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Tucanos na mira de artilharia pesada

A prisão do ex-governador do Paraná Beto Richa, nesta terça, 19, na Operação Quadro Negro, reforça suspeitas da Polícia, do Ministério Público e da Justiça sobre políticos do PSDB

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Foto do author Julia Affonso
Foto do author Luiz Vassallo
Por Julia Affonso e Luiz Vassallo
Atualização:

Beto Richa e Eduardo Azeredo. Fotos: Estadão Foto: Estadão

A prisão do ex-governador do Paraná Beto Richa, nesta terça, 19, na Operação Quadro Negro, por suspeita de ligação com desvios de R$ 22 milhões destinados à construção de escolas públicas, reforça a suspeita da Polícia, do Ministério Público e da Justiça sobre políticos do PSDB.

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Tucanos que ocuparam cargos importantes e estratégicos no Legislativo e no Executivo ao longo dos últimos anos foram presos ou tornaram-se alvo de investigações como a Lava Jato.

A eles os investigadores atribuem corrupção, fraudes, lavagem de dinheiro.

Alguns casos estão em fase inicial de investigação e a Procuradoria ainda nem apresentou denúncia. Nestes casos, o que há contra os políticos ainda não passam de suspeitas. Em outros, as ações estão em estágio avançado, mas não há sentença judicial.

É a terceira vez que Richa acaba preso no intervalo de um ano. Outro tucano aprisionado, também ex-governador, é Eduardo Azeredo, de Minas, que já pegou 20 anos e um mês de reclusão no processo do Mensalão tucano.

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Os investigadores espreitam o deputado Aécio Neves, o ex-governador Marconi Perillo, o ex-senador Aloysio Nunes, o ex-governador Teotônio Vilela, o ex-governador Geraldo Alckmin e outros antigos expoentes do partido. Todos citados em apurações.

Beto Richa

Campanha de Beto Richa é investigada no STJ. Foto: Pedro Ribas/ANPr

O ex-governador do Paraná já foi preso três vezes no último ano. Beto Richa foi capturado pela Operação Radiopatrulha, que apura desvios no Programa Patrulha Rural - contratos de manutenção de estradas rurais -, pela Operação Lava Jato por corrupção, lavagem de dinheiro e associação criminosa na concessão de rodovias federais no Estado do Paraná que fazem parte do 'Anel da Integração', e pela Operação Quadro Negro nesta terça-feira, 19, por desvios de R$ 22 milhões de obras de escolas estaduais.

Aécio Neves

O deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG). Foto: Dida Sampaio/Estadão

O deputado federal é réu em ação no Supremo Tribunal Federal desde abril de 2018 por supostamente tentar impedir as investigações da Operação Lava Jato. O tucano é acusado por obstrução da Justiça e corrupção. Segundo a Procuradoria-geral da República, o ex-senador teria pedido R$ 2 milhões ao empresário Joesley Batista. Em fevereiro deste ano, o ministro Marco Aurélio enviou para a primeira instância da Justiça um inquérito que investiga Aécio no período em que ele era senador. A investigação mira a relação mantida entre Aécio e o grupo J&F, mirando em supostos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

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Marconi Perillo

Marconi Perillo. Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

A Polícia Federal indiciou o ex-governador de Goiás em outubro do ano passado por associação criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva no âmbito da Operação Cash Delivery, que mira suposto repasse de R$ 10 milhões da Odebrecht - R$ 2 milhões na eleição de 2010 e R$ 8 milhões para a campanha de 2014. O tucano chegou a ser preso em 11 de outubro, mas foi liberado por habeas corpus junto ao Tribunal Regional Federal da 1.ª Região.

Aloysio Nunes Ferreira

Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP). Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

O ex-ministro de Relações Exteriores do Governo Temer foi alvo de buscas da Operação Lava Jato em fevereiro. A investigação apura se Aloysio seria 'beneficiário final' de um cartão com crédito de 10 mil euros abastecido com valores 'provenientes da Odebrecht'. O cartão teria sido emitido, em 2007, por contas na Suíça do ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza - apontado pela investigação como operador do PSDB e preso. Do início de janeiro até 19 de fevereiro, Aloysio foi presidente da Investe São Paulo do governo João Doria. Após virar alvo da Lava Jato, Aloysio pediu demissão.

Eduardo Azeredo

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Eduardo Azeredo. Foto: Dida Sampaio/ESTADÃO

O ex-governador de Minas foi condenado a 20 anos e um mês por peculato e lavagem de dinheiro no processo do Mensalão tucano. Azeredo está preso em cela especial no Corpo de Bombeiros de Belo Horizonte.

O Mensalão tucano, conforme denúncia do Ministério Público em 2007, consistiu em desvio de recursos de estatais mineiras, como a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) e o, hoje extinto, Banco do Estado de Minas Gerais (Bemge), para a campanha de Azeredo pela reeleição em 1998, quando foi derrotado pelo ex-presidente Itamar Franco, à época no PMDB. Os desvios em benefício do tucano chegaram a R$ 3 milhões, segundo a acusação.

Geraldo Alckmin

 Foto: FELIPE RAU/ESTADÃO

O ex-governador de São Paulo é alvo de um inquérito que corre na Justiça Eleitoral. A investigação que mira um suposto repasse de R$ 10,3 milhões da Odebrecht chegou à Procuradoria Eleitoral em abril do ano passado. Os delatores da Odebrecht Benedicto Barbosa Junior, o 'BJ', Carlos Armando Paschoal, o 'CAP', e Arnaldo Cumplido citaram suposto repasse de recursos para a campanha de Alckmin a título de 'contribuição eleitoral'. As doações não contabilizadas teriam contado com a participação de Adhemar Cesar Ribeiro, cunhado de Alckmin, também investigado no inquérito.

Em março deste ano, o promotor de Justiça Ricardo Manuel Castro moveu ação de improbidade administrativa contra o ex-governador por suposto desvio de R$ 3 bilhões do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) para cobrir déficit financeiro do sistema previdenciário estadual (SPPrev), destinado a servidores do Estado, em 2018.

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José Serra

 

Em fevereiro, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal determinou, por unanimidade, a remessa de um inquérito que investiga o senador para a Justiça Eleitoral em São Paulo. O caso investiga o suposto envolvimento do tucano em irregularidades nas obras do Rodoanel quando Serra era governador.

Teotônio Vilela

Teotonio Vilela Filho. FOTO JOSE PATRICIO/ESTADÃO Foto: Estadão

O ex-governador de Alagoas Teotonio Vilela Filho se tornou réu em dezembro de 2017 na Operação Caribdis, da Polícia Federal, que mira supostas propinas de R$ 2,1 milhões da Odebrecht e superfaturamento nas obras do Canal do Sertão. Nas planilhas da empreiteira, ele é apelidado de 'Bobão'. À época da ação, em 2017, o Ministério Público Federal chegou a pedir a prisão do tucano, mas a Justiça rejeitou.

COM A PALAVRA, BETO RICHA

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"O ex-governador Carlos Alberto Richa nunca cometeu qualquer irregularidade e sempre esteve a disposição da justiça para provar sua inocência".

COM A PALAVRA, GERALDO ALCKMIN

"O estatuto do PSDB prevê atualmente que seus filiados estarão sujeitos à medida disciplinar de expulsão, mediante processo sumário, após condenação judicial transitada em julgado.

Como forma de assegurar maior disciplina interna, fidelidade e respeito à ética e às diretrizes programáticas do partido, sua comissão executiva nacional submeterá à aprovação da convenção nacional, no próximo mês de maio, proposta de reforma do estatuto e de adoção de código de ética".

COM A PALAVRA, EDUARDO AZEREDO

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A reportagem não localizou a defesa de Azeredo. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, TEOTONIO VILELA

NOTA

O ex-governador Teotonio Vilela Filho tem consciência de que não praticou nenhum crime e que a verdade será restabelecida.

Em coerência com a sua história de vida pessoal e política, o ex-governador assegura ser o maior interessado na elucidação dessas investigações e que continuará à disposição das autoridades, contribuindo no que for preciso.

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Assessoria de Comunicação do ex-governador Teotonio Vilela

COM A PALAVRA, JOSE SERRA

A reportagem entrou em contato com a assessoria. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, O ADVOGADO ANTONIO CARLOS DE ALMEIDA CASTRO, KAKAY, QUE DEFENDE MARCONI PERILLO

Ele deve ir imediatamente para a Justiça Eleitoral depois da decisão do STF porque os próprios delatores em momento algum falaram que existia alguma contrapartida em relação ao Marconi. Eles falam de doações que nós vamos questionar durante a investigação, mas não falam de nenhuma contrapartida. Então, me parece um caso clássico de exatamente seguir a orientação do Supremo. Vamos esperar que o processo vá para a Justiça Eleitoral para que possamos fazer a instrução e a defesa.

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COM A PALAVRA, AECIO NEVES

Nota da defesa do deputado Aécio Neves O deputado federal Aécio Neves jamais cometeu qualquer ato ilícito, o que ficará provado na Justiça ao fim das apurações.

COM A PALAVRA, ALOYSIO NUNES

No dia da deflagração da Ad Infinitum, terça, 19, o ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira disse que ainda 'não teve acesso às informações' da investigação que faz parte da fase 60 da Lava Jato.

Segundo o tucano, o delegado da Polícia Federal que conduziu as buscas em sua residência nesta terça, 19, 'foi muito cortês', mas não revelou a ele os motivos da diligência.

Aloysio negou ter recebido cartão com crédito de 10 mil euros da conta do operador do PSDB Paulo Vieira de Souza, preso na Ad Infinitum.

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