É quase um lugar comum dizer que Minas é a síntese eleitoral do Brasil. Segundo maior colégio eleitoral do País, à primeira vista parece irônico dizer que a nação majoritariamente esparramada pelo litoral é representada por um Estado sem saída para o mar. Todavia, enquanto caixa d'água do País e conjugando cabeceiras de 17 bacias hidrográficas, Minas, com seus fatores demográficos e econômicos que muitos julgam se misturar no estado, têm um certo padrão de separação pelas águas fluviais.
A ferramenta Geografia do Voto, parceria entre o Estadão e a agência Geocracia, indica que essa lógica hidrográfica traz uma prevalência da direita nas bacias do rio Paranaíba, rio Grande, Doce e da cabeceira do São Francisco, esta última por força da grande Belo Horizonte. A esquerda prevaleceria nas demais, e a bacia do Paraíba do Sul, onde se encontra Juiz de Fora, seria uma zona sem prevalência clara.
Esse fenômeno ocorreu em pelo menos duas situações nas eleições de 2018, com resultados muito próximos espacialmente. No primeiro turno para governador, a então surpresa Romeu Zema obteve vitória sobre Fernando Pimentel, que sequer chegaria a ir para o segundo turno, vaga ocupada por Antonio Anastasia.
Cenário parecido ocorreu na eleição presidencial, mas com uma pequena expansão dos votos da esquerda, principalmente no extremo oeste do Triângulo Mineiro e em alguns municípios ao longo das três bacias hidrográficas onde a direita predomina.
Quando os especialistas afirmam que Minas decidirá as eleições nacionais significa, na prática, percebermos quais serão as características dessas duas massas eleitorais opostas. Se os votos majoritários das bacias do Paranaíba, Grande, Doce e da cabeceira do rio São Francisco prevalecerão sobre as demais ou o contrário. Não é exatamente uma transposição de águas, mas de votos, entre bacias hidrográficas que, segundo os especialistas, definirá as eleições deste ano.
As águas de Minas, que sempre criaram cidades e curaram doenças, talvez tenham um novo atributo: definir eleições.