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Volume morto do Cantareira esvaziou lago do sítio de Atibaia, diz executivo

Crise hídrica que atormentou São Paulo provocou esvaziamento do 'lago de cima' do Santa Bárbara, cuja propriedade a Lava Jato atribui a Lula

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Por Ricardo Brandt , Julia Affonso , Luiz Vassallo e enviado especial a Curitiba
Atualização:

Sítio de Atibaia. Foto: Marcio Fernandes/Estadão

A crise hídrica que atormentou São Paulo em 2014 atingiu um lago do sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), propriedade que a Operação Lava Jato atribui ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A informação foi dada pelo executivo Paulo Gordilho, da OAS, interrogado pelo juiz Sérgio Moro na Operação Lava Jato nesta quarta-feira, 26.

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Durante a crise hídrica, entre 2013 e 2014, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) recorreu ao volume morto do Sistema Cantareira para ofertar água à população da Região Metropolitana. O Cantareira é considerado o manancial mais importante de São Paulo.

Gordilho afirmou que fez uma visita ao sítio de Atibaia 'na época da Cantareira, que estavam pegando o volume morto'. O executivo relatou que estava acompanhado do então presidente da OAS José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro.

"O lençol freático do sítio dele lá baixou. E, com isso, ele tem um lago na parte de cima e um lago na parte de baixo. O lago de cima estava esvaziando todo. O Léo me levou lá para dar uma solução técnica. Não se conseguiu resolver esse problema 100%, resolveu 80%. Foi feito um tapa buraco, esvaziou o lago", relatou.

Gordilho declarou que 'o lago estava em cima de uma camada de lama e uma camada de manta butílica e a água estava passando por debaixo da alvenaria de pedra e saindo pelo vertedouro e saindo pro lago debaixo'.

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"As soluções técnicas para isso eram soluções de obra pesada. Você tinha várias soluções, você tinha solução de derrubar e fazer outra. Você tinha a solução de esvaziar o lago todo, tirar a lama e meter uma manta butílica no lago todo e você tinha soluções de levar bate estaca grandes para fazer uma cortina de concreto para evitar que... e ir com essa fundação até um terreno sólido, senão até a rocha, para poder evitar que a água passasse do lago de cima para o lago de baixo. Foram soluções que não foram feitas, porque estragava muito o sítio, as ruas, toda a região lá, porque são equipamentos pesados", relatou.

Paulo Gordilho foi interrogado em ação penal na qual é réu também o ex-presidente Lula. O petista é acusado de receber R$ 3,7 milhões em benefício próprio - de um valor de R$ 87 milhões de corrupção - da empreiteira OAS, entre 2006 e 2012. As acusações contra Lula são relativas ao suposto recebimento de vantagens ilícitas da empreiteira OAS por meio do triplex no Guarujá, no Solaris, e ao armazenamento de bens do acervo presidencial, de 2011 a 2016.

O sítio de Atibaia não é alvo desta ação penal. Em outro inquérito, a Polícia Federal investiga se o ex-presidente é o verdadeiro dono da propriedade rural - o que é negado enfaticamente por seu advogado, o criminalista Cristiano Zanin Martins.

COM A PALAVRA, CRISTIANO ZANIN MARTINS, DEFENSOR DE LULA

"A narrativa de Paulo Gordilho, ex-diretor técnico da OAS Empreendimentos, de que soube em 2011 que a unidade 164-A do Condomínio Solaris, no Guarujá, havia sido reservada para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou isolada e sem nenhuma evidência após ele reconhecer, em respostas a perguntas da defesa, que não tinha qualquer conhecimento ou atuação na área de vendas da empresa.

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A declaração também destoa não apenas das 73 testemunhas que o antecederam nos depoimentos sobre o caso triplex - entre eles funcionários da companhia-, mas também do que afirmou Fábio Yonamine, ex-presidente da mesma OAS Empreendimentos. Gordilho e Yonamini foram ouvidos hoje em Curitiba e também são réus na ação penal.

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Subordinado a Léo Pinheiro, Yonamine foi categórico ao dizer que a área financeira da OAS Empreendimentos não tinha conhecimento de reserva de qualquer unidade para o ex-presidente - que nunca nenhum pedido lhe foi feito por Pinheiro nesse sentido - e que a unidade 164-A sempre integrou o estoque da empresa, ou seja, era e continua sendo um ativo da OAS.

A mesma informação havia sido prestada em depoimento por Igor Pontes e Mariuza Marques, ambos também da OAS Empreendimentos. Pontes foi ouvido no processo como testemunha, com obrigação de dizer a verdade, e reforçou, em seu depoimento, que a reforma era 'para melhorar a unidade, já que era muito simples, com o intuito de facilitar o interesse de Lula pelo apartamento'.

O pedido de reforma do triplex foi feito a Yonamine por Pinheiro, que pediu igualmente que ele organizasse uma visita à unidade para Lula e d.Marisa Letícia, o que ocorreu em fevereiro de 2014.

Afirmou que essa visita foi uma apresentação do apartamento e das áreas comuns do prédio e que o ex-presidente e sua esposa não pediram nenhuma alteração no imóvel, mas fizeram apenas observações em relação ao local. Yonamine disse que a reforma feita pela OAS no imóvel de propriedade da empresa foi realizada com recursos próprios e lícitos, sem qualquer relação com a Petrobrás.

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Quanto às melhorias feitas no sítio de Atibaia, de propriedade de Fernando Bittar, registra-se que o próprio Gordilho reconheceu ter estado com ele na propriedade e que era Bittar quem sempre tratou com a OAS sobre o imóvel."

Cristiano Zanin Martins

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