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Vamos fomentar o empreendedorismo e a inovação no País?

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Por Marcello Capotorto DeMello
Atualização:
Marcello Capotorto DeMello. FOTO: JOÃO NETO Foto: Estadão

Venho notando, nos últimos 15 anos, que os brasileiros têm dado passos interessantes quando o assunto é investimento. Acredito que esta evolução se deve à mudança de cultura aliada à abertura de oportunidades e modelos de negócios. Antes, por exemplo, tínhamos o domínio dos grandes bancos e uma oferta relativamente limitada de produtos financeiros à população, enquanto hoje contamos com um leque bem maior de opções, fruto de novos modos de fazer negócios e que estão impactando todos os segmentos empresariais.

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É preciso falar das Techs, empresas de tecnologia que têm mudado os modelos de negócios. Temos as Fintechs para finanças, com bancos que existem apenas dentro do celular, por exemplo. Para saúde, existem as Healthtechs, que permitem, por exemplo, por meio de um aplicativo, agendar consulta com o médico mais perto da sua residência ou local de trabalho, no horário que mais lhe convier. As tão faladas Foodtechs, para as áreas de alimentos e bebidas, fazem com que seu prato favorito chegue a sua casa em minutos, após uma pesquisa online entre milhares de restaurantes. Enquanto isso, as Edutechs facilitam a vida de quem usa serviços na área de educação, as Agrotechs resolvem questões para a área de agropecuária, e assim por diante. Com tantas mudanças nos mais diversos setores, o modo como investimos nosso dinheiro não poderia ficar de fora desse processo de grandes transformações.

É fato que a opção de investir ainda não é acessível a todos os brasileiros. Muitas vezes a situação econômica do País nos obriga a priorizar o pagamento das contas do dia a dia no lugar de direcionar recursos para as diferentes opções que fazem o dinheiro render. Mas, ainda assim, acredito que a situação mostra que mudanças importantes estão sendo feitas na economia brasileira e portas têm se aberto para um caminho diferente.

Particularmente, tenho forte crença no crowdfunding, agora regulamentado por parte da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), como um meio de movimentar o dinheiro no Brasil. Vale ressaltar que no País este mercado apresentou crescimento de mais de 700% no número de investidores entre os anos de 2016 e 2018, de acordo com dados da CVM. No total, existem mais de uma dezena de plataformas pelas quais você ou eu podemos investir em startups com recursos iniciais de R$ 500, em média. Trata-se de uma aposta que tem recebido cada vez mais atenção de pequenos e médios investidores, ou seja, é algo para ficarmos de olho.

Nos Estados Unidos, o crowdfunding não se popularizou por dois motivos básicos: a antiga legislação que rege a oferta pública de ações; e o baixo interesse dos empreendedores nesse modelo de captação, tendo em vista que existe um grande volume e veículos para o financiamento de startups no país. Por outro lado, assim como no Brasil, na Europa esse modelo de financiamento coletivo vai muito bem, com movimentação de mais de 1 bilhão de reais no ano de 2018, em apenas uma única plataforma britânica de crowdfunding, que tem forte presença nos países da comunidade europeia.

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Minha aposta é de que, no Brasil, o sistema de crowdfunding encerre o ano de 2019 com forte crescimento, como o visto nos últimos dois anos. Aos interessados em aderir a esse modelo de investimento, compartilho três dicas:

  1. Pesquise antes de escolher - Diante de várias opções de startups, verifique quais já receberam investimentos e de quem. Recursos vindos de um venture capital podem ser considerados uma chancela. Mas, busque também saber quem são os sócios da startup, qual é o histórico profissional e empreendedor deles e os motivos que os levam a acreditar no sucesso do negócio. Em geral, as próprias plataformas de crowdfunding abrem possibilidade de que você entre em contato com essas pessoas. Pesquise também sobre a saúde do mercado no qual a startup vai atuar e converse com pessoas da área para entender se o investimento faz sentido. Lembre: toda startup precisa resolver a dor de um grupo de pessoas com eficiência.
  2. Retorno e risco caminham juntos - Tenha em mente que quanto maior for sua chance de retorno financeiro, maior será o prejuízo caso o negócio não prospere. Risco e retorno andam juntos. Quanto maior o potencial de retorno, maior o risco envolvido no negócio. Por exemplo, quando você investe no Tesouro Direto, seu risco é relativamente baixo, mas, em compensação, um título do Tesouro Prefixado, com vencimento em janeiro de 2020, teve uma rentabilidade nos últimos 12 meses de aproximadamente 9%. Agora, sei de pessoas que investiram no 99 (App de transporte), um exemplo de unicórnio brasileiro, e multiplicaram o valor investido em dezenas de vezes após a venda do aplicativo para a gigante chinesa Didi Chuxing.
  3. Dilua seu risco investindo em várias startups - Por conta do que eu disse anteriormente, caso você tenha R$ 10 mil reais disponíveis para investir, recomendo que divida o montante entre várias startups, no lugar de concentrar os recursos em apenas uma ou duas. Ao distribuir o investimento, há considerável redução do risco. O que tenho acompanhado no mercado é que de cada 100 startups fundadas, metade desaparece, 40% geram algum retorno do capital investido, 9% dão um bom retorno aos investidores e 1% tem chances de virar um grande negócio.

O Brasil tem 105 milhões de pessoas economicamente ativas, de acordo com dados do IBGE. Se apenas uma pequena parcela dessa população fizesse investimentos anuais e individuais de R$ 500 em startups por meio das plataformas de crowdfunding, teríamos um montante enorme fomentando o empreendedorismo e a inovação no País. Seria possível impulsionar centenas de negócios em um ano. Considero que esse seria um capital maravilhoso em prol da aceleração da inovação e do empreendedorismo no Brasil, você não acha? Sem contar no retorno financeiro e o engajamento que pode gerar para pessoas comuns, como você e eu.

*Marcello Capotorto DeMello, empreendedor

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