Em vídeo recebido com exclusividade pelo ESTADÃO, o empresário Thiago Brennand, 42, cometeria atos de intolerância religiosa e racismo ao vandalizar uma oferenda típica de religiões de matriz africana. De acordo com as imagens haveria pelo menos duas pessoas com ele.
Ele ganhou os noticiários nas últimas semanas após ter sido flagrado por câmeras de segurança agredindo a modelo Helena Gomes, 37, em uma academia dentro de um shopping de São Paulo. Diante da repercussão do caso, ao menos 10 mulheres já teriam o denunciado pelos crimes de assédio sexual, estupro, cárcere privado e ameaça - três delas afirmam terem sido tatuadas à força com as iniciais do nome dele. Desde o último dia 4 ele está fora do país. A Justiça determinou que ele volte ao Brasil e entregue o passaporte até a próxima sexta-feira (23).
Filmado por um terceiro, Brennand se aproxima de uma oferenda típica de religiões de matriz africana, pega a garrafa que está no chão, joga para longe, e em seguida chuta o cesto ao lado. Ele afirma que "isso é xixi ou cerveja" e diz "não quero cheirar isso aí não", afastando-se do local. Um outro rapaz, que o acompanha, cospe sobre o objeto.
Veja o vídeo:
Enquanto anda pela rua, Brennand afirma às pessoas que o acompanham "triplica o álcool, triplica", "agora o espírito ruim vai para mim, vamos ver o que vai acontecer comigo". Em seguida, ele diz que, caso fosse contaminado pelo vírus da Covid-19, seria por causa do contato com a oferenda e faz um gesto obsceno para a câmera.
Nos últimos instantes do vídeo, o empresário diz que "magia negra não existe" e que, se fosse real, nos órgãos de inteligência "ia ter um bocado de macumbeiro, com salário de 50mil dólares, 60 mil. Não precisava nem trabalhar. Ia só 'fazer trabalho' para os outros países". Ele arremata o comentário equiparando a oferenda ao "sexto sentido feminino".
Como explica Ilzver de Matos Oliveira, advogado e doutor em Direito Constitucional e Teoria do Estado pela PUC do Rio de Janeiro e membro do candomblé, o Brasil possui mais de 30 religiões de matriz africana, mas sempre relegou a elas um "segundo lugar". O fato de uma oferenda estar posicionada em um espaço público tampouco autoriza atos de vandalismo: "não se trata, se forma alguma, de lixo, sujeira ou de dano ao meio ambiente", arremata.
A legislação brasileira hoje prevê diversos mecanismos que criminalizam o preconceito religioso e racial. Além da lei nº 7.716/89, que define os crimes vinculados a esse tipo de ato, o Código Penal também possui o delito de ultraje a culto, que inclui o ato de "vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso". A pena prevista é de até um ano de detenção.
A expressão "macumbeiro", também utilizada no vídeo, é considerada ofensiva pelos praticantes das religiões afro. "Nós somos povos de terreiro, povos de matriz africana, e é dessa forma que nós devemos ser chamados e reconhecidos. Chamar de 'macumbeiro' é manter uma forma de exclusão de uma das expressões de religiosidade mais tradicionais e diversas do nosso país", aponta Oliveira.
COM A PALAVRA, THIAGO BRENNAND
A reportagem tenta contato com os advogados que defendem Brennand. A palavra está aberta.