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Vieses inconscientes: o debate ganha força com o sucesso de 'The Masked Singer Brasil'

Por Cammila Yochabell
Atualização:
Cammila Yochabell. FOTO: JOBECAM/DIV. Foto: Estadão

O ser humano é um animal social que aprende, cresce e se desenvolve no coletivo, onde a sua mente é alimentada pelos ambientes e suas influências. Os julgamentos são afetados por crenças que as pessoas são ensinadas a acreditar durante a vida. É nesse contexto que se encontram os vieses inconscientes, que são os entendimentos que foram tão incorporados que acabam se tornando instantâneos e imperceptíveis, ou seja, que não passam por uma reflexão. Estereótipos de gênero, raça, classe, idade, dentre outros tantos são alguns exemplos.

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Nos últimos dias temos acompanhado o assunto ganhar as telinhas com programas e séries de TV discutindo o tema de maneira implícita. É o caso do "The Masked Singer Brasil", que de maneira divertida e com o uso de fantasias e a música, trouxe uma reflexão sobre a maneira como percebemos as pessoas, sem que a identidade da mesma seja revelada. Outro sucesso de audiência é a série "Casamento às Cegas", da Netflix, que propõe encontros ocultos entre potenciais casais, que vão se conhecendo apenas pelos gostos em comum, sinergia de pensamento, etc.

Uma coisa é certa e ambos os programas trazem para o centro das discussões, a importância de eliminarmos os vieses inconscientes. O que o The Masked Singer tenta fazer ao "mascarar" seus participantes é garantir que os jurados foquem em suas reais habilidades na música. Assim como em "Casamento às cegas", os participantes focam em interesses em comum.

Mas não é só o entretenimento que tem olhado para essa questão, as empresas também têm buscado trazer para os seus processos seletivos, maneiras de derrubar os vieses inconscientes. Ou seja, focar nas habilidades reais das pessoas candidatas, sem que eles revelem sua aparência ou a sua voz. Assim os departamentos de RH conseguem escolher o profissional mais capacitado e ao mesmo tempo criar um ambiente mais diverso e sem nenhuma interferência de percepção consciente ou até inconsciente.

Sabemos que o mercado de trabalho tem cor e gênero predominantes. Segundo um estudo conduzido pelo Instituto Ethos no ano passado, com as 500 maiores empresas do Brasil, apenas 4,7% dos profissionais pretos e pardos ocupam cargos executivos. Esse número cai ainda mais quando estamos falando de mulheres negras, para 0,4%. Além disso, somente 13% das mulheres estão à frente de cargos de liderança no país. Portanto, antes do sucesso profissional, generalizações e julgamentos acompanham a carreira de grupos minoritários.

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Ao conhecer alguém, se apela ao estigma de grupo que essa pessoa pertence, e libertar-se desses vieses é mais difícil do que incorporá-los. Para economizar tempo e energia do corpo, muitas vezes se age de forma inconsciente, como piscar os olhos e respirar, por exemplo. Mesmo que a mente humana seja mais complexa do que isso, acontece um processo semelhante na parte rudimentar do cérebro.

De acordo com uma Pesquisa Global de Diversidade e Inclusão da PCW realizada recentemente, 76% das empresas dizem que a diversidade é uma prioridade. Além disso, pesquisa da McKinsey de julho de 2020, mostra que companhias que investem na pauta tem uma lucratividade de até 33% acima da média. Mesmo com tantos números positivos, a realidade corporativa ainda é muito diferente no país.

Os vieses inconscientes são divididos em vários grupos, mas um dos mais comuns é o viés de afinidade, que nada mais é do que a tendência de avaliar positivamente quem se parece conosco. Um estudo da Harvard Business Review, realizado no Linkedin também no ano passado, mostra que para mulheres serem consideradas aptas a vagas de trabalho elas precisam preencher 100% dos requisitos, 40% a mais do que os homens.

Se os recrutadores são majoritariamente homens, brancos e héteros, como incluir mulheres, pessoas negras e LGBTQIA+ em cargos corporativos?

*Cammila Yochabell, CEO da Jobecam

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