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Você está pronto para uma mudança de paradigma na avaliação?

Por Isabela Villas Boas
Atualização:
Isabela Villas Boas. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Muitas pessoas confundem avaliação da aprendizagem com provas quando, na verdade, as provas são apenas um tipo de instrumento de avaliação entre tantos outros. A prova é conhecida como a principal forma de avaliação porque estamos acostumados com um contexto educacional de turmas grandes e um currículo conteudista e focado na decoreba. Além disso, exames de admissão em universidades, como ENEM e Vestibular, fazem com que as pessoas supervalorizem o uso de provas como o principal instrumento de avaliação. Como esses exames são, em sua maioria, de múltipla escolha, por conta da necessidade de um maior nível de confiabilidade, dado o seu alto impacto, as provas nas escolas tendem a replicar esse modelo, no intuito de treinar os alunos para se saírem bem. Um fator que incentiva essa ênfase em provas à lá ENEM e similares é o ranqueamento das escolas a partir dos resultados. Com isso, a sociedade passa a julgar a qualidade de uma escola pelo resultado de uma avaliação de múltipla escolha de um pequeno, mas muito pequeno recorte de tudo o mais que ela tem a oferecer para a formação de cidadãos éticos, criativos, curiosos, comprometidos com a sociedade e colaborativos.

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Isso não faz sentido algum. Se pararmos para pensar, quantas provas em larga escala, como o ENEM, os alunos farão ao longo de sua vida? Três, quatro, talvez? Por outro lado, quantos textos em diversos gêneros os alunos terão que produzir durante o resto de suas vidas? Quantas vezes terão que fazer bom uso da língua portuguesa e de seus conhecimentos gerais e específicos para apresentarem um argumento, participarem de uma entrevista de emprego, participarem de um debate formal ou informal, reivindicarem seus direitos nas diversas esferas de sua vida etc.? Isso sem falar em como terão que usar seus conhecimentos de história, geografia, matemática e todas as outras disciplinas em situações de sua vida real. Certamente não será por meio de provas de múltipla escolha!

Existe uma grande diferença entre os exames em larga escala - como o ENEM e o Vestibular - e avaliação em sala de aula. É um erro achar que os primeiros devem apenas reproduzir os últimos. A sala de aula precisa dar conta de uma diversidade e complexidade muito maior de objetivos de aprendizagem do que um único exame de admissão. Além disso, hoje não se admite mais que o professor se valha apenas de aulas expositivas como metodologia de ensino. Metodologias ativas que favorecem a interação dos alunos e o seu protagonismo na produção do conhecimento estão cada vez mais presentes em escolas contemporâneas e inovadoras, antenadas às novas demandas do século 21. Essas novas metodologias fazem com que outras formas de avaliação sejam privilegiadas.

Outro fator que tem mudado o paradigma contemporâneo de avaliação é a tendência atual de deixar de estimular a competição e passar a privilegiar a cooperação. Os desafios do mundo contemporâneo exigem pessoas que consigam trabalhar em grupos para buscar soluções para novos problemas, que pensem criticamente e com criatividade e que dominem a arte da comunicação efetiva. Com isso, as tradicionais provas de múltipla escolha e mesmo as que têm alguma produção, como preenchimento de lacunas ou respostas a perguntas específicas, estão dando lugar a outras maneiras de avaliar a aprendizagem que são bem mais autênticas. Chamamos esse tipo de avaliação - não tão novo no mundo, mas novo no Brasil - de avaliação alternativa ou avaliação autêntica.

Um exemplo de avaliação alternativa é aquela em que o aluno tem que demonstrar que atingiu os objetivos de aprendizagem por meio de um artefato real, como um vídeo, uma apresentação ou por meio da escrita. Pode também ser por meio de um projeto. Esse vídeo ou essa produção escrita é avaliado a partir de descritores de desempenho que abordam os objetivos de aprendizagem. No ensino da língua inglesa, por exemplo, os descritores avaliam a qualidade do conteúdo, a organização das ideias, o uso da linguagem correta, o uso do vocabulário e, no caso de uma produção oral, a pronúncia inteligível. Outro aspecto importante da avaliação contemporânea é que ela não é mais uma avaliação DA aprendizagem e sim PARA a aprendizagem. Isso quer dizer que a avaliação tem como objetivo promover a aprendizagem. Nesse sentido, oportunidades de refazer o trabalho são fundamentais. É fundamental também que a avaliação para promover a aprendizagem seja feita pelo próprio aluno - autoavaliação - pelos colegas - avaliação por pares. Com esse feedback, o aluno pode refazer o seu trabalho quantas vezes achar necessárias até que consiga atingir todos os objetivos. Ao refazer, o aluno está constantemente aprendendo.

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Nesse novo paradigma não cabem ideias ultrapassadas, tais como incluir pegadinhas ou ranquear os alunos de acordo com sua nota. O objetivo é que todos aprendam, que todos tenham sucesso. Esse novo paradigma também permite a personalização da avaliação. Quando os alunos fazem uma prova, espera-se que todos produzam a mesma resposta. Na avaliação autêntica e focada na performance real do aluno, na sua produção autêntica, o artefato oral ou escrito do aluno é único, só dele, ainda que ele tenha tido que demonstrar que sabe usar um vocabulário específico ou uma estrutura da língua específica.

Há que se fazer um alerta: Não estamos mudando paradigmas quando adotamos essas abordagens alternativas de avaliação como complemento secundário à nota da prova Mudança de paradigma é abolir as provas, ou pelo menos reduzir drasticamente o seu peso, e privilegiar maneiras mais autênticas de o aluno demonstrar que atingiu os objetivos de aprendizagem.

*Isabela Villas Boas, doutora em Educação, gerente Corporativa Acadêmica da Casa Thomas Jefferson

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