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Visita de Lula a Angola fez governo destravar pagamento do governo para Odebrecht

Alexandrino Alencar, que era o elo de Emílio Odebrecht com o ex-presidente, disse em delação que ajudou a criar com Paulo Okamoto projeto de palestras, como forma de remuneração do petista; grupo pagou US$ 2 milhões desde 2011

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Foto do author Luiz Vassallo
Por Julia Affonso , Ricardo Brandt e Luiz Vassallo
Atualização:

Foto entregue por delator (de azul) de visita de Lula a Angola, em 2014 Foto: Reprodução

O delator Alexandrino Alencar, canal de contato entre o empresário Emílio Odebrecht e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos últimos 20 anos, afirmou que, em 2014, o grupo conseguiu que o governo de Angola liberasse o pagamento de faturas devidas que estavam em atraso, após a "mera notícia da visita" do petista ao País.

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Lula esteve em Luanda, capital de Angola, para dar uma palestra, patrocinada pela Odebrecht, no dia 6 de maio.

"Estive em Luanda com Emílio Odebrecht acompanhando a visita do ex-presidente Lula, que daria uma palestra aos empresários locais, patrocinada pela CNO (Construtora Norberto Odebrecht)", relatou Alexandrino, sobre os pagamentos de palestras de Lula.

O petista teria se reunido ainda com o presidente angolano José Eduardo Santos, juntamento com Emílio, e participado ainda de um coquetel na embaixada do Brasil.

"Existia um impacto intangível nas visitas de Lula", afirmou Alexandrino.

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O delator afirmou que desde 2011, quando Lula deixou a Presidência e abriu a LILS Palestras, Eventos e Publicações, a Odebrecht pagou cerca de US$ 2 milhões à empresa do ex-presidente, por suas palestras. Foto: Estadão

"Eu era normalmente demandado pelos nossos empresários do exterior, que a mim solicitavam entra em contato com a empresa de palestras do ex-presidente (LILS Palestras, Eventos e Publicações) para agendar datas, e detalhes contratuais."

As palestras de Lula eram "tabeladas", segundo Alexandrino, em US$ 200 mil. "Esses valores eram repassados aos nossos empresários no exterior, que realizavam os respectivos pagamentos e arcavam com os custos da viagens e demais despesas."

Alexandrino disse que o preço a se cobrar teve como "parâmetro Bill Clinton" e de outros "presidentes internacionais", que cobravam na faixa de US$ 100 mil. "Subiu a régua e precificou US$ 200 mil. Que me conste, as quarenta e tantas palestras que ele fez foram todas US$ 200 mil dólares."

 

 

O patriarca da delação, Emílio Odebrecht, confirmou em um termo de colaboração específico (anexo 12) que o grupo incentivou Lula a fazer palestras e que a empresa arcava com as despesas de viagem.

"Seguindo o modelo adotado por outros ex-chefes de Estado, conversamos e apoiamos o ex-presidente a realizar palestras em diversos países em que a Odebrecht atuava, inclusive arcando com as despeas de viagens, feitas em jatos executivos", registra Emílio, em sua delação.

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 Foto: Estadão

"No caso dos jatos executivos, eu orientava Alexandrino que não fossem usados jatos da empresa e pedia que os custos fossem compartilhados com outras empresas. Uma das empresas que usamos para fazer frente e pagar uma das viagens do ex-prseidente foi a DAG Construtora Ltda, do empresário Demerval Gusmão Filho", disse Emílio.

A DAG é de um amigo de Marcelo Odebrecht e também foi usada pela Odebrecht na compra do terreno em São Paulo, por R$ 12 milhões, que seria dado para ser a sede do Instituto Lula.

 Foto: Estadão

 

Criador. Principal elo entre Emílio e Lula, Alexandrino relatou em sua delação premiada que junto com o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto, ele contruiu o "programa de palestras".

Era uma forma de "remuneração ao ex-presidente Lula".

"Em 2010, a partir do segundo semestre, com o término do mandato do presidente Lula, Paulo Okamto começou a organização do que viria a ser o Instituto Lula, até então chamado de Instituto da Cidadania", diz Alexandrino. "Dentro da política da companhia de manter um bom relacionamento e de autorizar na transição do ex-presidente para as novas atividades privadas, me aproximei mais de Paulo Okamoto para ajudar a construir essa nova entidade", explicou.

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"Dentro desse espírito construímos juntos o programa de palestras como uma forma de remuneração do ex-presidente Lula."

O delator afirmou que o ex-presidente Lula era um 'popstar' em países da África e da América Latina. Segundo ele, o petista era um 'cartão de visitas' da construtora.

 
 

Ele listou os países onde Lula foi levado para fazer palestras e detalhes dos eventos.

Em 2011, as palestras foram no Panamá, Venezuela e Angola. Nesse primeiro evento, no país angolano, o delator relatou, e Emílio Odebrecht confirmou, que Lula apresentou seu sobrinho Taiguara Rodrigues, que acabou contratado pelo grupo.

Em 2012, Alexandrino disse que não houve palestras, devido à doença de Lula - que teve câncer.

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Em 2013, as palestras foram na República Dominicana, Guiné Equatorial, Peru, Argentina e Portugal

Em 2014, os eventos patrocinados pela Odebrecht foram em Cuba e o de Angola.

 

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