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Violência epidêmica e o nosso papel

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Por Luciana Graiche
Atualização:
Luciana Graiche. Foto: Divulgação

Como se sabe, em prol da economia do país, a cidade de São Paulo vem retomando suas atividades aos poucos. Comércios estão sendo abertos, parques também, mas milhares de mulheres, idosos e crianças ainda estão presos dentro de um ciclo de violência que parece não ter fim.

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Essa realidade, muitas vezes, pode ser transformada com uma simples atitude sua, do seu vizinho ou do colega de trabalho. Colocar o assunto em evidência, dialogar e esclarecer pode fazer a diferença e salvar vítimas dessa outra epidemia que também assola o nosso país: a violência doméstica e familiar.

Todos podem se envolver e se responsabilizar enquanto cidadãos. Os discursos de que "em briga de marido e mulher ninguém mete a colher" ou "depois eles se acertam e eu serei o vilão", já não condizem mais com essa triste realidade que buscamos combater.

Esta nova postura vem sendo reforçada dia após dia e a recente aprovação no Senado, no dia 8 de julho, de projeto de lei que obriga moradores e síndicos de condomínios a denunciarem casos de violência doméstica às autoridades competentes, vem trazer ainda mais vigor ao assunto. O texto agora vai à análise da Câmara dos Deputados.

Enquanto a proposta segue em tramitação, as estatísticas aumentam significativamente durante o isolamento social, por isso são tão importantes as campanhas de conscientização e de encorajamento à denúncia por todos, já que muitas vezes a própria vítima se vê impedida de tomar uma atitude.

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O aumento de casos de violência doméstica, só em São Paulo, segundo dados do Cravi (Centro de Referência e Apoio à Vítima), bateu recorde e cresceu 70% em maio de 2020 em relação ao mesmo mês do ano passado.

É preciso buscar maneiras de atuar, orientar e colocar luz sobre o problema. Essas medidas cabem aos cidadãos e às empresas. As ações podem seguir em diversas direções, abrangendo vítimas e testemunhas da violência. Exemplos de boas alternativas incluem criação de botões de acesso virtual para as mulheres vítimas de violência doméstica em canais de comunicação do condomínio, empresas e associações direcionando as vítimas para uma rede de apoio, acolhimento e auxílio, como por exemplo, o projeto SOS Justiceiras. Outras opções abarcam a distribuição de cartilhas de orientações para condôminos, treinamento de funcionários para alerta de emergência e acolhimento das vítimas, dentre outras.

O assunto precisa ser debatido, exposto e esclarecido, de modo que todos possam participar efetivamente da redução dos problemas sociais, como é o caso da violência doméstica. Questões culturais e estruturais já nos trouxeram tarde para essa discussão, por isso é tão importante que todos tenham claro seu papel no combate. Não importa se a vítima pede ou não ajuda, o senso de conduta deve direcionar para a denúncia e ação imediata. A base para a atuação das pessoas é saber, de maneira clara, o que é preciso fazer em casos emergenciais: como socorrer a vítima, como pedir ajuda, como denunciar e como acolher. Já há informações e dispositivos legais suficientes para subsidiar atitudes proativas, como redes de apoio psicossocial e médica, envolvimento de instituições sérias e o principal: a disposição das pessoas para ajudar ao próximo.

O enfrentamento à violência, em seus mais variados gêneros, como assédio moral e sexual, calúnia, difamação, injúria, racismo, homofobia, além de crimes contra crianças, idosos e pessoas portadoras de necessidades especiais, deve ser pauta constante em reuniões de condomínios e treinamentos de colaboradores.

Não se deve agir apenas em casos explícitos de violência doméstica, que envolvem agressões graves, barulhos e pedidos de socorro. É preciso prevenir, tocar na ferida, abordar o tema, dialogar, preparar e ilustrar exemplos para que essa luta venha a fazer parte da construção de um novo "senso comum", de uma nova educação social, em proteção ao bem comum.

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Há epidemias que enfrentamos há séculos e a violência doméstica é uma delas.

*Luciana Graiche é vice-presidente do Grupo Graiche

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