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Como a conjuntura do País afeta o ambiente público e o empresarial

#AgoraÉQueSãoElas - Mulheres na política: nos espaços políticos formais o som do coletivo ainda é masculino.

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Por Redação
Atualização:

Ana Carolina Evangelista, Graduada em Relações Internacionais pela PUC-SP e mestre em Gestão e Política Públicas pela EAESP/FGV; Beatriz Pedreira, Cientista Social pela PUC-SP e Coordenadora do Projeto Sonho Brasileiro da Política.

 

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Na política institucional, um fato é incontestável: a sua composição é feita por uma maioria avassaladora de homens. No Brasil, a Câmara dos Deputados é composta por 10% de mulheres (51 dos 513 deputados) e o Senado por 14 % (12 de 81 senadores)[1]. Nas Américas, a média é de 20,7%, enquanto a proporção mundial está em 17,9%[2].

O Brasil tem menos mulheres no legislativo do que o taxa média do Oriente Médio que chega a 16%.

Se olharmos para os poderes executivos e para as estruturas das gestões públicas, em geral, o panorama é semelhante. A equipe ministerial no início do atual governo federal - sim liderada por uma mulher - era composta por apenas 4 mulheres, num total de 35 ministérios. Nos estados, 26 são comandados por homens e apenas 1 por mulheres[3].

"Companheira não me deixe só, porque sozinha eu ando bem mas com você, ando melhor" - cantado pelas manifestações de mulheres nas últimas semanas)

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Essa é a imagem do poder que temos hoje no Brasil. Ser mulher na política é saber o que é ser a única das duas ou três pessoas que sobram na foto. É ter que trabalhar - e viver - em espaços onde a maioria numérica ou dominação cultural é masculina. Aquele que não escuta sua opinião, não olha nos seus olhos, só dirige a palavra ao outro homem, não recorda do seu nome, ou se dirige a você como a assessora do fulano ou colega de partido do beltrano. Quando te olha é para alguma parte do seu corpo ou se refere a você por alguma característica física.

Não apenas a política institucionalizada, mas especialmente ela, sempre foi um lugar masculino. A política nunca foi um lugar de e para mulheres, e mudar isso levará tempo.

Poderíamos nos conformar com os ganhos que tivemos em termos de participação e garantia de direitos em nossas democracias, poderíamos colocar a culpa nos desenhos de nossas instituicões e nas regras do jogo, poderíamos nos resignar frente a séculos de espaços políticos formais ocupados essencialmente por homens e esperar que um dia, com o tempo, isso vá mudar.

Poderíamos, mas não vamos.

Para que o eco das vozes doces e furiosas[4] que cantaram nas marchas do Rio e São Paulo, e tantas outras que vêm de longa data, sejam ouvidas, representadas e incidam sobre as normas que regulam a nossas vidas, precisamos disputar os espaços formais de poder. Ocupar os governos, as instituições de Estado, os parlamentos, os partidos. Ocupar com as nossas vozes, com os nossos olhares, com as nossas práticas.

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Juntas e feita por mulheres de distintas origens, cores, crenças e identidades de gênero, a mudança poderá ser mais potente se engrossarmos o caldo com as outras que lá estão. Mulheres na sua pluralidade e com toda sua potência.

Tomemos o nosso lugar nas instâncias institucionais, joguemos juntas, discordemos, construamos com os homens, articulemo-nos entre nós mulheres.

Queremos fazer política não apenas em nossas vidas ou nos nossos diferentes espaços de atuação. Não queremos apenas votar. Queremos desenhar políticas, queremos propor e aprovar leis, queremos construir caminhos públicos com vozes femininas.

 

[Agradecimento especial a Laura Daudén pela edição das fotos]

[1] http://diap.org.br/images/stories/publicacoesDIAP/Radiografia_011/Radiografia_011_P103.pdf

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[2] http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,brasil-tem-menos-mulheres-no-legislativo-que-oriente-medio,1645699

[3] http://g1.globo.com/politica/eleicoes/2014/noticia/2014/10/veja-os-27-governadores-eleitos.html

[4] http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gregorioduvivier/2015/11/1701186-doces-e-furiosas.shtml

 

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