No último sábado, perdemos uma colega de profissão, a perita criminal Aline Campos Harisis. Prestes a fazer 32 anos, Aline engrossou as trágicas estatísticas de feminicídio no Brasil: foi morta a tiros pelo ex-companheiro, o cabo da Polícia Militar Klayton Balanco dos Santos, de 33 anos, que se suicidou em seguida.
A tragédia aconteceu no hall do prédio onde Aline morava, na cidade de Atibaia, no interior de São Paulo. Além dos pais, ela deixa uma filha de 3 anos, que dormia no momento crime.
A perita criminal atuava no Instituto de Criminalística de Bragança Paulista e seu assassinato deixou consternados os seus colegas de trabalho. O motivo do crime que vitimou Aline pode ser o mesmo que provocou a morte de mais de 1,3 mil mulheres no Brasil em 2019: o machismo.
Parentes e amigos de Aline relataram à polícia e à imprensa local que Klayton não aceitava o término da relação. Na manhã de sábado, ele foi ao prédio onde ela morava e houve uma discussão. Após atirar na ex-companheira, ele tirou a própria vida.
Infelizmente, o caso de Aline não é único. E nem será o último. Mas precisamos agir de forma contundente para que cada vez menos tragédias como essa e outras tantas ocorram. Precisamos debater o assunto e mudar a cultura enraizada na nossa sociedade que ainda trata a mulher como propriedade do homem, sem direito de escolha e como um ser inferior, subserviente.
É dever de todos nós contribuirmos de forma ativa para que os casos de violência contra a mulher e a sua manifestação extrema, o feminicídio, recuem. Todos temos mães, irmãs, filhas, companheiras, sobrinhas, amigas e familiares que merecem e devem ser tratadas com respeito, dignidade e igualdade, como preconiza a nossa Constituição Federal.
Como pais, irmãos, filhos e amigos, temos o dever de educar homens e mulheres para serem justos, humanos e para reconhecerem a igualdade e o respeito entre os gêneros. Educação é o primeiro passo para mudar uma cultura que mata, mutila e machuca mulheres a cada minuto no Brasil e ela se inicia na família, que é a base celular da sociedade.
Como cidadãos, temos o dever de eleger políticos comprometidos com a sociedade e de cobrar políticas públicas eficazes que combatam essa e outras formas de violência doméstica. E como servidores da segurança pública, temos papel de protagonistas na busca por Justiça a este tipo de crime.
Espero que a morte trágica e prematura de Aline não fique relegada a estatísticas, mas que sirva como combustível para a luta por um Brasil mais seguro para todas as mulheres.
*Eduardo Becker, presidente do Sindicato dos Peritos Criminais do Estado de São Paulo, é graduado em Ciências Biológicas e Segurança da Informação, tem mestrado pelo Departamento de Genética Médica da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, na área de Biomedicina. Já trabalhou na identificação humana por DNA e é especialista em crimes cibernéticos