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USP barra pais em sindicância sobre morte do filho

Filipe Varea Leme, de 21 anos, aluno da Geografia e monitor no laboratório de informática da Poli, foi encontrado morto no dia 30 de abril; presidente da comissão considera que 'simples presença dos pais de vítima fatal é capaz de ocasionar comoção, abalos de espírito ou comprometimento nas isenções de declarações'

Foto do author Luiz Vassallo
Foto do author Pepita Ortega
Por Luiz Vassallo e Pepita Ortega
Atualização:

 Foto: NILTON FUKUDA/ESTADÃO

A Universidade de São Paulo barrou a presença dos pais do estudante Filipe Varea Leme na comissão processante que apura as circunstâncias e responsabilidades sobre a morte de seu filho, ocorrida em abril.

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Leme era monitor no laboratório de informática da Escola Politécnica.

Segundo a polícia, bombeiros encontraram o estudante, de 21 anos, por volta das 15h30 do dia 30, preso no elevador do prédio da administração. A vítima estava inconsciente. Ele era aluno do curso de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH).

A Polícia Civil investiga o caso. As autoridades miram as circunstâncias que levaram o estudante a fazer serviços diversos da monitoria em TI - ele morreu enquanto carregava um armário.

A Universidade abriu, no dia 2 de maio, um processo administrativo. Foram nomeados professores da Escola Politécnica (Poli), e das Faculdades de Direito (São Francisco) e de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) para a comissão. A apuração tem prazo de 60 dias.

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Os pais procuraram a USP para poder acompanhar os depoimentos das testemunhas no processo administrativo. Como resposta, o presidente do colegiado, Luciano Anderson de Souza, que é professor de Direito Penal da Faculdade de Direito, afirmou que por 'mais sensível que fiquemos com a situação desses pais, evidentemente abalados com o ocorrido, não é possível permitir que eles acompanhem qualquer depoimento'.

"É regra fundamental da apuração sindicante a isenção e imparcialidade na coleta de provas. Assim, as testemunhas têm de depor de forma livre de pressões diretas ou mesmo indiretas", afirmou.

Souza ainda disse que a 'simples presença dos pais de vítima fatal é capaz de ocasionar comoção, abalos de espírito ou comprometimento nas isenções de declarações'.

"A título de esclarecimento, nada obsta que, findo os trabalhos da Comissão, e após a deliberação da Procuradoria da USP - destinatária do nosso trabalho -, eles requeiram cópias da apuração lá", afirmou, por e-mail, no dia 17.

A data dos próximos testemunhos é segunda-feira, 27. Os advogados Euro Bento Maciel Filho e Gabriel Huberman Tyles, que defendem os pais de Filipe, afirmam que as razões apresentadas 'não justificam o indeferimento'.

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"Afinal, da mesma forma que, de um lado, a USP tem pleno e total direito de, internamente, apurar o ocorrido, é evidente que, de outro, os pais do referido aluno também precisam saber como tudo ocorreu, o que deveria, naturalmente, conferir-lhes acesso livre a todos os atos da sindicância."

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"Ao cabo de contas, não se pode presumir que as investigações serão obstaculizadas justamente pelos maiores interessados, que são os pais", afirmam.

Os defensores ainda dizem que 'chega a ser desumano vedar-lhes o acesso à audiência, ademais, é bom dizer que a decisão adotada pela Comissão de Sindicância se mostra contrária à transparência e à publicidade, que deveriam ser a regra em casos que tais'.

"Ademais, além de transparência e publicidade, era de rigor aguardar que a USP permitisse o exercício do contraditório, ou seja, que fosse dada voz aos pais ou seus advogados para que também fizessem perguntas às testemunhas que serão ouvidas, tudo para assim conferir legitimidade à conclusão porventura alcançada pela Comissão Sindicante", contestam.

Os advogados afirmam que vão postular a presença nas audiências da comissão sindicante, e também de elaborar perguntas às testemunhas. "De toda forma, independentemente daquilo que venha a ser respondido ao nosso pedido, fato é que o indeferimento do pleito deduzido pelos pais do FILIPE revela frieza e, além disso, descaso".

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COM A PALAVRA, O PROFESSOR LUCIANO ANDERSON DE SOUZA

A reportagem entrou em contato com o professor, por meio de seus e-mails e telefones na USP e em seu escritório de advocacia. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, A USP

Segundo disposição da Lei nº 10.177/98, os procedimentos apuratórios são sigilosos. Dessa forma, o presidente da Comissão somente pode se manifestar publicamente após a conclusão dos trabalhos.

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