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Como a conjuntura do País afeta o ambiente público e o empresarial

A vida dura das mulheres na realpolitik: o que ninguém conta

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Por Redação
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Fátima Cristina Pires Miranda, advogada, sócia do Escritório Vilela, Miranda e Aguiar Fernandes Advogados. Membro da Comissão de Direito Político e Eleitoral da OAB-SP e do Instituto dos Advogados de São Paulo (IASP). Titular da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (ABRADEP) e do Instituto de Direito Político e Eleitoral (IDPE). É Presidente da Sexta Turma do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB-SP. Foi Assessora Jurídica-Chefe da Secretaria de Comunicação e Informação Social da Prefeitura do Município de São Paulo

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Laiz Soares, formada em Relações Internacionais (PUC-MG), é uma jovem política mineira, consultora e professora

Realpolitik é a política dura do dia a dia. É a realidade empírica, a qual só é conhecida por quem de fato vivencia essa experiência. Para as mulheres na política, essa realidade pode ser muito pior do que se vê , lê ou ouve por aí.  Casos de violência política de gênero, ataques machistas e fake news são apenas a ponta do iceberg. São as consequências de repetidos atos cotidianos que massacram, humilham , perseguem, boicotam, e até vencem pelo cansaço. Difícil mesmo é enfrentar a realidade do dia a dia que ninguém vê.

Nunca saber em quem acreditar e no que acreditar, já que a estrutura machista acha que você é burra, manipulável e ingênua, é uma das piores partes. Ter de ficar 24 horas por dia provando que é inteligente, mostrando força e competência, também cansa bastante.

Na política, existem códigos que só se entende e se descobre depois que se entra. Como todo métier, tem seu código, sua realidade peculiar. Por exemplo: uma pessoa tem valor na política pela quantidade absoluta de votos que ela teve ou pela projeção potencial de votos que ela poderá ter.  É tipo uma bolsa de valores, e seu valor de mercado oscila de acordo com a quantidade de votos. Essa lógica objetiva funciona super bem para os homens. Porém, quando se trata de uma mulher, a realidade objetiva do número é suplantada pela realidade subjetiva do machismo. É como se no inconsciente coletivo de muitos homens da política fosse impossível acreditar que uma mulher tenha tido muito voto por mérito próprio, e muito menos vislumbrar o potencial real dela no futuro. Se a pessoa é uma mulher, a votação é comumente atribuída a fatores exógenos (um vento favorável que bateu, algum homem que ajudou) e seu potencial de crescimento futuro sempre relativizado e projetado para baixo.

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Não existe indicador objetivo, feito concreto no passado e nem resultado numérico que dê conta de resolver o bloqueio do machismo estrutural que não consegue ver a real força das mulheres. Sem falar nas táticas infalíveis de prejudicar ou não apoiar mulheres candidatas por omissão, sempre se apoiando na experiência e na persuasão manipuladora para se justificar a falta de apoio a mulheres.

A senadora Simone Tebet disse, recentemente, em encontro com empresários que a elogiaram e se disseram surpresos com seus conhecimentos em assuntos complexos, que fica surpresa com o fato de que até hoje não se consegue acreditar que existe mulher que sabe falar de economia. A deputada federal Tabata Amaral teve e até hoje tem que provar o tempo todo na sua atuação parlamentar que seus votos são seus por sua competência e capacidade, e não porque alguém a colocou lá. É uma luta eterna, inglória. Seja para uma senadora com 20 anos de vida pública ou uma deputada que está no começo de sua carreira, o enredo é o mesmo: tudo é feito para que a mulher desista, recue, seja vencida pelo cansaço.

A tarefa é árdua, mas os avanços percebidos demonstram que vale lutar contra esse ciclo. As alterações legislativas recentes que estabeleceram que o voto das mulheres valerá em dobro para a distribuição de recursos eleitorais, por exemplo, mostram que, de forma pragmática, podem ser adotadas medidas que demonstrem que vale a pena a mudança de posicionamento das legendas. Mas, isso não é tudo. É imperioso lutar pela efetiva paridade de gênero nos parlamentos e nos órgãos decisórios dos partidos políticos.

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