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O que os mapas eleitorais nos contam

O fator Ciro: fenômeno cearense ou 3ª via nacional?

Em 16 anos, ex-ministro anda de lado nas eleições presidenciais que disputou e concentra votos em seu Estado natal

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Por Luiz Ugeda
Atualização:

As eleições começaram oficialmente esta semana, com quase todos os olhares voltados para Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro. Quase todos. Ciro Gomes, uma das alternativas para uma possível terceira via, foi ao programa Roda Viva, falou sobre seus eventuais destemperos e sobre a possível eleição de Lula corresponder ao "maior estelionato eleitoral" do planeta.

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Mas quem Ciro representa?

O ex-governador do Ceará e ex-ministro concorreu a três eleições presidenciais, 1998, 2002 e 2018. Se usarmos a ferramenta Geografia do Voto, parceria entre o Estadão e a Agência Geocracia, para olharmos as últimas duas, vemos que sua evolução eleitoral é quase o resultado matemático de uma regra de três simples. Se, em 2002, Ciro teve 10,1 milhões de votos em 115 milhões possíveis; em 2018, teve 13,3 milhões em 147 milhões possíveis. Ou seja, em 16 anos, ele praticamente andou de lado, de 8,8% para 9% dos votos nacionais.

Ciro Gomes durante ato de campanha em Guaianases, em São Paulo. FOTO: KEINY ANDRADE 

Nas duas eleições, para cada seis votos que recebeu, um foi cearense. A trajetória eleitoral de Ciro diz muito sobre a evolução do Ceará como motor econômico do Nordeste - basicamente, pela progressão populacional acima da média regional e pelo incremento econômico estadual fomentado pelas energias eólica e solar.

Ao analisarmos os mapas abaixo, fica clara a concentração de votos de Ciro no Ceará. Se, em 2002, ele teve uma votação expressiva no Maranhão e Amazonas (sob a ótica proporcional), em 2018, sua base eleitoral ficou altamente concentrada no Ceará, Estado que o Censo 2022 deve apontar como um dos que mais viu o aumento de renda das famílias, reflexo do crescimento econômico cearense nos últimos 12 anos.

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Votação de Ciro em 2002

 

Votação de Ciro em 2018

Se o cenário cada vez mais provável de eleição polarizada se confirmar e a tal terceira via não decolar, uma boa pista para estimar a votação de Ciro, em outubro, é aplicar novamente a regra de três para 2022, mesmo sem os valiosos resultados do Censo deste ano e considerando o avanço econômico proporcional (estimado) do Ceará no contexto nacional. Por essa conta, ele deverá ter cerca de 14,2 milhões de votos para os mais de 156 milhões de eleitores registrados para o pleito deste ano.

E, na hipótese de um segundo turno sem sua presença, ainda é uma incógnita o que fará Ciro. Em 2018, sua partida para Paris após o primeiro turno esvaziou os apoios para a campanha de Fernando Haddad, abrindo ainda mais a ferida com os petistas. Há, no entanto, quem cogite que ele poderia desistir de sua candidatura às vésperas das eleições para apoiar Lula, aliado de tempos longínquos e que ainda almeja uma vitória no primeiro turno - algo que Lula não conseguiu nem em seus melhores dias.

Mas, a se confirmar a provável repetição da concentração de votos no Ceará, isso retratará muito mais a ascensão de Fortaleza como o principal pólo econômico nordestino - dado que deverá estar retratado no Censo 2022 -, do que necessariamente a representação de um projeto político nacional. A conferir.

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