O delator Alexandrino Alencar, canal de contato entre o empresário Emílio Odebrecht e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos últimos 20 anos, afirmou que, em 2014, o grupo conseguiu que o governo de Angola liberasse o pagamento de faturas devidas que estavam em atraso, após a "mera notícia da visita" do petista ao País.
Lula esteve em Luanda, capital de Angola, para dar uma palestra, patrocinada pela Odebrecht, no dia 6 de maio.
"Estive em Luanda com Emílio Odebrecht acompanhando a visita do ex-presidente Lula, que daria uma palestra aos empresários locais, patrocinada pela CNO (Construtora Norberto Odebrecht)", relatou Alexandrino, sobre os pagamentos de palestras de Lula.
O petista teria se reunido ainda com o presidente angolano José Eduardo Santos, juntamento com Emílio, e participado ainda de um coquetel na embaixada do Brasil.
"Existia um impacto intangível nas visitas de Lula", afirmou Alexandrino.
"Eu era normalmente demandado pelos nossos empresários do exterior, que a mim solicitavam entra em contato com a empresa de palestras do ex-presidente (LILS Palestras, Eventos e Publicações) para agendar datas, e detalhes contratuais."
As palestras de Lula eram "tabeladas", segundo Alexandrino, em US$ 200 mil. "Esses valores eram repassados aos nossos empresários no exterior, que realizavam os respectivos pagamentos e arcavam com os custos da viagens e demais despesas."
Alexandrino disse que o preço a se cobrar teve como "parâmetro Bill Clinton" e de outros "presidentes internacionais", que cobravam na faixa de US$ 100 mil. "Subiu a régua e precificou US$ 200 mil. Que me conste, as quarenta e tantas palestras que ele fez foram todas US$ 200 mil dólares."
O patriarca da delação, Emílio Odebrecht, confirmou em um termo de colaboração específico (anexo 12) que o grupo incentivou Lula a fazer palestras e que a empresa arcava com as despesas de viagem.
"Seguindo o modelo adotado por outros ex-chefes de Estado, conversamos e apoiamos o ex-presidente a realizar palestras em diversos países em que a Odebrecht atuava, inclusive arcando com as despeas de viagens, feitas em jatos executivos", registra Emílio, em sua delação.
"No caso dos jatos executivos, eu orientava Alexandrino que não fossem usados jatos da empresa e pedia que os custos fossem compartilhados com outras empresas. Uma das empresas que usamos para fazer frente e pagar uma das viagens do ex-prseidente foi a DAG Construtora Ltda, do empresário Demerval Gusmão Filho", disse Emílio.
A DAG é de um amigo de Marcelo Odebrecht e também foi usada pela Odebrecht na compra do terreno em São Paulo, por R$ 12 milhões, que seria dado para ser a sede do Instituto Lula.
Criador. Principal elo entre Emílio e Lula, Alexandrino relatou em sua delação premiada que junto com o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamoto, ele contruiu o "programa de palestras".
Era uma forma de "remuneração ao ex-presidente Lula".
"Em 2010, a partir do segundo semestre, com o término do mandato do presidente Lula, Paulo Okamto começou a organização do que viria a ser o Instituto Lula, até então chamado de Instituto da Cidadania", diz Alexandrino. "Dentro da política da companhia de manter um bom relacionamento e de autorizar na transição do ex-presidente para as novas atividades privadas, me aproximei mais de Paulo Okamoto para ajudar a construir essa nova entidade", explicou.
"Dentro desse espírito construímos juntos o programa de palestras como uma forma de remuneração do ex-presidente Lula."
O delator afirmou que o ex-presidente Lula era um 'popstar' em países da África e da América Latina. Segundo ele, o petista era um 'cartão de visitas' da construtora.
Ele listou os países onde Lula foi levado para fazer palestras e detalhes dos eventos.
Em 2011, as palestras foram no Panamá, Venezuela e Angola. Nesse primeiro evento, no país angolano, o delator relatou, e Emílio Odebrecht confirmou, que Lula apresentou seu sobrinho Taiguara Rodrigues, que acabou contratado pelo grupo.
Em 2012, Alexandrino disse que não houve palestras, devido à doença de Lula - que teve câncer.
Em 2013, as palestras foram na República Dominicana, Guiné Equatorial, Peru, Argentina e Portugal
Em 2014, os eventos patrocinados pela Odebrecht foram em Cuba e o de Angola.