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Um degrau social chamado bilinguismo

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Por Maria Cláudia Amaro
Atualização:
Maria Cláudia Amaro. FOTO: DIVULGAÇÃO Foto: Estadão

Quando, em 1809, D. João VI fugiu de Portugal rumo ao Brasil trazendo consigo o desafio de aprender a língua inglesa, certamente ele não imaginava que os benefícios de falar dois idiomas poderiam ser tão integrais e duradouros. Isso porque as vantagens de ser bilíngue não se restringem à seara linguística: dominar dois idiomas gera benefícios também nos campos cognitivo, social e profissional. Ser bilíngue significa desenvolver inteligência e capacidade de resolver problemas de maneira criativa, ou seja, tudo o que as empresas esperam de um colaborador atualmente.

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Vivemos na era da informação, que circula cada vez mais rápido por conta da transformação digital que ocorre em todas as esferas. Todos somos extremamente exigidos ao longo do nosso dia e, sem dúvidas, somos obrigados a pensar e tomar decisões de maneira muito mais ágil do que há dez anos. Nossa atividade mental é muito mais intensa do que a dos nossos pais quando tinham a nossa idade, e muito maior ainda se traçarmos uma comparação com nossos avós. Dentro deste contexto, trabalhar a atividade cerebral é fundamental nos dias de hoje, já que a melhora cognitiva gera oportunidades e coloca pessoas à frente no mercado de trabalho. Uma das formas de fazer isso é aprender desde cedo um novo idioma.

Mas por que ser bilíngue faz tanta diferença? De que forma o ensino bilíngue se traduz em benefícios?

Primeiro, é preciso entender que o cérebro é como um músculo: quanto mais estimulado, mais forte ele fica. Naturalmente, os bilíngues, por falarem duas línguas, exercitam mais seu cérebro e são capazes de fazer mais sinapses. Logo, podemos concluir que o bilinguismo potencializa a inteligência e garante o melhor desempenho das atividades cerebrais, sobretudo das funções executivas - aquelas que funcionam como maestro do cérebro. Raciocínio, lógica, estratégia, tomadas de decisões e ações permanentes de controle mental são exemplos destas funções.

Um estudo realizado pelo Instituto de Ciências do Cérebro e Aprendizagem da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, apontou que bebês criados em famílias bilíngues têm maior capacidade de prolongar suas habilidades de aprendizagem linguísticas em comparação com as demais crianças. O trabalho é o primeiro a relacionar atividades cerebrais com exposição a idiomas e fala na infância. Outro achado da pesquisa é que o vocabulário das crianças bilíngues foi associado à força da atividade cerebral usada para discriminar sons e palavras mais cedo.

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Seja em casa ou utilizando um método na escola, o simples aprendizado de uma segunda língua desenvolve a capacidade cerebral de armazenamento de informação, Afinal, quantas palavras e regras gramaticais somos obrigados a memorizar? Este é um exercício com muito valor diante do volume de informações com o qual lidamos todos os dias.

E não é apenas a memória mais desenvolvida que chama a atenção para o desempenho do indivíduo bilíngue. Estudos apontam para o fato de que eles conseguem processar ao mesmo tempo, informações diferentes. É como se, enquanto separam o conteúdo para resolução de algum problema, conseguem manter viva no canto do cérebro outra informação. Esta retenção favorece as funções executivas de prestar atenção e avaliar a língua, simultaneamente.

O mercado de trabalho atual exige um novo perfil de profissional: aquele que está em constante mutação. Aquele que pode ser multitarefas, com maior adaptabilidade ao inesperado, que seja mais atento e demonstre maior capacidade de compreensão. Sendo assim, o bilinguismo representa um degrau social acima, fazendo diferença em processos seletivos não apenas pelo uso do idioma em si, mas por uma série de comportamentos que já são esperados do profissional bilíngue.  Por transitar em diferentes mundos, a criança com esta habilidade torna-se mais apta a compreender a cultura alheia e naturalmente desenvolve uma visão multifacetada do seu entorno.

O cérebro é mesmo fascinante e reflete a habilidade do ser humano em elaborar pensamento crítico e flexível. Portanto, quanto mais crianças tiverem acesso ao sistema bilíngue de ensino, mais preparada vai estar nossa força de trabalho para assumir desafios e desenvolver reflexões relevantes em todos os contextos. É disso que precisamos.

*Maria Cláudia Amaro, fundadora da Rhyzos Educação

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