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Veja quanto receberam os caciques do PMDB para não trocarem Dilma por Aécio, em 2014

Delator da JBS deu à Lava Jato detalhes e provas da divisão dos R$ 43 milhões pagos aos senadores Renan Calheiros, Jader Barbalho, Eunício Oliveira, Valdir Raupp, Eduardo Braga, Vital do Rego e Henrique Alves, a pedido de Mantega, da 'conta-corrente' do PT, para comprar apoio à reeleição

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Foto do author Leonencio Nossa
Por Ricardo Brandt , Julia Affonso , Leonencio Nossa e de Brasília
Atualização:

Renan Calheiros. Foto: Evaristo Sá/AFP

O executivo da JBS que era responsável pelos pagamentos para políticos, Ricardo Saud, entregou em sua delação premiada com a Operação Lava Jato um roteiro dos pagamentos do grupo ao PMDB, em 2014, para evitar a debandada da bancada de apoio ao governo Dilma Rousseff (PT), para o candidato da oposição Aécio Neves (PSDB).

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Em depoimento à Procuradoria-Geral da República (PGR), o delator relatou que a JBS teria acertado com o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, os repasses de R$ 43 milhões de "propinas dissimuladas" aos "coringas" do PMDB no Senado.

O objetivo, segundo o delator, era abafar uma rebelião deles contra a candidatura à vice-presidência de Michel Temer na chapa de Dilma. Saud contou que Temer, ao saber do acordo feito sem sua autorização, teria ficado "indignado" e acabou recebendo outros R$ 15 milhões.

 Foto: Estadão
 Foto: Estadão

Responsável pela Diretoria de Assuntos Institucionais e de Governo da JBS, Saud disse aos procuradores, no dia 5 de maio, que o dinheiro repassado a Temer foi tirado da "conta-corrente" com o PT, que tinha um montante de R$ 300 milhões para a disputa de reeleição.

Segundo o delator registra no anexo 26, entregue à PGR, Mantega usou R$ 35 milhões "logo ao abrir a etapa de 'retiradas da conta corrente que o PT mantinha com o Grupo JF".

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"Determinando a Joesley Batista que direcionasse essa quantia para os principais líderes do PMDB no Senado", registra Saud. "Esse direcionamento tinha a finalidade de assegurar a unidade do PMDB, que apresentava, ao tempo, risco real de fratura, com a perspectiva de parte do partido passar a apoiar formalmente Aécio Neves, tendência que era palpável no período anterior à campanha."

Valores. No documento entregue aos investigadores e elaborado pela defesa do delator com base nos registros e informações de Saud, estão listados os valores pagos aos caciques do PMDB: os senadores Renan Calheiros (AL), R$ 9,9 milhões, Jader Barbalho (PA), R$ 8,9 milhões,  Eduardo Braga (AM), R$ 6 milhões, Eunício de Oliveira (CE), R$ 6 milhões, Valdir Raupp (RO), R$ 4 milhões, e Henrique Eduardo Alves (RN), R$ 3 milhões.

Os valores, segundo o delator, não incluem as propinas pagas relacionadas ao presidente Michel Temer, ao ex-presidente Câmara Eduardo Cunha (RJ), ao ex-governador Sérgio Cabral, nem a três governadores peemedebistas e deputados.

Dilma Rousseff e Michel Temer. Foto: Dida Sampaio/Estadão

Provas. O delator entregou ainda, ao listar os valores para cada cacique do PMDB do Senado, que ameaçavam debandar da base de apoio à reeleição de Dilma, como foram pagos os valores: doações oficiais carimbadas, serviços fictícios, como pagamentos por jatos e consultorias e entregas de dinheiro vivo.

O ex-presidente do Senado Renan Calheiro, que recebeu a maior fatia do bolo, recebeu das três formas. Foram R$ 2 milhões repassados em forma de pagamentos para a GPS Comunicação e para o Ibope Inteligência Pesquisa e Consultoria. Outros R$ 4,8 milhões foram entregues em espécie a dois emissários: Durval Rodrigues e Dário Berguer. Para o último, foram dados, segundo o delator, R$ 1 milhão "por ordem de Renan".

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O restante foi pago em doações oficiais para o PMDB de Alagoas - onde o filho Renan Filho foi eleito governador -, Sergipe, Amapá e para o PMDB Nacional, tudo "carimbado" para o senador e por ordem dele. Houve ainda doação ao PTB da Paraíba e ao PT do B Nacional, também seguinte indicação do senador.

Na delação de Saud, ele também registra que o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado, que era afilhado de Renan, no esquema de fatiamento político e corrupção na Petrobrás, errou em dizer em sua delação premiada, fechada em 2016, quem era o representante da JBS em reunião da cúpula do PMDB na residência oficial do então presidente do Senado, onde foi tratado do assunto. (

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Bilhete. Na delação, Saud contou que, em junho ou julho de 2014, o dono da JBS, Joesley Batista, após receber de Mantega a lista dos cinco peemedebistas beneficiários da propina, mandou entregar um "bilhetinho" a Michel Temer contando sobre o acordo.

Saud disse, na delação, que esteve na tarde de um sábado na residência de Temer em São Paulo para cumprir a missão dada por Joesley. Temer teria pedido para Saud adiar o repasse dos recursos.

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"Ele (Temer) ficou indignado. 'Como assim? O que está acontecendo? Estou precisando assumir o PMDB. O PMDB está passando por cima de mim.'", relatou Saud. "Ele (Temer) me pediu: 'Você consegue me dar dois, três dias, antes de conversar com os senadores para eu me movimentar e ver o que pode acontecer?'"

 

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