Julia Affonso, Gonçalo Júnior e Fausto Macedo
06 de abril de 2017 | 15h39
Alvos da Operação Águas Claras, o presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, Coaracy Nunes, e o secretário-geral executivo da entidade, Ricardo de Moura, assinam a cartilha de governança, conduta e ética do órgão. Coaracy foi preso na manhã desta quinta-feira, 6, pela Polícia Federal. Moura está foragido.
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Os dirigentes do alto escalão da CBDA são suspeitos de envolvimento em desvios milionários de verbas federais.
O documento intitulado ‘Governança Corporativa 2014-2017’ está anexado ao site da CBDA. A cartilha tem 15 páginas. No código de conduta, o primeiro a falar é o presidente que a PF prendeu.
“As entidades envolvidas com o esporte e seus gestores necessitam praticar a administração racional de seus recursos com orçamentos compatíveis com as necessidades e a realidade de captação”, afirma Coaracy em um trecho do documento.
“Descreve ainda, o presente documento, as premissas para o aprimoramento das práticas de Governança Corporativa, o organograma, o plano estratégico e objetivo, governança, desenvolvimento, futuro dos esportes aquáticos e a transparência (accountability) da CBDA.”
O discurso de Coaracy é seguido pelas palavras de Ricardo de Moura.
“O presente material descreve os principais conceitos, princípios e procedimentos adotados pela CBDA, que demonstram como praticamos Governança Corporativa”, escreve o secretário-geral executivo. “Acreditamos que adotando boas práticas de governança corporativa e fazendo da transparência na gestão e na prestação de contas, ética em nossos procedimentos e a responsabilidade de nossos atos os pilares da administração da entidade visamos adotar uma administração mais justa, que engloba os interesses das diversas partes desse complexo sistema: patrocinadores, atletas, dirigentes, federações, parceiros, empregados, fornecedores, credores, estado e sociedade.”
O site da CBDA deixa em destaque uma frase de Coaracy. “Ser transparente faz com que nossas parcerias sejam tão duradouras e tragam tantas conquistas para o esporte brasileiro.”
Na mesma página, uma chamada para o ‘Código de Ética’ da gestão Coaracy.
“A aplicação deste Código é de extrema importância para o desenvolvimento dos atletas e o destaque da CBDA no cenário esportivo global. Expressa procedimentos éticos, morais e técnicos que regem o esporte aquático, uma das modalidades mais populares no âmbito internacional e com forte aproximação do público brasileiro”, afirma a CBDA.
“Mais do que uma orientação, o Código de Ética é inspiração para cada atleta ligado a CBDA, que com dedicação e empenho, levam o nome do país para o mundo, sempre respeitando a estrutura oficial de sua modalidade aquática, congregando pessoas físicas e jurídicas e formando suas instâncias organizacionais: CBDA, Federações Estaduais e Clubes.”
Investigação. Outros dois dirigentes da CBDA também foram presos nesta quinta – Ricardo Cabral (Coordenadoria Técnica de Polo Aquático) e Sergio Ribeiro Lins de Alvarenga (Diretor Financeiro).
As investigações apuram o destino de cerca de R$ 40 milhões repassados à CBDA, que não teriam sido devidamente aplicados nos esportes aquáticos. Entre as fraudes, estão licitações para aquisição de equipamentos de natação no valor aproximado de R$ 1,5 milhão. Há indícios de que a empresa vencedora seja apenas de fachada, pois em seu endereço na capital paulista funciona uma Pet Shop.
Também é alvo da Águas Claras a contratação, com suspeitas de irregularidade, de agência de turismo que venderia passagens aéreas e hospedagens para os atletas com preços superfaturados. Essas contratações irregulares eram realizadas com verbas federais obtidas por meio de convênios com o Ministério dos Esportes.
A operação apura ainda a suposta apropriação por parte dos dirigentes da CBDA de premiação de US$ 50 mil que deveriam ter sido repassados a atletas. Além disso, estima-se que cerca de R$ 5 milhões, provenientes do Ministério dos Esportes, deixaram de ser aplicados na modalidade polo aquático. Embora a CBDA tenha recebido esta verba federal para aplicação nos torneios nacionais e internacionais, seus dirigentes não autorizaram a ida da seleção de Polo Aquático Júnior, campeã sul-americana e panamericana, para o Mundial do Cazaquistão, sob o argumento da falta de recursos financeiros.
Na esfera cível, o Ministério Público Federal já levou à Justiça duas ações de improbidade administrativa contra o presidente da Confederação, Coaracy Gentil Monteiro Nunes Filho, outros dirigentes e empresários pelas fraudes em licitações para a aquisição de itens esportivos.
A Operação Águas Claras está sendo conduzida pela Polícia Federal e pelos procuradores da República do Núcleo de Combate à Corrupção em São Paulo Thaméa Danelon, José Roberto Pimenta Oliveira e Anamara Osório Silva, com a participação da Controladoria-Geral da União.
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