Eu tinha um amigo chamado Bruno.
O Bruno sempre foi um cara acima da média. Notas muito altas sem muito empenho.
Mulheres doidas por ele, sem que ele penteasse o cabelo.
O Bruno tinha muitos amigos porque era sempre leve e carismático.
O Bruno era o xodó dos professores da escola e da faculdade porque sempre foi um aluno educado e gentil ao questionar o que lhe ensinavam.
O Bruno era o neto preferido dos avós, porque sempre foi o mais gentil nos almoços de domingo e era o único que assistia a novela junto com a avó e Animal Planet junto com o avô.
O Bruno era o primo que todos queriam por perto, porque era ele quem estava sempre pronto para qualquer rolê e estava sempre preparado para qualquer situação enrascada.
O Bruno sempre foi na dele. Calmo. Introspectivo. Porém muito questionador.
O Bruno não entendia a maldade. Não aceitava aquilo que acreditava ser injusto. E definitivamente não encontrava seu lugar no mundo mesmo trilhando um caminho de sucesso em uma carreira promissora.
O Bruno saiu de casa aos 16 anos para cursar uma das universidades mais renomadas do país. Fez intercâmbios universitários em países como Alemanha e Estados Unidos.
O Bruno era exemplar. Agradável. Adorável. Educado.
Todo mundo sabia quem o Bruno era.
Só que esquecemos de perceber que o seu sorriso de menino foi sumindo.
Nós, que estávamos sempre contando com a sua palavra de consolo e seu conselho assertivo, esquecemos de perguntar como é que ele estava, como era ser bom demais o tempo todo e se ele conseguia dar conta de ser assim tão bom demais, tão acima da média.
A depressão de Bruno tomou conta silenciosamente e nenhum de nós que o amávamos tanto percebemos.
O Bruno foi tomado por um desespero interior abafado.
Nunca saberemos o que o levou a tomar aquela decisão. Ele voou pela mesma janela pela qual apreciávamos o pôr do sol.
O Bruno cortou meu coração com a decisão de pôr fim à solidão que não compartilhou com nenhum de nós.
Bruno era meu amigo. Bruno era filho da Maria e do Armando. Bruno era namorado da Amanda. Bruno era amigo do Pedro, do João, do Eric, do Henrique, da Fernanda, da Pri, da Camila, da Laura. Bruno era o chefe mais legal que a Aline tinha conhecido e ela tinha 24 anos a mais que ele. Bruno era o colega de turma mais gente boa que o Ricardo tinha tido. Bruno era irmão da Mari, minha melhor amiga.
Hoje a Mari postou na sua página: #setembroamarelo seja solidário. Nós nunca sabemos o que cada um enfrenta.
*Izabella de Macedo é mediadora de conflitos e autora do livro Mulheres Normais. É graduada em Letras e advogada com mestrado em Educação.