. Não se trata, no entanto, de qualquer inovação. É preciso levar em conta as especificidades dessas organizações, as quais produzem bens de interesse público de forma democrática, sustentável e responsiva às necessidades locais. Ou seja, o propósito não é mera consequência da inovação, mas deve estar intimamente ligado ao processo inovador. Por este motivo temos nos referido a este processo como Inovação com Propósito.

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Ao ouvir as lideranças do setor, é possível constatar que as cooperativas financeiras têm se afastado dos princípios que inspiram o cooperativismo. Há um conflito constante entre a necessidade de inovar e a importância de preservar a essência do cooperativismo, pois as cooperativas financeiras não são bancos, mas negócios locais com marcante interesse pela comunidade.

Contudo, resgatar os princípios do cooperativismo é uma forma de gerar capacidade de inovação em cooperativas financeiras. Vale destacar que os princípios do cooperativismo primam pela colaboração entre organizações, pela participação dos cooperados na tomada de decisões, pela formação dos funcionários e cooperados, bem como pelo interesse na comunidade. Esses são fatores potencialmente indutores da inovação.

Em primeiro lugar, a gestão democrática e o interesse pela comunidade se entrelaçam, pois sociedade e cidadãos não são meros recebedores passivos de inovações, mas podem ser protagonistas e co-inovadores[iv]. A participação efetiva da comunidade na concepção e prestação do serviço é essencial para a geração de valor, afinal, o valor é sempre determinado pelo beneficiário. Além disso, a participação da comunidade é uma forma de melhor endereçar a resolução dos problemas locais, pois a solução coletiva de problemas tende a ser mais efetiva quando envolve aqueles que se veem afetados pelos problemas e desejam resolvê-los. Vale ressaltar também que o processo de inovação exige um conhecimento profundo e de difícil aprendizado sobre as necessidades e a forma de funcionamento das comunidades locais[v]. Assim, quando a comunidade é ouvida, as organizações tendem a desenvolver capacidades voltadas à melhor prestação de seus serviços àquela comunidade.

Em segundo lugar, a cooperação entre organizações também tem sido descrita na literatura especializada como fator indutor de inovação. Independentemente do tamanho ou da idade das organizações, comportamentos cooperativos, nos quais impera confiança relacional, têm efeito significativo no desempenho de projetos de inovação[vi]. A cooperação é especialmente relevante nos casos de inovações sociais, as quais estão focadas na melhoria do bem estar social. Nesse caso, a replicação dos novos produtos ou serviços é um indicador de sucesso da inovação, sendo desejada e incentivada[vii].

Merece destaque também a necessidade de desenvolver capacidades voltadas para a inovação. As organizações são compostas por pessoas, as quais tenderão a desenvolver comportamento inovador quando capacitadas, orientadas e comprometidas com os objetivos da organização[viii]. Ou seja, formação e educação são atividades essenciais para o desenvolvimento de capacidades voltadas à criação de produtos ou serviços novos, ou para a melhoria dos produtos e serviços existentes.

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Em suma, os princípios do cooperativismo são mais relevantes do que nunca. Retomar esses princípios é fundamental para fomentar a inovação no cooperativismo financeiro. Vale lembrar que cooperativas não são bancos, a diferença entre esses dois tipos de instituição reside justamente no propósito.

[i] Banco Central do Brasil (bcb.gov.br/acessoinformacao)

[ii] OCB, S. (2019). Anuário do Cooperativismo Brasileiro. Brasília: Sistema OCB - CNCOOP, OCB, SESCOOP.

[iii] McKillop, D., French, D., Quinn, B., Sobiech, A. L., & Wilson, J. O. (2020). Cooperative financial institutions: A review of the literature. International Review of Financial Analysis, 71, 1-11.

[iv] Gallouj, F., Rubalcaba, L., Toivonen, M., & Windrum, P. (2018). Understanding social innovation in services industries. Industry and Innovation, 25(6), 551-569.

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[v] Desmarchelier, B., Djellal, F., & Gallouj, F. (2020). Mapping social innovation networks: Knowledge intensive social services as systems builders. Technological Forecasting & Social Change, 157, 1-8.

[vi] Wu, A., Wang, Z., & Chen, S. (2017). Impact of specific investments, governance mechanisms and behaviors on the performance of cooperative innovation projects. International Journal of Project Management, 35(3), 504-515.

[vii] Desmarchelier, B., Djellal, F., & Gallouj, F. (2020). Mapping social innovation networks: Knowledge intensive social services as systems builders. Technological Forecasting & Social Change, 157, 1-8.

[viii] Valladares, P. D., Vasconcellos, M. A., & Di Serio, L. (2014). Capacidade de Inovação: Revisão Sistemática da Literatura. RAC, 18(5), 598-626.

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